Segundo Christine Lambrecht, novos fornecimentos dos arsenais nacionais comprometeriam defesa da Alemanha, portanto é hora de indústria armamentista intervir. Declaração contrasta com promessa de chefe de governo Scholz.A ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, declarou não ver praticamente nenhuma possibilidade de fornecer à Ucrânia mais armas e equipamentos diretamente dos arsenais militares da Alemanha, como apoio contra a guerra de agressão iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro.
Em entrevista ao jornal Augsburger Allgemeine, publicada neste sábado (09/04), a política social-democrata explicou que, a fim de manter a capacidade de defesa nacional, fornecimentos futuros para o país invadido teriam que partir da própria indústria armamentista.
"Para esse fim, estamos nos coordenando continuamente com a Ucrânia. No caso das entregas a partir dos estoques da Bundeswehr [Forças Armadas alemãs], porém, tenho que ser honesta: nós atingimos um limite."
Esse posicionamento da ministra da Defesa vem num momento de aumento da pressão sobre Berlim para que apoie materialmente o país sob invasão. Recentemente, Kiev solicitou a transferência de 100 tanques blindados do tipo, além de outros armamentos: "Precisamos de armas pesadas. O veículo Marder de combate seria uma alternativa", comentou o enviado da Ucrânia para a Alemanha Andriy Melnyk ao portal de notícias The Pioneer.
Lambrecht reiterou, ainda, que não revelará detalhes relativos aos fornecimentos: "Há bons motivos para termos mantido confidencial justamente essa informação. Fizemos isso em resposta à solicitação explícita da Ucrânia. É preciso ter em mente: do momento em que as entregas fossem divulgadas em detalhe, a Rússia também disporia dessa informação. E isso, por si, teria implicações estratégicas militares."
Promessas de Scholz em Londres
A declaração de Lambrecht contrasta com as promessas da véspera do chefe de governo alemão, Olaf Scholz, em Londres. Em coletiva de imprensa ele e seu homólogo britânico, Boris Johnson, prometeram novas entregas de armas para a Ucrânia.
Os líderes das duas nações da Otan manifestaram unidade demonstrativa, frisando que não pretendem se transformar em partidos de guerra, mas querem ajudar o país invadido a se defender.
Segundo o primeiro-ministro Johnson, o Reino Unido se dispõe a fornecer "tudo o que tenha caráter defensivo", citando mísseis antiaéreos Starstreak, 800 mísseis antitanques e munição de precisão capaz de permanecer no ar até ser direcionada contra seu alvo.
Scholz prometeu o fornecimento "continuado" de armas com o fim de reforçar a luta de defesa contra a invasão russa. Por outro lado, reagiu com reticência ao pedido de Kiev por tanques blindados Marder dos arsenais alemães.
"Nós nos esforçamos para fornecer armamentos que sejam úteis e possam ser bem empregados. E os êxitos alcançados pelo exército ucraniano mostram que as armas fornecidas são especialmente eficazes", observou. Assim como Johnson, porém, ele parte do princípio que "só com base em grande expertise" se pode determinar que equipamento seja mais adequado.
Aposta em sanções "altamente eficazes"
Referindo-se ao recente ataque com mísseis à estação ferroviária de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, o chanceler federal alemão disse que a matança de civis é um crime de guerra, cuja "responsabilidade cabe ao presidente russo".
Ele renovou o apelo à Rússia por corredores humanitários para evacuação das zonas de conflito no país sob invasão, e instou Vladimir Putin a decretar um cessar-fogo: "A guerra tem que parar, e já."
Scholz disse considerar "altamente eficazes" as sanções ocidentais contra a Rússia, em reação a sua guerra ofensiva contra a Ucrânia: com o congelamento de bens e capital, atinge-se também a "panela do poder" em Moscou, assegurou.
O chefe de governo comentou que, com a ofensiva militar contra a Ucrânia, Putin teria feito um péssimo cálculo, e o acusou de colocar em jogo o futuro da Rússia, para quem as sanções ocidentais terão "custos dramáticos". Ainda em 2022 a Alemanha substituirá as importações de petróleo russo, reforçou.
Em relação às controversas importações de gás da Rússia, Scholz defendeu a posição alemã de não suspender imediatamente o abastecimento. Trata-se de uma dependência que se está trabalhando duro para cortar. Mesmo após um fim da guerra, a Alemanha pretende se libertar das importações russas, complementou o político social-democrata.
Trata-se de sua primeira passagem pelo Reino Unido, quatro meses após ter assumido a chefia de governo alemã. Em face à guerra iniciada por Moscou em 24 de fevereiro, temas como o processo pós-Brexit e o protocolo da Irlanda do Norte ficaram relegados a segundo plano no encontro com Johnson. Esta foi a sexta visita oficial de Olaf Scholz a um país fora da União Europeia: antes, ele esteve nos Estados Unidos, Ucrânia, Rússia, Israel e Turquia.
av (Reuters,AFP,DPA)
REDES SOCIAIS