A pesquisa se deu dessa forma: primeiro, pacientes foram infectados com a ômicron original, a BA.1. Em seguida, suas amostras de sangue foram intencionalmente infectadas com as subvariantes BA.4 e BA.5, que são mais recentes.
Os resultados do estudo estão na fase de "pré-impressão", o que significa que eles ainda precisam ser revisados por pares. Eles também foram baseados em apenas 39 amostras – 24 de pessoas não vacinadas e 15 de pessoas vacinadas com os imunizantes BioNTech-Pfizer ou Johnson & Johnson. Elas haviam contraído covid-19 com a ômicron original em novembro e dezembro de 2021.
Mas, ainda que o estudo seja preliminar, o pesquisador que liderou os trabalhos, Alex Sigal, professor de virologia e chefe do Sigal Lab, avalia que podemos estar vendo o início de uma nova onda de infecções.
A DW conversou com Sigal, que chefiou a nova pesquisa em um laboratório de biossegurança em Durban, na África do Sul.
DW: Como podemos estar vendo uma nova onda? Essas variantes são todas sublinhagens da ômicron e a maioria das pessoas já teve ômicron.
Alex Sigal: Nós também não esperávamos isso. Acreditávamos que a próxima subvariante seria algo completamente diferente. Mas o vírus continua nos fazendo de bobos com novos truques.
Há um par de mutações, e uma reversão para além da sequência ancestral na proteína spike. E aparentemente isso é suficiente para tornar essas subvariantes bem diferentes da ômicron original.
A boa notícia é que elas não são tão diferentes a ponto de alguém que já teve a infecção pela ômicron BA.1 não apresentar nenhum grau de imunidade, seja vacinado ou não. Mas a imunidade é muito maior quando se está vacinado.
Essas novas sublinhagens estão se tornando ou já são dominantes na África do Sul. Há algo que possa sugerir que a gravidade das infecções aumentou com elas?
Elas têm esta mutação, L452R, que também está na variante delta. E isso demonstra que o vírus infecta de certa forma a nível celular. Talvez isso signifique um aumento na gravidade.
Por outro lado, não vemos nenhum sinal disso neste momento. E eu acho que a razão para isso é a imunidade preexistente. A onda ômicron aqui [na África do Sul], de BA.1, foi grande. E há outras formas de imunidade que compensam quaisquer mudanças que possam tornar o vírus mais severo. Portanto, eu pessoalmente não espero que esta seja uma onda muito severa aqui na África do Sul.
Mas lugares que não têm muita imunidade e que não contam com altos níveis de vacinação podem ter mais problemas. Mas isso ainda é uma incógnita. Acho que, o que quer que aconteça com o vírus, nossa imunidade também está evoluindo e se tornando melhor.
Sabemos que, alguns meses após a infecção, a imunidade começa a diminuir. É possível que a BA.4 e a BA.5 estejam em ascensão porque nossa imunidade está diminuindo − e não por elas serem mais eficientes em escapar de nossas defesas imunológicas?
Não. Elas estão escapando da imunidade anterior. Não há dúvidas quanto a isso. Sim, a imunidade diminui com o tempo. Mas o fato é que essas subvariantes passaram por essas mutações e são capazes de driblar a imunidade anterior. Os anticorpos produzidos pela ômicron original, a BA.1, não estão reconhecendo as novas subvariantes. A ômicron original, em si, também não é muito imunogênica. Ela não suscita uma resposta imunológica muito forte. Portanto, a reinfecção pode acontecer mais facilmente.
Mais uma vez, como há seis meses, você se encontra no epicentro do que parece ser mais uma nova onda de covid-19. Qual é a sua mensagem para as pessoas ao redor do mundo?
Antes de mais nada, é claro que espero que ela não vá a outros lugares, mas isso pode acontecer. A variante beta (B.1.351) causou uma onda de infecção muito grande por aqui, mas isso não aconteceu em outros lugares. Por outro lado, a subvariante ômicron BA.1 começou aqui e foi para todos os lugares. Portanto, há uma boa chance de que isso aconteça.
Minha mensagem é, basicamente, que não se deve ficar muito tenso com isso. Mas, por outro lado, não devemos ser muito complacentes. Precisamos manter nossa imunidade, e a melhor maneira de fazer isso é por meio da vacinação. Mesmo que a vacinação não o proteja de uma infecção, ela protege você tanto do que o infectou como do que pode estar por vir. Portanto, definitivamente algo que vale a pena fazer é ser vacinado. Essa é a nossa melhor ferramenta, a menos que queiramos voltar aos lockdowns. Acho que ninguém mais quer isso.
Penso que a longo prazo haverá melhores vacinas de reforço. Já temos alguns dados de que, se você foi infectado com a variante beta e depois foi vacinado, você realmente tem uma imunidade mais ampla. Você pode enfrentar melhor outras variantes. E agora já estão sendo testadas vacinas de reforço contra a variante beta. Portanto, acho que com o tempo vamos melhorar o tratamento contra o vírus. E as coisas vão ser melhores no sentido de que poderemos viver melhor com ele. Mas talvez não devamos esperar nos livrar dele.
Alex Sigal é chefe do Laboratório Sigal, um projeto conjunto do Instituto de Pesquisa da Saúde da África em Durban, África do Sul, e do Instituto Max Planck de Biologia Infecciosa em Berlim, Alemanha. Ele também é professor na Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban.
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