Um dos maiores protestos ocorreu na capital americana, onde centenas de manifestantes se reuniram durante horas em frente à Suprema Corte. Mulheres entoam mensagens como "o meu corpo, a minha escolha" e "abortar o tribunal!". As cidades de Nova York, Denver, Miami e Houston também foram palco de manifestações.
De acordo com a emissora de televisão CNN, ao mesmo 70 cidades americanas registraram protestos contra a decisão sobre o aborto. Algumas das manifestações foram organizadas por grupos como a Planned Parenthood, a organização que dirige a maior rede de clínicas de saúde reprodutiva nos Estados Unidos, mas outras foram espontâneas e reuniram principalmente mulheres.
Os maiores protestos ocorreram nas principais cidades americanas, como Nova York, onde milhares se reuniram no Washington Square Park, uma praça central que tradicionalmente acolhe comícios e manifestações políticas. Em Los Angeles, os manifestantes bloquearam o trânsito no centro da cidade, enquanto em Filadélfia milhares se reuniram em frente à icónica Câmara Municipal e em Austin houve um protesto frente ao tribunal federal.
Outras centenas foram saíram às ruas em Atlanta, em duas manifestações separadas que se terminaram na sede do governo do estado. A maioria das marchas foi pacífica, embora tenham sido relatados incidentes em Cedar Rapids e Phoenix.
Em Phoenix, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que tinham se reunido em frente à sede do governo do Arizona e bateram nas janelas do edifício, forçando deputados a interromper a sessão. Em Cedar Rapids, duas pessoas foram feridas após serem atropeladas por um carro durante um protesto.
Estados americanos proíbem aborto
A onda de protestos foi desencadeada pela decisão da Suprema Corte, de maioria conservadora, de revogar a histórica decisão Roe versus Wade, de 1973, que reconheceu o direito constitucional ao aborto e o legalizou em todo o país.
Com a decisão, a regulamentação da interrupção da gravidez ficou na mão do Legislativo e os 50 estados americanos têm agora liberdade para decidir se proíbem ou legalizam o procedimento. Vários estados conservadores já proibiram o aborto. Alabama, Arkansas, Kentucky, Louisiana, Missouri, Oklahoma, Dakota do Sul, Utah e Wisconsin tinham anteriormente aprovado leis que proibiam o aborto, que entraram em vigor logo após o anúncio da Suprema Corte.
Estima-se que o acesso ao aborto está ameaçado em metade dos estados do país. Já no Texas e Tennessee foi estabelecido um período de 30 dias para que a proibição entre em vigor.
As legislações sobre a proibição do aborto diferem entre os estados. Em Kentucky, a interrupção da gravidez só será permitida em caso de risco de vida para a mulher. Na Louisiana, profissionais de saúde que realizem o procedimento podem ser condenados a dez anos de prisão, já no Missouri, a 15 anos. Outros estados permitem o aborto até a sexta semana de gestação, período no qual muitas mulheres ainda não descobrirão a gestação.
Tanto em Arizona como no estado vizinho de Texas, as clínicas que efetuam abortos suspenderam as operações, por receio de enfrentar processos criminais. Clínicas em Wisconsin também suspenderam os procedimentos. O Arizona já possuía uma legislação proibindo o procedimento anterior a 1973, que teoricamente pode voltar a ser aplicada.
A Planned Parenthood estima que 26 estados acabarão por proibir os direitos ao aborto numa questão de dias, semanas ou meses.
Empresas prometem ajuda a funcionárias
Estima-se que 22 estados devem manter o direito ao aborto – a maioria no nordeste e na Costa Oeste – e se preparam para atender mulheres vindas de locais onde o procedimento foi proibido. Em Connecticut e Delaware, foi expandida as categorias de profissionais de saúde autorizadas a realizar abortos. A Califórnia destinou 152 milhões de dólares para facilitar o acesso à interrupção da gravidez, e Nova York prometeu 35 milhões de dólares.
Várias empresas americanas anunciaram que vão oferecer às funcionárias o reembolso do custo da viagem para ir a outros estados para realizar o aborto legal. Entre as companhias destacam-se JPMorgan Chase, a Disney, a Netflix e a Meta, que se juntam a outras que haviam anunciado políticas de apoio às trabalhadoras em maio, quando foi divulgado um rascunho que indicava a proibição do procedimento.
Em comunicado, a Disney reconheceu o impacto da medida e disse estar "comprometida" em prestar amplos serviços médicos às suas funcionárias independentemente de onde morem, reembolsando as viagens para a realização do aborto.
A Meta, controladora do Facebook e WhatsApp, disse que também reembolsará funcionárias, mas avalia a melhor forma de adotar essa medida dada as "complexidades jurídicas" do assunto.
Empresas que reembolsarem despesas relacionadas ao aborto podem ser vulneráveis a ações judiciais de grupos antiaborto e de estados liderados por republicanos, podem até sofrer penalidades criminais.
cn (Reuters, Lusa, AFP, ots)
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