Milhares de pessoas costumavam participar das Paradas de Orgulho LGBT+ na avenida Istiklal, principal via de Istambul. Mas, desde 2015, o governo liderado pelo presidente ultraconservador Recep Tayyip Erdogan e pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) vêm usando pressão para impedir a realização do evento. Episódios de violência da polícia contra manifestantes também foram registrados em 2017 e 2021.
Neste domingo, policiais da tropa de choque impediram o acesso à Praça Taksim e bloquearam muitas ruas no bairro de Cihangir para impedir a concentração de pessoas. O transporte público para a região também foi suspenso.
As autoridades locais no distrito de Beyoglu já haviam proibido a realização de eventos da Semana do Orgulho, entre 20 e 26 de junho, apontando que eles poderiam levar a "distúrbios públicos" por conta das "sensibilidades da sociedade" turca. Após um desfile que contou com mais de 100 mil pessoas em Istambul em 2014, as autoridades turcas passaram a proibir o evento ano após ano, alegando oficialmente razões de segurança.
Ainda assim, neste domingo, pequenos grupos de pessoas portando bandeiras com as cores do arco-íris desafiaram às autoridades se reuniram brevemente onde puderam no domingo, entoando slogans antes que a polícia os dispersasse à força.
Mesmo antes do início da manifestação, a polícia invadiu vários bares do bairro Cihangir, ao redor da Praça Taksim, prendendo aleatoriamente pessoas, incluindo jornalistas e ativistas LGBTQIA+.
De acordo com a contagem feita pelos organizadores da marcha, cerca de 200 pessoas foram presas. Por sua vez, a Anistia Internacional pediu no Twitter a "libertação incondicional imediata" dos detidos. A polícia tentou impedir a imprensa de filmar as prisões.
"Eles tentam nos banir, impedir [nossa presença], nos discriminar e até nos matar a cada minuto de nossa existência", disse Diren, 22 anos. "Mas hoje é hora de defender nossos direitos, de gritar que existimos: vocês nunca vão conseguir parar queers”, acrescentou o jovem, usando um termo que designa qualquer forma de altersexualidade e rejeita a definição biológica de gênero.
Bülent Kilic, um fotógrafo da AFP com experiência em zonas de conflito, foi algemado, teve a camisa arrancada e foi levado com outros detidos em um furgão da polícia.
"Apesar de três condenações proferidas pelo Tribunal Constitucional nos últimos três anos, as forças de segurança continuam com a violência e prisões arbitrárias de jornalistas. Infelizmente, a administração se acostumou a ignorar as decisões da Corte ou a lei", denunciou no Twitter um representante da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Erol Onderonglu.
Na sexta-feira, a Comissária Europeia para os Direitos Humanos, Dunja Mijatović, pediu às "autoridades de Istambul que levantem a proibição em vigor contra a Marcha do Orgulho e garantam a segurança dos manifestantes pacíficos". "Os direitos humanos das pessoas LGBTQIA+ na Turquia devem ser protegidos", enfatizou, pedindo "um fim ao estigma [deles]".
A homossexualidade não é proibida na Turquia, um país de maioria islâmica, mas pessoas que não se encaixam em definições tradicionais de gênero ou orientação costumam ser alvos de discriminação oficial por parte do governo. Em 2021, um ministro chegou a classificar as pessoas LGBTQIA+ como "degeneradas" e celebrou publicamente a prisão de estudantes que haviam feito uma instalação artisticas com as cores do arco-íris.
Em 2020, a plataforma Netflix foi obrigada a desistir de produzir uma série na Turquia após ter permissão negada pelas autoridades porque o enredo incluía um personagem gay.
jps (AFP, Reuters)
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