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Lebanese American University de Beirute exige que suas taxas sejam pagas em dólares americanosCobrança das mensalidades em dólar nas universidades dificulta acesso dos mais pobres ao ensino superior no Líbano. Universidades dizem ser a única maneira de sobreviver em meio a uma crise econômica que se agrava.Em 2018, Manar Sleiman mudou-se de Baalbek para Beirute para estudar arquitetura na Universidade Notre Dame, graças a uma bolsa de estudos que cobria 85% de suas despesas. Embora não fosse a instituição mais cara do Líbano, manter-se financeiramente era um desafio.

"Já lutei para pagar as mensalidades e despesas e tive que pernoitar no dormitório da universidade", disse a jovem de 22 anos à DW. Mas a crise econômica que começou no fim de 2019 colocou sua carreira como estudante ainda mais em risco e, combinada com a pandemia de covid-19 e a explosão no porto de Beirute, mudou drasticamente sua vida.

"Minha saúde mental piorou por causa desses eventos. Meus colegas e eu nos sentimos esgotados, não encorajados a buscar educação e não 100% presentes nos cursos. De repente, nos sentimos sem energia e nos cuidamos menos em estudar."

Crise econômica libanesa chega às universidades

Antes da crise econômica, Sleiman pagava 5.600 liras libanesas (3,70 euros ou R$ 20,30) por cada crédito no primeiro semestre na universidade. Hoje ela paga 3,5 milhões de liras libanesas. Para completar seu curso,ela precisa acumular 172 créditos.

Tal aumento de preços no setor de educação não difere muito do que está acontecendo no dia a dia do país. Enquanto a Administração Central de Estatísticas do Líbano informa que a taxa de inflação subiu para 211% em maio de 2022, a maioria dos salários libaneses permanece inalterada, transformando o cotidiano numa luta pela sobrevivência.

Além disso, a economia nacional está passando por um processo de dolarização para alinhar a moeda local ao dólar americano, atualmente cotado em 29 mil liras libanesas.

Para ter uma ideia do aumento dos preços: se antes da crise econômica três litros de óleo de girassol custavam cerca de 5 mil liras libanesas. hoje tem-se que pagar cerca de 300 mil liras libanesas.

Taxas mais baixas, mas em dólar

Com exceção da Notre Dame, todas as 32 universidades do país são instituições privadas. Embora tenham adotado taxas mais baixas para garantir aos alunos o acesso ao ensino superior durante a crise econômica, algumas agora estão pedindo que parte ou a totalidade de suas mensalidades sejam pagas em dólar.

Entre março e maio, a Lebanese American University e a American University of Beirut, as mais bem classificadas, anunciaram que a partir do terceiro trimestre de 2022 só aceitariam pagamentos de mensalidades em dólar americano.

Os meios de comunicação locais informaram que até a Universidade Libanesa, que é pública, cobrará em dólares por mestrados em engenharia especializada.

As universidades justificam que têm que pagar suas próprias despesas em dólar. Portanto, a dolarização seria a única solução para mantê-las em funcionamento, com padrões de qualidade altos. Contudo o aumento das mensalidades e a obrigação de pagá-las em dólar pode deixar centenas de milhares de estudantes fora do ensino superior.

Alunos preocupados com o futuro

Maya Hamadeh, de 19 anos, estudante de jornalismo multimídia da Lebanese American University, passa por uma situação difícil. Apesar de ter uma bolsa de estudos, outras ajudas financeiras e um trabalho freelance para manter seus estudos. pode ser que não consiga pagar as novas taxas dolarizadas.

"Eu moro em Chouf, um distrito no Monte Líbano. Os custos de transporte para minha universidade em Beirute têm aumentado desde que comecei. Dormitórios, restaurantes e mantimentos também estão ficando mais caros. Alguns supermercados e restaurantes têm preços em dólares e não em liras libanesas."

Hamadeh considera a decisão de cobrar as taxas em dólares injusta, pois coloca em risco o futuro de muitos estudantes. Ela mesma está insegura e preocupada com seu futuro na universidade, e busca uma solução.

"Estou procurando patrocinadores e tento pedir à minha universidade que aumente minha ajuda financeira. Se não, não poderei continuar meus estudos. Ou, se continuar estudando, terei uma dívida enorme que minha família não pode pagar."

"Somos como heróis"

Sarah Al Asmar, de 20 anos, estudante do segundo ano de ciência política e assuntos internacionais da mesma universidade, é representante do grêmio estudantil. Ela explica que a crise econômica afetou a maioria dos estudantes porque os pais deles não são pagos em dólares. Mas, mesmo que fossem, muitas vezes não seria suficiente para cobrir contas, alimentos e outras necessidades.

"Eu pago cerca de 20 mil dólares por ano. A dolarização vai ser um desafio para mim. No entanto, a universidade prometeu que nos daria ajuda financeira, e que ninguém teria que deixar a universidade."

Para Teya Abou Zour,de 20 anos, vice-presidente do grêmio estudantil da Lebanese American University, estudar em meio à crise econômica é uma experiência horrível.

"Enfrentamos muitos desafios, porque não podemos evitar o que está acontecendo ao nosso redor. Focar em nossos estudos em meio à pandemia e à crise econômica foi difícil. Mas tivemos dedicação e tentamos criar nosso próprio espaço seguro para estudar, apesar dos altos e baixos."

E completa: "Somos como heróis. Sabemos que a educação é a única coisa que pode ajudar a sair do que está acontecendo."

À beira da desistência

Apesar das vantagens da educação universitária, muitos terão que desistir se não puderem pagar as mensalidades. Sleiman, que também é presidente do Clube Secular da Universidade Notre Dame, em Beirute, e membro da rede política estudantil Mada, conta que perdeu a bolsa de estudos que lhe permitia estudar.

"Não consegui manter a média de notas, porque minha graduação é muito exigente e difícil. O ano passado foi um desafio, porque as mensalidades aumentaram, e a bolsa não foi suficiente para cobrir minhas despesas. Além disso, desde o início da pandemia tivemos aulas por meio de e-learning, então não estivemos no campus."

Em vez de abandonar os estudos, os universitários podem tentar mudar para outras instituições mais acessíveis. No entanto, teme-se que também elas possam em breve exigir o pagamento das taxas em dólares.

Isso deixa os alunos num limbo de incertezas e acrescenta ansiedade às suas vidas – já severamente atingidas por uma crise econômica. "Nada é garantido. Os alunos não sabem para qual universidade mudar. Eles têm muito medo do que será no futuro", queixa-se Zour.