Lula quer aliança entre Brasil, Indonésia e Congo para obter financiamento para proteção de florestas
01/09/2022 08h19
Caso o petista vença as eleições – ele lidera as intenções de voto –, a ideia é que o trio de países, donos da maior área de floresta tropical no mundo, aumente seu poder de barganha perante nações ricas a fim de obter financiamento para a proteção de florestas e regulamentar o mercado de carbono global.
"A proposta é criar uma aliança estratégica para abordar a questão do financiamento na COP do Egito", afirmou Aloizio Mercadante, responsável pelo plano de governo de Lula.
A COP27 será realizada em novembro no país africano. O Partido dos Trabalhadores criou um grupo de trabalho para se preparar para as rodadas de conversa sobre o clima e tem focado especialmente nos detalhes de um mercado global de carbono e em formas de financiar a conservação e o desenvolvimento sustentável em regiões de floresta tropical – de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o PT poderá estar representado no encontro caso Lula seja eleito.
Ainda segundo Mercadante, a aliança planejada poderia eventualmente incluir outras nações com florestas tropicais significativas, como países latino-americanos na fronteira amazônica e em desenvolvimento na África e na Ásia.
Ele disse que a equipe do ex-presidente já fez os primeiros contatos com os governos da Indonésia e do Congo, e que um encontro com um emissário do governo congolês será agendado nas próximas semanas.
Principal negociador do Congo para as mudanças climáticas, Tosi Mpanu-Mpanu disse à Reuters que a proposta, embora não seja nova, faz todo o sentido: "Traria mais peso diante das nações ocidentais dispostas a fornecer recursos para a proteção das florestas."
Em 2012, os três países tiveram conversas preliminares para formar uma aliança e entrar com mais peso em negociações internacionais voltadas à valorização dos recursos florestais, mas a iniciativa acabou minguando por disputas políticas internas do lado indonésio.
As florestas da Amazônia, do Bornéu, localizada em parte na Indonésia, e da bacia do Congo são ameaçadas pela exploração descontrolada de madeira, o que prejudica a biodiversidade e aumenta as emissões de carbono, que por sua vez aceleram as mudanças climáticas.
Segundo Mpanu-Mpanu, o desmatamento tem uma dinâmica diferente nos três países. No Brasil e na Indonésia, está mais ligado a políticas agroindustriais agressivas, tais como criação de gado e produção de óleo de palma, enquanto no Congo é mais associado à pobreza, com práticas agrícolas de corte e queima e demanda por energia.
Contatada pela Reuters, a embaixada da Indonésia em Brasília não se pronunciou.
PT quer financiamento internacional para conservação do meio ambiente
A proposta da campanha lulista contrasta com o governo de Jair Bolsonaro (PL), que tem reagido com hostilidade a esforços estrangeiros de conservação ambiental na Amazônia e paralisou um fundo bilionário de conservação amazônica financiado por Noruega e Alemanha após se desentender com as organizações envolvidas.
Sob Bolsonaro, a proteção ambiental foi afrouxada e o desmatamento disparou, com a exploração ilegal de madeira e ouro na Amazônia, o que rendeu críticas da comunidade internacional.
O PT tem feito sugestões nos últimos meses para reduzir o desmatamento e encorajar uma transição verde na economia por meio de crédito a agricultores, investimento em energia renovável e projetos para criação de empregos e incentivo à conservação do meio ambiente. Mas o partido quer ajuda com o financiamento internacional.
A regulamentação do mercado de carbono global foi uma das medidas discutidas com o economista Jeffrey Sachs, presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), em visita recente à fundação Perseu Abramo, ligada ao partido.
"Proteger a Amazônia e suas florestas requer financiamento global", declarou Sachs à época.
Nesta quarta-feira (31/08), em Manaus, Lula prometeu conservar a Floresta Amazônica por meio do fortalecimento do Ibama e aumento da fiscalização e aplicação das leis, possivelmente com a ajuda de militares, e declarou que o Brasil terá voz nas próximas cúpulas do clima se ele for eleito.
"Queremos uma ONU mais forte, com maior poder de decisão, especialmente na questão climática, porque senão continuaremos discursando e ninguém vai cumprir nada", afirmou.
ra/lf (Reuters/Folha)
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