Assim como aconteceu no primeiro debate, as senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) foram responsáveis por lançar as principais críticas ao presidente de extrema direita.
Todos os candidatos também criticaram a ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o favorito nas principais pesquisas.
O segundo debate da campanha presidencial transmitido por um parceria entre o jornal O Estado de S.Paulo, os canais SBT e CNN, a revista Veja, o portal Terra e a Rádio Nova Brasil FM. Seis candidatos participaram. Além de Bolsonaro, Tebet e Soraya, o debate também contou com Ciro Gomes (PDT), Felipe D’Avila (Novo) e o estreante "Padre" Kelmon (PTB).
Críticas a Bolsonaro
Coube a candidata Simone Tebet (MDB) fazer a primeira pergunta dirigida a Bolsonaro. Ela questionou o presidente sobre cortes na verba para merenda escolar. e aproveitou para emendar críticas. "Você é um péssimo exemplo e mente em cadeia nacional. Você não trabalha, anda de jet ski e moto e não conhece a realidade do Brasil, por isso diz que o Brasil não tem fome", disse a senadora.
A candidata Soraya Thronicke (União Brasil), por sua vez, em uma pergunta a Felipe D’Avila, mencionou compras suspeitas feitas pelas Forças Armadas. "O que é o que é, não reajusta merenda escolar, mas gasta milhões com leite condensado, tira remédio da farmácia popular, mas mantém a compra de viagra, não compra vacina para Covid, mas distribui prótese peniana para os amigos?"
Mais tarde, ao conseguir um direito de resposta, Bolsonaro chamou Soraya de "estelionatária". "Não cutuque a onça com a sua vara curta”, devolveu Soraya em um direito de resposta posterior. A frase rapidamente viralizou nas redes sociais. "Estelionatário é o ato que pratica quem usa dinheiro vivo para não deixar rastros e nem provas", disse Soraya em outro bloco, fazendo referência as transações imobiliárias suspeitas feitas pelo clã Bolsonaro, que envolveram a compra de dezenas de apartamentos desde os anos 1990.
No bloco reservado para perguntas feitas por jornalistas, com comentários dos candidatos, Bolsonaro e Tebet voltaram a trocar farpas. Tebet lembrou que o governo era contra o auxílio emergencial durante a pandemia com valor de R$ 600, e que o Planalto propôs inicialmente apenas R$ 200.
"O Brasil merece um presidente sério, sensível, que coloque as pessoas em primeiro lugar. Não um presidente que mente em rede nacional, que cria fake news enquanto nosso trabalhador é humilhado de não ter o que colocar na mesa porque ele está desempregado", disse Tebet.
Soraya também acusou Bolsonaro de "abandonar a bandeira da economia liberal” e de “abandonar a bandeira do combate à corrupção". Ela ainda criticou os ataques que Bolsonaro direcionou a grandes parceiros comerciais do Brasil, como a China e França.
"Você imagina, vocês já imaginaram alguém falar mal do cliente, tratar mal seu cliente? Isso é não proteger o seu mercado interno. Isso é um desrespeito com o povo brasileiro, com o agronegócio que exporta pra esses países. Desrespeito", disse.
Em seus embates com Tebet e Soraya, Bolsonaro respondeu ás críticas acusando as senadoras de se beneficiarem de verbas do "Orçamento Secreto" – o nada transparente mecanismo de distribuição de verbas parlamentares que vem garantindo apoio a Bolsonaro no Congresso. Ele ainda mentiu ao afirmar que ambas teriam votado contra a derrubada de um veto presidencial ao Orçamento Secreto em 2019.
Mais apagado no debate, D’Avila, do Partido Novo, mencionou o Orçamento Secreto e comparou o mecanismo ao escândalo do "Mensalão" no primeiro governo Lula. D’Avila também lembrou que Valdemar Costa Neto, principal cacique político do PL, o partido de Bolsonaro, foi preso por causa do Mensalão.
Bolsonaro se defendeu afirmando "eu não tenho acesso, eu não sei pra onde vai o dinheiro desse tal orçamento secreto".
Ausência de Lula
A ausência de Lula foi citada várias vezes pelo moderador do debate, o jornalista Carlos Nascimento, com as câmeras mostrando o vazio do lugar que havia sido reservado para o candidato do PT.
Lula preferiu comparecer a dois atos de campanha em São Paulo e no Rio de Janeiro neste sábado, mas informou que pretende comparecer ao debate da TV Globo, no dia 29 de setembro.
Nos bastidores, a campanha do petista avaliou que Lula não tinha nada a ganhar com o embate de hoje, e que as entrevistas que ele concedeu à CNN e ao SBT neste mês já atenderam ao público das emissoras.
Todos os candidatos que compareceram criticaram em diferentes momentos a decisão de Lula de não comparecer. "Em 2018, eu não compareci porque estava hospitalizado por causa da facada e fui massacrado pelo PT", disse Jair Bolsonaro, ao chegar aos estúdios do SBT. No entanto, em 2018, a campanha de Bolsonaro já havia anunciado dias antes do atentado a faca que ele não compareceria mais a debates naquela eleição.
Ciro Gomes, por sua vez, afirmou: “Eles (PT) acham que o fascismo é o Bolsonaro, o fascismo então vai estar aqui, por que eles não vêm denunciar o fascismo como eu estou?".
"Uma sabatina, um debate, é como uma entrevista de emprego. Você aí na sua casa contrataria um candidato que faltou à entrevista de emprego? Esse é o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que não merece o seu voto de maneira nenhuma", disse Soraya.
Enquanto o debate transcorria, Lula, em um evento em São Paulo, criticou Bolsonaro. "Todo dia ele fala 'eu não sou ladrão'. Ele vai ver se é ladrão ou não quando eu tomar posse e acabar com esse sigilo. Qualquer coisinha, ele faz um decreto de sigilo de 100 anos. Vou acabar no primeiro dia com isso, para [a gente] ver o que está escondido", disse o candidato do PT.
"Padre" do PTB como linha auxiliar de Bolsonaro
Ao longo do debate, Bolsonaro fez uma dobradinha com o candidato do PTB, "Padre" Kelmon, que estreou nos debates presidenciais após substituir o ex-deputado Roberto Jefferson, aliado do presidente que teve sua candidatura barrada pela Justiça. Instigado por Bolsonaro, Kelmon chamou Lula várias vezes de "presidiário" e tentou ligar o PT a velhas teorias conspiratórias que relacionam o partido ao Foro de São Paulo.
Kelmon, que usa trajes de padre e se apresenta como "ortodoxo", mas não é oficialmente um sacerdote de qualquer igreja de comunhão ortodoxa, deixou claro que compareceu para ajudar Bolsonaro. "Temos todos esses candidatos aqui atacando um só, o presidente da República. Mas agora são cinco contra dois, pois somos os únicos candidatos de direita", disse.
Em outros momentos, Kelmon, sempre em sintonia com Bolsonaro, tentou jogar cascas de banana para outros candidatos, lançando perguntas sobre aborto para Ciro e Tebet.
"Tenho dúvida se teria coragem de me confessar com você", respondeu Tebet. “O feminismo no Brasil precisa ser entendido não como uma pauta de esquerda, mas como uma pauta cristã. A mulher brasileira hoje é a cara mais pobre desse Brasil", completou a senadora.
Tebet e Ciro criticam campanha lulista do "voto útil"
No mesmo bloco, Ciro e Tebet alternaram comentários criticando a campanha de “voto útil” estimulada pelo campo petista, que tenta convencer os eleitores da emedebista e do pedetista a votar em Lula e derrotar Bolsonaro já no primeiro turno.
"O Lula produziu uma onda de propaganda que todo mundo que não for Lula é fascista, e ele tem uma oportunidade de caracterizar de fascista o Bolsonaro e, em vez de vir aqui, foge. A minha candidatura não se deve porque é fácil ou simples, eu sei que eu nunca fui o favorito", disse Ciro.
"Voto útil é o da sua consciência", disse Tebet. "É a eleição mais importante em muito tempo, não pode ser uma votação pelo medo, mas pela esperança."
Em desvantagem, Ciro direciona principais críticas ao PT
Empacado nas pesquisas e distante dos dois principais candidatos na disputa, Ciro apostou ao longo do debate em se pintar como uma alternativa a Lula e Bolsonaro, insistindo em tentar pintar o presidente de extrema direita e o ex-presidente social-democrata como equivalentes.
Mesmo em momentos que as perguntas envolviam questões do governo Bolsonaro, Ciro aproveitou para direcionar críticas a Lula.
"Ali, em 2018, as pessoas tinham clareza de que o PT tinha virado essa coisa trágica corrupção e desmonte econômico do Brasil, e o Bolsonaro recebeu da mão do povo brasileiro essa oportunidade e conseguiu a proeza de ressuscitar o Lula", disse Ciro. Ele também afirmou que Bolsonaro "teve filhos denunciados igual o Lula".
Questionado por uma jornalista sobre casos de violência política ao longo da campanha, Ciro se limitou a afirmar "Quem inventou o ‘nós contra eles’ foi o PT e o Bolsonaro adora porque um resolve o problema do outro".
Em outros momentos, Ciro chegou a tentar usar uma abordagem menos ofensiva em relação a Bolsonaro, usando suas menções ao presidente como uma ferramenta para atacar o PT.
No terceiro bloco disse, por exemplo, que Bolsonaro se elegeu "porque o Brasil vivia a um só tempo a mais grave crise econômica e a mais generalizada percepção de ladroeira promovida pelo PT".
Bolsonaro não se impressionou, e quando teve a oportunidade mencionou uma operação da Polícia Federal que atingiu em dezembro de 2021 o candidato do PDT e seu irmão, o senador Cid Gomes. "Ciro a PF já bateu na sua porta", disse Bolsonaro.
Ciro respondeu recorrendo mais uma vez à tática de direcionar críticas a Lula e Bolsonaro, afirmando que foi "vítima de uma busca e apreensão" e que estava na dúvida se a operação havia sido lançada por "um delegado petista canalha" ou por um "governo Bolsonaro interferindo na PF como fez para proteger os filhos".
Na sequência, Ciro emendou um raro ataque direto a Bolsonaro, sem mencionar o PR. "Bolsonaro, você vendeu a carteira de crédito de R$3,3 bilhões do Banco do Brasil por 300 e poucos milhões para o (banco) BTG. Aí tem. Você vendeu a (refinaria) Landulfo Alves por metade do preço, para um fundo obscuro dos Emirados Árabes. Se vendeu pela metade do preço, alguém ganhou e o povo brasileiro perdeu", disse Ciro.
Bolsonaro repete bordões e ataca alvos de sempre
Ao longo do embate, Bolsoanro repetiu velhos bordões da sua campanha, afirmando, por exemplo, que "não há escândalos de corrupção" no "seu governo" – embora só nos últimos dois anos o governo tenha sido alvo de escândalos envolvendo cobrança de propina tanto na compra de vacinas quanto na distribuição de verbas do Ministério da Educação. "Me acusam de ser corrupto. Mas não dizem de onde foi tirado esse dinheiro pra corrupção. Mentiras."
O presidente também voltou a repetir o Brasil tem “a gasolina mais barata do mundo”. Uma mentira. Segundo o ranking da Global Petro Prices, o país aparece na 31° posição entre os países com o combustível mais barato. E o ranking avalia apenas o preço em dólar. Se considerado a relação do preço com poder de compra, a posição é ainda pior.
Bolsonaro ainda fez elogios ao seu governo, mencionando o Auxílio Brasil e as obras de transposição do Rio São Francisco, mirando no voto dos eleitores do Nordeste, região em que o presidente sofre com ampla rejeição. "Nós matamos a sede do nordestino. Meu grande abraço a todos do Nordeste", disse Bolsonaro. No entanto, no final da fala, ele se referiu incorretamente à região Nordeste como um "estado". "E muito obrigado pela forma como sou recebido quando visito esse estado", disse.
Em outro momento, Bolsonaro tentou apelar para o eleitorado feminino – outro segmento no qual enfrenta alta rejeição. "O meu governo foi o que mais colocou machões na cadeia. Defendendo as mulheres que sofrem violência pelo Brasil", disse Bolsonaro.
Porém, o governo Bolsonaro cortou 90% das verbas disponíveis para ações de enfrentamento à violência contra a mulher. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a verba destinada ao Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos para proteção das mulheres caiu de R$ 100,7 milhões, em 2020 para R$ 30,6 milhões em 2021. Em 2022, o valor caiu ainda mais, sobrando apenas R$ 9,1 milhões.
Bolsonaro ainda tratou ironizou os recentes casos de violência política no Brasil, como o assassinato de um dirigente do PT em Foz do Iguaçu (PR) por um bolsonarista em julho.
"Primeiro, eu quero dizer que eu sou palmeirense, eu peço à torcida do Palmeiras; não briguem, caso contrário, eu vou ser responsabilizado", disse, ao ser questionado sobre o assunto por uma jornalista, que lembrou que Bolsonaro disse na campanha de 2018 que era preciso "fuzilar a petralhada". "Querer me responsabilizar por essas ações não tem cabimento", respondeu Bolsonaro.
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