Após três dias sem protestos – quarta-feira foi feriado e quinta e sexta-feira são o fim de semana no país – a semana iraniana começou com novos gritos de "Mulheres, liberdade, vida", em manifestações convocadas pelas universidades e grupos de ativismo.
Segundo o canal online1500tasvir, que documenta os protestos e a violência policial, numa escola superior de Teerã, jovens mulheres agitavam seus lenços islâmicos no ar, bradando alto "Liberdade, liberdade, liberdade!".
Comércio fechado e internet restrita
Nos arredores da renomada Universidade Sharif, também na capital, pequenos grupos de jovens e mulheres sem véu protestavam em meio a forte presença policial. "Apoiem a gente, polícia!" gritou uma manifestante à tropa de choque designada para conter o ato. Em atmosfera tensa, algumas discutiram com agentes da polícia, quando a primeira carga de gás lacrimogêneo começou a escurecer as ruas.
"Morte à República Islâmica", entoava um grupo de jovens numa rua lateral da universidade, acrescentando: "República Islâmica, não te queremos!". Um homem exclamava que os policiais "não têm honra". Também se ouviram disparos, sem que fosse possível distinguir de que tipo. Os protestos se espalharam por diferentes bairros de Teerã.
Houve também manifestações nas cidades de Shiraz, Isfahan, Gohardasht e Kerman, entre outras, de acordo com vídeos não verificados, compartilhados em redes sociais por ativistas e jornalistas. Os confrontos foram particularmente violentos no Curdistão iraniano, região de origem de Amini.
A capital regional, Sanandaj, teve um dia de greve, com lojas fechadas. O chefe da polícia provincial, general Ali Azadi, atribuiu a morte a tiros de um motorista às "forças contrarrevolucionárias". Por sua vez, a ONG Hengaw, sediada em Oslo, culpou as forças de segurança pelo incidente.
Também no Azerbaijão Ocidental o comércio fechou em greve. Diante dos fortes protestos, os serviços de internet móvel foram bloqueados, pela primeira vez nos últimos dias. Também foram impostas restrições à internet residencial, cuja velocidade diminuiu significativamente.
Presidente vaiado
Paralelamente, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, discursava na Universidade Alzahra de Tererã, exclusivamente feminina, afirmando que os estudantes iranianos não permitiriam que "os sonhos do inimigo se realizassem".
"O inimigo pensou que poderia buscar seus objetivos na universidade, não percebendo que os estudantes e professores estão acordados e não permitirão que os falsos sonhos do inimigo se realizem", prosseguiu. Em resposta, de acordo com filmagens não verificadas de ativistas, Raisi foi vaiado.
Outros vídeos mostram um grupo de estudantes gritando "Desapareça, desapareça", enquanto o presidente se retira do edifício. O assessor de imprensa da universidade, Faride Haghbin, minimizou os gritos, dizendo que apenas cerca de 15 estudantes teriam gritado, "instigados por alguns agentes estrangeiros".
Segundo a agência de notícias Irna, em outra ocasião Raisi admitiu a necessidade de "rever as estruturas culturais" do país, "examinar as leis, reformulá-las e, conforme o caso, também revisá-las", complementando: "Devemos ver se alcançamos as metas estabelecidas, e se não, onde estão os problemas."
Morte por violência policial ou doença prévia?
Após conversa telefônica com o ministro do Exterior iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, comentou no Twitter que o povo do Irã teria o direito de "protestar pacificamente e defender os direitos fundamentais. Na sexta-feira, Abdollahian recomendara aos europeus "encarar o assunto com uma atitude realista".
Mahsa Amini morreu em 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida pela chamada polícia da moral de Teerã, com o argumento de que estava usando o véu islâmico incorretamente. O Instituto Médico Legal iraniano declarou na sexta-feira que a jovem de 22 anos teria morria de uma doença prévia, não de espancamentos policiais.
O relatório forense da entidade estatal determinou que a morte da jovem ocorreu devido à falência de múltiplos órgãos após hipóxia (esgotamento do oxigênio no cérebro), não sendo "causada por golpes na cabeça e nos órgãos vitais e membros".
A morte de Amini imediatamente provocou protestos que têm continuado desde então, com as grandes mobilizações de queima de véus sendo fortemente reprimidas pelas forças de segurança.
Esses confrontos causaram 41 mortes, de acordo com a mais recente contagem da televisão estatal. A ONG Iran Human Rights, sediada em Oslo, contudo, contabiliza 92 óbitos.
av (EFE,AFP,DPA)
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