O plano ambicioso de Xi Jinping no Congresso do Partido Comunista


William Yang

17/10/2022 14h41

Presidente chinês resumiu em discurso as conquistas do governo nos últimos cinco anos. Especialistas apontam que ele foi vago sobre a questão de Taiwan, já que o Partido Comunista abre caminho para seu terceiro mandato.Em tom triunfante, o presidente chinês, Xi Jinping, destacou as conquistas de sua sigla durante a abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) neste domingo (16/10). E prometeu uma série de reformas e mudanças visando promover o rejuvenescimento da nação chinesa.

Ao discursar para cerca de 2.300 membros do partido único, Xi defendeu a estratégia de zero covid, dizendo que as medidas de controle da pandemia "protegeram a vida e a saúde”, e que as decisões para impor o "governo dos patriotas” em Hong Kong ajudaram a mudar a situação da região "de caos para governança”.

Além disso, embora Pequim insista em lutar pela reunificação pacífica com Taiwan, nunca renunciaria à opção de usar a força para alcançar esse objetivo: "As rodas da história estão girando em direção à reunificação da China e ao rejuvenescimento da nação chinesa. A reunificação completa da pátria pode e deve ser alcançada."

Discurso sem muitos conflitos

Wen-Ti Sung, professor de Estudos Taiwaneses da Universidade Nacional Australiana, atualmente residente em Taipei, considerou discurso de Xi muito menos agressivo do que esperavam certos analistas: "Ele diz que a ‘reunificação completa da nação deveria e precisaria acontecer', mas é muito vago sobre como pretende fazer isso."

"Enquanto alguns analistas taiwaneses temiam que o presidente chinês apresentasse novas estratégias para resolver a questão com Taiwan, seu discurso sinaliza um desejo maior de preservar a continuidade, em vez de mudança. Ele mencionou determinação firme e capacidades fortes para se opor à independência de Taiwan, mas não especificou um plano ou cronograma. A intenção é aumentar ainda mais a ambiguidade quanto ao cronograma e à urgência da unificação com Taiwan."

Além de enfatizar o sucesso do Partido Comunista Chinês na superação de desafios, Xi também destacou "mudanças rápidas na situação internacional”, elogiando os esforços da legenda para "manter a equidade e a justiça internacionais, defender a prática do multilateralismo genuíno e se opor claramente a todos os tipos de hegemonia e políticas de poder”.

À medida que aumenta a tensão geopolítica entre a China e os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos, Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Singapura, afirma que a ênfase no multilateralismo significa que a China continuará desafiando e competindo com Washington. "Quando se fala de multilateralismo, muitas vezes significa que Pequim trabalhará por meio de instituições internacionais, principalmente as Nações Unidas e as agências da ONU, para combater o que considera influência dos EUA."

Ênfase em ideologia e autoconfiança

Embora o discurso seja amplamente visto como uma continuação das políticas do governo de Xi Jinping na última década, o cientista político Ian Chong considerou notável a ênfase do líder chinês em valores não tangíveis: "Uma das maneiras de Xi Jinping lidar com os desafios, inclusive com a desaceleração da economia e a rivalidade da China com os EUA, é enfatizar a disciplina e a ideologia partidária."

Durante o discurso, Xi descreveu o marxismo como a ideologia orientadora do PCC, e que é "responsabilidade histórica solene” dos membros do partido continuarem "abrindo novos capítulos na adaptação do marxismo ao contexto chinês”.

Ao apresentar a visão para os próximos cinco anos, em meio aos crescentes desafios econômicos, Xi disse que Pequim continuará a promover a prosperidade comum, melhorar a distribuição de riqueza e acelerar o desenvolvimento de um sistema habitacional. Ele também destacou a necessidade de crescimento por meio de uma economia de mercado socialista e estratégias de dupla circulação doméstica-internacional.

Buscando educação de classe mundial

Dexter Roberts, membro do Conselho do Atlântico, criticou o discurso de Xi por não explicar muito sobre o conceito de "prosperidade comum”: "Foi uma declaração sem muita informação, e não há muitos detalhes sobre como eles realmente vão fazer isso."

"Também acho que a prosperidade comum tem, na liderança e na cabeça de Xi, um elemento de punição aos ricos. Muitas das repressões contra empreendedores e grandes empresas de tecnologia na China estão relacionadas à segurança econômica e de dados."

No entanto, Iris Pang, economista-chefe do ING para a China, acredita que Pequim está tentando colocar a prosperidade comum sob um novo signo, destacando a necessidade chinesa de construir uma educação de classe mundial, "e isso dará à geração mais jovem a oportunidades de subir na pirâmide da riqueza – e eles têm um canal para fazer isso adequadamente".

E com os EUA aumentando seus esforços para impedir o acesso da China a tecnologias de semicondutores, Xi prometeu se concentrar no "desenvolvimento de alta qualidade" que priorizaria educação, ciência e tecnologia: a China "acelerará a realização de um alto nível de autossuficiência científica e tecnológica e autoaperfeiçoamento".

Para Dexter Roberts, a ênfase de Xi na "autossuficiência" indica que Pequim quer provar que pode "seguir sozinho", embora possa ser um desafio. "Não acho que Xi entenda quão difícil seria para eles a nacionalização de alta tecnologia em sua cadeia de suprimentos."

Modernização militar e fortalecimento de "seguranças"

Ao lado da autossuficiência, Xi também enfatizou a importância de continuar os esforços de modernização militar, prometendo acelerar a "modernização da doutrina militar, a organização do Exército, dos militares, e de armas e equipamentos".

Xi destacou a importância de fortalecer uma ampla gama de "seguranças" no país, mencionando a palavra cerca de 50 vezes ao longo do discurso. Ele instou a China a fortalecer sua base de segurança nacional melhorando o sistema de alerta precoce e garantindo o fornecimento de alimentos e energia.

David Bandurski, codiretor do China Media Project,considera o conceito de segurança nacional um dos sinais mais claros do discurso. "É uma continuação completa do que vimos sob o governo de Xi. Podemos deduzir com relativa certeza que eles estão falando dos Estados Unidos, e parte disso se refere a preocupações internas de segurança do desenvolvimento ou do trabalho."

No geral, alguns especialistas acham que, com o discurso do domingo, Xi está ampliando a visão e a direção traçadas na última década. Para Holly Snape, especialista em política chinesa da Universidade de Glasgow, em vez de estabelecer novas metas, o discurso de Xi reforça uma visão estreita de "modernização definida pelo partido”.

Moldando a história para traçar o futuro

Snape acreditar ser "importante que Xi tenha liderado a elaboração do discurso, pois isso permitiu que ele aprofundasse e consolidasse o pensamento que começou a definir, principalmente em 2017”.

Bandurski, do China Media Project, acrescenta que o relatório político entregue por Xi no domingo serve, principalmente, para sinalizar o poder do presidente chinês e posicioná-lo na história do Partido Comunista. "A história está sempre bem na mira do Partido Comunista, e interpretar e expandir a história é realmente a chave para Xi sinalizar seu poder. Tudo gira em torno de contar a história básica de que os últimos cinco anos foram um grande sucesso e mostrar por quê.”

O Congresso do Partido Comunista é realizado a cada cinco anos, e até o fim do presidente chinês deverá garantir um terceiro mandato Na ocasião, o Partido Comunista Chinês também divulgará a formação de sua nova liderança.

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