Após quatro anos de distanciamento entre Brasília e Berlim, Frank-Walter Steinmeier diz que vai "prestigiar transição democrática" e que quer "dar impulso a uma nova fase da parceria estratégica entre Brasil e Alemanha".Em mais um sinal de que Berlim pretende se reaproximar do Brasil, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, vai comparecer à posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, em 1° de janeiro de 2023. A participação foi anunciada nesta quinta-feira (01/12) pelo gabinete do chefe de Estado alemão.
Em comunicado, o escritório de Steinmeier afirma que, ao participar da posse de Lula, o presidente alemão vai "prestigiar a transição democrática de poder no maior país da América Latina” e que ele ainda pretende "dar impulso a uma nova fase da parceria estratégica entre Brasil e Alemanha".
Viagem à Amazônia
A viagem de Steinmeier ao Brasil deve durar três dias. No dia seguinte à posse, o presidente alemão vai viajar a Manaus acompanhado da ministra alemã do Meio Ambiente, Steffi Lemke.
O comunicado afirma que, com a visita à Amazônia, Steinmeier vai reafirmar "o apoio alemão à proteção da floresta tropical” e destacar "sua importância para a política climática internacional”. Ainda segundo a nota, Steinmeier espera uma dinâmica positiva na proteção da floresta com a posse do novo governo.
Apesar de, como chefe de Estado, o presidente possuir atribuições executivas, seu papel é quase apenas simbólico. A Lei Fundamental (Grundgesetz) da Alemanha lhe garante a competência de assinar acordos e tratados internacionais, mas a política externa cabe ao governo, chefiado pelo chanceler federal.
Encontros anteriores
Em 31 de outubro, Steinmeier parabenizou publicamente Lula pela vitória na eleição presidencial brasileira. No mesmo dia, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que assim como Steinmeier é filiado ao Partido Social-Democrata alemão (SPD), também parabenizou o brasileiro.
Na ocasião, o presidente alemão afirmou que o Brasil é um parceiro estratégico importante da Alemanha e um ator-chave para enfrentar os desafios globais da atualidade, numa alusão ao papel fundamental do Brasil no combate às mudanças climáticas.
A participação na posse não será o primeiro encontro entre Lula e Steinmeier. Os dois já se encontraram em outras ocasiões, como numa viagem de Steinmeier ao Brasil em 2006, quando o alemão ocupava o cargo de ministro das Relações Exteriores do governo do ex-chanceler federal Gehrard Schröder.
Em 2012, quando Lula já havia deixado a presidência e Steinmeier era líder da oposição ao governo Angela Merkel, os dois participaram em Berlim de um debate promovido pela Fundação Friedrich Ebert, entidade ligada ao SPD, a sigla do atual presidente alemão.
Em 2015, quando Steinmeier havia voltado a ocupar o posto de ministro, eles se encontraram novamente, desta vez no Brasil.
O PT e SPD mantêm laços há décadas e Lula manteve relações amistosas com figuras históricas da legenda alemã como Willy Brandt, Gerhard Schröder, Johannes Rau e Helmut Schmidt.
Reaproximação após Bolsonaro
Os gestos de Berlim em relação a Lula contrastam com a deterioração das relações entre Brasil e Alemanha durante a presidência de Jair Bolsonaro.
Nos últimos quatro anos, os dois países se distanciaram, especialmente em temas como proteção ambiental. Nem Merkel nem Scholz visitaram o Brasil enquanto Bolsonaro ocupou o Planalto e o brasileiro também não foi convidado para realizar uma visita de Estado ao país europeu.
Bolsonaro também protagonizou vários ataques verbais ao governo alemão, especialmente quando Berlim cobrou mais proteção ambiental no Brasil. O governo brasileiro também promoveu mudanças unilaterais na gestão do Fundo Amazônia, que conta com recurso da Alemanha e Noruega, provocando críticas dos dois países e paralisando o programa. Diante do desmonte de políticas ambientais no Brasil, Berlim também congelou o envio de recursos para programas ambientais no país sul-americano.
Em 2019, a então chanceler federal Angela Merkel, disse ver com "grande preocupação" a situação no Brasil sob Bolsonaro. Em 2020, o governo alemão ainda admitiu que a cooperação com o governo federal brasileiro em áreas como política ambiental e assistência aos povos indígenasestava sendo cada vez mais difícil.
Embora os atritos entre os dois países não tenham sido tão explícitos como os enfrentados pela França com Bolsonaro, o Partido Social-Democrata (SPD), que participava da coalizão de Merkel e atualmente lidera o governo alemão, não escondeu sua preferência por Lula. Em novembro do ano passado, Scholz chegou a se encontrar com o petista em Berlim após o resultado da eleição alemã, quando ainda negociava a formação do governo atual. Diversas figuras do SPD também manifestaram solidariedade a Lula enquanto o petista esteve preso.
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