Mas maior é o dano à democracia brasileira e à psique coletiva do país. Uma minoria fanática e violenta cometeu crimes em série na frente das câmeras ao longo do dia na capital. Enquanto grande parte da mídia liberal passou a dar nome aos bois – golpistas, criminosos, terroristas – outros ainda cativam a simpatia do bolsonarismo. Trata-se aqui de índices de audiência, cliques, curtidas e claro: dinheiro!
A maior porta-voz do bolsonarismo, a emissora Jovem Pan, deu incríveis piruetas retóricas para de alguma forma justificar os criminosos como cidadãos preocupados. Falou-se de "o povo" mostrando sua vontade. Como se o povo não tivesse manifestado sua vontade ao eleger Lula como presidente.
Precursor e cúmplice de Bolsonaro, Sergio Moro minimizou falando de "invasores" que "precisam se retirar". E o blogueiro foragido Allan dos Santos, contra quem há um mandado de prisão, pediu que os escalões inferiores das forças militares e policiais desobedecessem às ordens e, assim, convocou abertamente um golpe de Estado.
Allan é um bom exemplo de como ganhar muito dinheiro com conteúdo fanático. Ele pertence a uma legião de influencers, políticos, empresários e pastores evangélicos extremistas que lucram espalhando o veneno bolsonarista de mentiras e meias-verdades, delírios pseudorreligiosos, intolerância, ignorância, arrogância, violência e pura estupidez na mente e no coração de milhões de brasileiros. O veneno contaminou, sobretudo, as forças de segurança, como ficou mais uma vez evidente em Brasília. É um desenvolvimento ameaçador.
Falam abertamente em "necessária guerra civil"
Com o bolsonarismo, surgiu no Brasil um movimento de base extremista de direita, cujos integrantes se consideram os salvadores da pátria – sem, claro, nunca terem perguntado aos outros brasileiros. Defendem a civilidade, a verdade e a liberdade contra os comunistas – sem realmente saber o que significa comunismo. Parece quase impossível trazer essas pessoas de volta à realidade
Há pelo menos quatro anos, são alimentados e incitados com desinformação. Hoje acreditam que estão legitimamente resistindo a um governo ilegítimo. Em muitos casos, falam abertamente de uma "necessária guerra civil". A esquizofrenia do movimento, que quer salvar a pátria mergulhando-a primeiro no abismo, é evidente no fato de que muitos bolsonaristas estão agora orgulhosos da destruição em Brasília; enquanto outros afirmam que a destruição foi perpetrada por esquerdistas infiltrados. Decidam-se!
A invasão do centro do poder brasileiro é, portanto, um sinal de alerta. Existem hoje no Brasil grupos extremamente radicalizados que são financiados e apoiados logisticamente por empresários. Eles estão prontos para espalhar o terror e desfrutam de certa compreensão e apoio no aparato de segurança.
Por ser difícil ensiná-los novamente algo como práticas civis e democráticas, eles e os articuladores destes atos devem primeiro ser retirados de circulação e punidos. Para o bem e segurança dos reais cidadãos do bem.
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Philipp Lichterbeck é correspondente e colunista da DW Brasil. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.
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