Aproximadamente 70,8 bilhões de dólares são danos às residências, 10,4 bilhões perdas da renda nacional e 2,9 bilhões perdas de dias de trabalho.
Por outro lado, a empresa americana de análise de dados e avaliação de riscos Verisk calcula as perdas econômicas em, no mínimo, 20 bilhões de dólares, enquanto várias outras estimativas ficam entre essas duas.
Mas como chegar a esses valores? A DW analisa como são feitos os cálculos de prejuízos por desastres naturais e por que as estimativas variam tanto.
Como estimar uma vida humana
Geralmente, existem duas abordagens para calcular os efeitos econômicos de tais desastres, de acordo com Melanie Gall, do Banco de Dados de Eventos de Riscos e Perigos Espaciais para os Estados Unidos (Sheldus, na sigla em inglês), da Universidade do Estado do Arizona.
Um deles são os impactos diretos, ou seja, aqueles causados imediatamente pelo evento, como danos a residências e feridos. As perdas diretas podem ser avaliadas por profissionais contratados por seguradoras, explica Gall.
Os impactos indiretos são aqueles que emanam de efeitos secundários ou terciários, como perdas de negócios durante paralisações, perda de renda para trabalhadores e pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, uma condição mental desencadeada por um evento aterrorizante. Tais perdas são geralmente calculadas usando modelos econômicos.
"Para a maioria dos eventos, essas estimativas são aproximadas e não vêm de avaliadores profissionais", disse Gall.
As companhias de seguros e associações comerciais de seguros normalmente fazem as primeiras estimativas, que se concentram em danos à propriedade. Elas baseiam essas estimativas em perdas cobertas pelo seguro e depois as extrapolam para incluir perdas relacionadas a bens não segurados.
Adam Rose, pesquisador sênior do Centro de análises econômicas e de Riscos para ameaças e emergências da Universidade do Sul da Califórnia faz essas estimativas. Ele lidera uma equipe que desenvolveu um software para esse fim, chamado de Economic Consequence Analysis Tool (E-CAT).
"Estimativas precisas do custo de um determinado desastre só podem ser determinadas após um estudo de caso cuidadoso, que leva meses ou anos para ser concluído", disse Rose à DW.
O software dele pode ser usado assim que algumas informações básicas sobre o tamanho inicial do desastre e estimativas aproximadas da extensão da resiliência e das respostas comportamentais estiverem disponíveis.
"Uma questão aqui é valorizar a vida humana, que normalmente inclui, em grande parte, os ganhos de uma pessoa. Estes são mais baixos em países em desenvolvimento como a Turquia. Então, às vezes, traduzir feridos distantes em dólares torna-se problemático nesses contextos", explica.
As categorias avaliadas são a interrupção de negócios, a diminuição da atividade econômica medida em termos de perda de receita ou uma combinação de perda de salários e lucros, bem como renda pessoal ou emprego no nível macroeconômico.
"As três categorias acima não incluem a miséria humana, como o número de pessoas que ficaram sem energia ou água potável", acrescentou Rose.
John Bateman, oficial de relações públicas da Administração Nacional de Oceanos e Atmosferas (NOAA, na sigla em inglês), também diz que muitos custos simplesmente não são contabilizados.
Isso incluiria perdas de capital natural ou degradação ambiental, custos relacionados à saúde mental ou física e o valor de uma cadeia de suprimentos perdida.
"Portanto, nossas estimativas devem ser consideradas conservadoras em relação ao que é realmente perdido", explica.
Quão precisos são os cálculos?
De acordo com Rose, as primeiras estimativas do custo de um desastre geralmente são feitas em alguns dias, mas, posteriormente, são refinadas à medida que mais dados se tornam disponíveis.
"Essas estimativas iniciais geralmente omitem infraestrutura danificada, como estradas, pontes e serviços públicos".
No entanto, existe uma maneira de os analistas também estimarem essas perdas, observa Rose. Eles precisam estudar e refinar os dados coletados por satélites e aviões de reconhecimento por meio de um processo chamado observação da Terra.
Além disso, mais três fatores precisam ser considerados, disse ele. O primeiro diz respeito aos efeitos multiplicadores que reverberam nas cadeias de suprimentos. Por exemplo, terremotos em Taiwan já danificaram fábricas de semicondutores no passado, interrompendo a produção de eletrônicos nos Estados Unidos e em outros lugares.
O segundo é a rapidez e a eficiência com que as empresas se recuperam após um desastre, contando com estratégias como realocar ou consumir menos água e energia. Os especialistas em recuperação de desastres se referem a essa forma de reduzir os riscos associados às consequências de um desastre como "resiliência".
O terceiro fator tem a ver com o que acontece com as pessoas que vivem em zonas de desastre. Se elas saem da área por conta própria ou após serem forçadas por ordens de evacuação do governo, a economia local perde sua base de trabalho e a demanda por bens e serviços na área diminui. Isso também acontece em casos como o da Turquia, quando as pessoas têm medo de voltar ao trabalho em edifícios que acreditam, com ou sem razão, serem vulneráveis ao colapso.
Pobres sofrem mais
Rose apontou que as estimativas de custo para desastres naturais são muitas vezes "superestimadas ou subestimadas pela política".
"Enquanto alguns suspeitam que eles estão exagerando para receber mais ajuda e compensação, outros suspeitam que os governos subestimam os custos para evitar constrangimentos quando um governo ou política de negócios pode estar errado".
A seguradora Swiss Re descobriu que os impactos de catástrofes no desenvolvimento a longo prazo geralmente dependem de como as perdas diretas levam a custos indiretos e secundários e estes dependem da capacidade econômica do país de absorver perdas.
Pesquisas realizadas nos últimos 30 anos mostraram que geralmente são os pobres que tendem a sofrer mais com os desastres. As pessoas empobrecidas têm maior probabilidade de viver em áreas expostas a perigos e são menos capazes de investir em medidas de redução de riscos. A pobreza é causa e consequência do risco de desastres.
De acordo com o secretário-geral da ONU, António Guterres, governança fraca, pobreza crescente, perda de biodiversidade, ecossistemas em colapso e rápida urbanização não planejada são todos "propulsores interconectados do risco de desastres".
"E quando ocorre um desastre, os fracos sistemas de saúde e infraestrutura os deixam ainda mais vulneráveis. Décadas de ganhos de desenvolvimento podem ser eliminadas em um instante", disse Guterres no final do ano passado no Dia Internacional para a Redução de Catástrofes.
REDES SOCIAIS