População japonesa foi alertada a buscar proteção. Coreia do Sul diz que teste seria de "novo tipo" de míssil de combustível sólido, possível avanço técnico no programa bélico de Pyongyang.A Coreia do Norte lançou nesta quinta-feira (13/04) um míssil balístico de alcance médio ou superior que caiu no mar do Japão depois de percorrer cerca de mil quilômetros e obrigou as autoridades japonesas a ativarem momentaneamente o alerta para um possível impacto em torno a ilha de Hokkaido, no norte do país.
Cerca de 40 minutos após o lançamento, foi ativado no Japão o sistema J-Alert, que permite às autoridades transmitir alertas sobre segurança civil simultaneamente por meio de telefones, rádio, televisão e alto-falantes localizados em cada município.
Na ilha de Hokkaido, onde vivem mais de 5 milhões de pessoas, a população foi instada a procurar abrigo antiaéreo devido à possibilidade de o projétil atingir a área.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Em novembro passado, um disparo de míssil balístico intercontinental por Pyongyang já havia provocado alerta antiaéreo no Japão, levando a população a procurar refúgio.
Trens parados
O alerta foi emitido para todas as embarcações ao redor de Hokkaido, e a operadora ferroviária local decidiu suspender temporariamente a operação de todos os trens na ilha.
No entanto, o alerta foi desativado minutos depois, quando o risco de impacto foi descartado, e por volta das 8h19 (horário local) a Guarda Costeira japonesa afirmou que o projétil já havia caído no mar. Pouco depois, o sistema sul-coreano JCS indicou que o míssil caiu no mar do Japão, sem ter sobrevoado Hokkaido, como se temia a princípio.
O porta-voz do governo japonês, Hirokazu Matsuno, defendeu o "adequado" funcionamento do sistema J-Alert, quando questionado em conferência de imprensa sobre as informações contraditórias oferecidas à população através da plataforma em curto espaço de tempo. Ele disse que "o alerta foi emitido na perspectiva de priorizar a segurança do público".
Pânico temporário
Escolas em Hokkaido atrasaram seus horários de funcionamento, e alguns serviços de trem foram suspensos, segundo a emissora japonesa NHK.
Um aluno disse que o alerta causou um alarme momentâneo em uma estação de trem. "Por um segundo houve pânico no trem, mas um funcionário de uma estação pediu calma, e as pessoas atenderam", disse um estudante à NHK.
Os dados existentes sugerem que o projétil norte-coreano pode ter voado durante cerca de uma hora.
Novo tipo de míssil
O exército sul-coreano informou que o lançamento possivelmente foi de um "novo tipo" de míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês), que deve ter usado combustível sólido avançado, o que representaria um potencial avanço técnico no programa bélico de Pyongyang.
Todos os mísseis balísticos intercontinentais conhecidos de Pyongyang são movidos a combustível líquido. E ICBMs de combustível sólido que podem ser lançados de terra ou submarinos há muito estão no topo da lista de desejos do líder norte-coreano, Kim Jong-un.
Esses mísseis são mais fáceis de armazenar e transportar, mais estáveis e rápidos de preparar para o lançamento e, portanto, mais difíceis de detectar e destruir preventivamente.
Em um desfile militar em Pyongyang em fevereiro, a Coreia do Norte exibiu um número recorde de mísseis balísticos nucleares e intercontinentais, incluindo o que analistas disseram ser possivelmente um novo ICBM movido a combustível sólido.
Os Estados Unidos disseram que "condenam veementemente" a Coreia do Norte pelo teste do que descreveu como um "míssil balístico de longo alcance".
Série de lançamentos
O lançamento é o mais recente de uma série de testes de armas proibidos conduzidos pela Coreia do Norte, que já disparou este ano vários de seus mísseis balísticos intercontinentais mais poderosos.
A Coreia do Norte já lançou em 16 de março no Mar do Japão um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) do tipo Hwasong-17, o de maior alcance potencial de seu arsenal, assim como um Hwasong-15 (o segundo de maior alcance) em 18 de fevereiro, que caiu a sudoeste de Hokkaido.
Ambos os projéteis apresentaram parâmetros de voo muito semelhantes ao disparado nesta quinta-feira, permanecendo no ar por pouco mais de 60 minutos e percorrendo distâncias de cerca de mil quilômetros do ponto de lançamento.
Tsunami radioativo
Pyongyang também testou o que a mídia estatal afirma serem drones subaquáticos com capacidade nuclear – conhecidos como Haeil, a palavra coreana para tsunami – que seriam capazes de desencadear um "tsunami radioativo".
Na segunda-feira, o líder norte-coreano participou de uma reunião da Comissão Militar Central para discutir maneiras de "lidar com os movimentos crescentes dos imperialistas dos EUA e dos traidores fantoches sul-coreanos para desencadear uma guerra de agressão", segundo a mídia estatal de Pyongyang. Kim ordenou que as capacidades de dissuasão do país sejam fortalecidas com "velocidade crescente" e de maneira "mais prática e ofensiva".
Relações tensas
As relações entre as duas Coreias estão em um dos momentos mais tensos em anos, com Pyongyang no ano passado se declarando uma potência nuclear "irreversível" e encerrando efetivamente a possibilidade de negociações sobre desnuclearização.
No início deste ano, Kim ordenou que os militares intensificassem os exercícios para se prepararem para uma "guerra real". Em resposta, Washington e Seul intensificaram a cooperação de defesa, realizando exercícios militares conjuntos com jatos e equipamentos bélicos avançados dos EUA.
A Coreia do Norte considera essas manobras ensaios para uma invasão, e na terça-feira as descreveu como exercícios "frenéticos" que simulam "uma guerra total contra" Pyongyang.
Contatos cortados
A Coreia do Sul também acusou na terça-feira a Coreia do Norte de ser "irresponsável" depois que Pyongyang cortou o contato direto com Seul na semana passada.
Desde sexta-feira a Coreia do Norte não respondeu às ligações realizadas duas vezes ao dia por meio de uma linha direta militar e um canal de comunicação intercoreano, de acordo com o Ministério da Unificação de Seul.
Os contatos foram cortados um dia depois que Seul acusou Pyongyang de continuar usando sem autorização um complexo industrial conjunto na cidade norte-coreana de Kaesong.
md/lf (EFE, AFP, Reuters)
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