A decisão ocorre após a organização do evento "desconvidar" o ministro da da Agricultura, Carlos Fávaro, para a abertura da feira, e dar preferência para a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, que terá sua primeira agenda pública no país em 2023, quatro meses após ser acusado de instigar uma tentativa de golpe de estado que resultou na depredação das sedes dos Três Poderes.
O Banco do Brasil é um dos principais agentes financeiros que participam da Agrishow. Neste ano, o banco prevê gerar R$ 1,5 bilhão em negócios na feira.
Tradicionalmente, o titular da pasta da Agricultura é um convidado de destaque da abertura da Agrishow, ainda mais no início de um novo governo. Já a presença de ex-presidentes na abertura é inédita. Em 2022, o setor do agronegócio, em sua maioria, apoiou a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro.
Segundo relatou o ministro Carlos Fávaro, o presidente da feira, Francisco Matturro, entrou em contato com a pasta para informar sobre a presença de Bolsonaro na abertura, e que isso poderia causar desconforto ou manifestações contrárias ao governo.
"Eu fui desconvidado talvez para evitar algum mal-estar. Foi pedido se não seria melhor eu ir no dia 2. Eu entendi o recado, compreendo", disse o ministro. "Entendo que o Brasil precisa avançar, lá é uma feira de negócios não é um palanque político. Mas se em determinado momento quiserem transformar a Agrishow num palanque político isso é direito de seus organizadores que podem fazê-lo com tranquilidade", criticou Fávaro.
À jornalista Andréia Sadi, o ministro afirmou acreditar que toda a situação foi coordenada com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um aliado de Bolsonaro, numa tentativa de constranger o governo politicamente.
O presidente da feira negou que tenha desconvidado Fávaro para a abertura da Agrishow. Ao Globo Rural, Matturro disse que era sua "obrigação informar o ministro do movimento que está acontecendo em Ribeirão Preto". "Ligamos com a preocupação de informá-lo de que o ex-presidente virá à feira e queremos apenas informar que pode haver um constrangimento para todo mundo", disse.
Bolsonaro deve comparecer à feira na companhia do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um aliado do ex-presidente. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o convite para Bolsonaro visitar Ribeirão partiu do presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, Paulo Junqueira, que também preside a Associação Rural de Ribeirão e é vice-presidente da Associação Rural Vale do Rio Pardo.
Patrocínio
A atitude da organização levou o governo a rever o patrocínio do Banco do Brasil à feira. O primeiro movimento público nesse sentido foi feito pelo ministro Márcio França (Portos e Aeroportos), que contestou no Twitter o patrocínio do banco. "Se a Agrishow não quer o governo federal no evento, não sei se Banco do Brasil e o Governo Federal deveriam continuar patrocinando o evento", escreveu.
Mais tarde, foi a vez do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, se manifestar. "Na medida em que o evento perde sua característica institucional e na medida em que houve essa descortesia com o ministro [da Agricultura] e com o Banco do Brasil, que iria acompanhá-lo no evento, não se justifica mais o patrocínio", disse.
"Descortesia e mudança de caráter de um evento institucional de promoção do agronegócio para um evento de características políticas e ideológicas. Ou é uma feira de negócios plural e apartidária ou não pode ter patrocínio público”, disse Pimenta ao jornal O Estado de S. Paulo.
Já o Banco do Brasil informou que estará presente na Agrishow por meio de sua atuação comercial e atendimento aos seus clientes. "O BB tomará as medidas cabíveis se, durante a feira, houver qualquer desvio das finalidades negociais previstas."
Bolsonaro
A presença na abertura da Agrishow marcará a primeira participação de Bolsonaro em um evento público no Brasil desde que o ex-presidente deixou o Planalto e foi acusado de instigar os ataques de 8 de janeiro.
Nesta semana, Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. Ainda em abril, Bolsonaro prestou outro depoimento à PF para falar sobre sua participação n o caso das joias recebidas da Arábia Saudita. Há suspeita que o ex-presidente tenha atuado para incorporar ilegalmente as joias, avaliadas em milhões de reais, ao seu patrimônio.
A agenda completa de Bolsonaro em Ribeirão Preto não foi divulgada. Ao jornal Folha de S.Paulo, ruralistas disseram que ele participará de um churrasco numa fazenda. Apoiadores do ex-presidente também têm afirmado em redes sociais que Bolsonaro pode participar de uma "motociata" na cidade.
jps (ots)
REDES SOCIAIS