Desde 2018, nenhum secretário de Estado americano visitava a potência asiática. Guerra na Ucrânia, Taiwan e tensões comerciais marcam ponto baixo nas relações sino-americanas. Ambos se dizem dispostos a dialogar.Os chefes da diplomacia da China, Qin Gang, e dos Estados Unidos, Antony Blinken, reuniram-se neste domingo (18/06), em Pequim, iniciando a primeira visita de um secretário de Estado norte-americano ao país asiático em cinco anos.
Blinken é também o mais alto funcionário americano a visitar a China desde que o presidente Joe Biden iniciou o mandato, em 2021. Ele permanecerá em Pequim por dois dias para conversações que abrangerão "cooperação econômica, o conflito Rússia-Ucrânia, a questão de Taiwan e os preparativos para as próximas reuniões de alto nível", segundo meios de comunicação chineses.
Qin e Blinken já tinham trocado críticas na quarta-feira, durante uma conversa telefônica, o primeiro contato bilateral de alto nível em meses. O ministro chinês do Exterior apelou para que os EUA cessem ações que prejudiquem a segurança soberana e os interesses de desenvolvimento da China "em nome da concorrência". Por sua vez, Blinken pediu a Qin que "mantenha as linhas de comunicação abertas" para evitar conflitos.
"Balão espião" atrapalhou visita em fevereiro
O último secretário de Estado americano a visitar a potência oriental foi Mike Pompeo, em outubro de 2018. Novos contatos diretos foram dificultados devido às estritas medidas chinesas de combate à pandemia de covid-19 e, por último, pelo episódio do "balão espião chinês".
A visita de Blinken estava inicialmente prevista para fevereiro, na sequência do encontro entre Biden e o Presidente chinês, Xi Jinping, à margem de uma cimeira do G20 na Indonésia, em novembro.
Porém a iniciativa foi suspensa em cima da hora ao detectar-se um balão chinês sobrevoando território americano. Washington suspeitava ser um artefato espião, enquanto Pequim afirmava tratar-se de um aparelho meteorológico que se desviara da rota.
Enquanto Blinken voava para a China, o presidente Biden minimizou o episódio: "Não creio que os dirigentes [chineses] soubessem onde estava o balão, o que continha e o que se estava ocorrendo. Penso que foi mais embaraçoso do que intencional", acrescentou, segundo a agência de notícias AFP.
As relações sino-americanas encontram-se num ponto baixo. Entre as principais fontes de tensão estão o continuado conflito comercial bilateral, o apoio de Pequim à guerra russa na Ucrânia e as ameaças chinesas ao estado insular do Taiwan. O governo Biden vê na potência asiática seu maior desafio geopolítico e tem adotado a linha dura contra ela.
China: "Parem de dizer uma coisa e fazer outra"
Antecipando a visita, o porta-voz do Ministério do Exterior Wang Wenbin sinalizou disposição ao diálogo pelo retorno das relações a uma "rota estável de desenvolvimento", mas exigiu que os EUA parem de "dizer uma coisa, mas fazer outra" e de "fantasiarem sobre uma posição de força em relação à China".
Apesar de tudo, o Departamento de Estado americano diz-se disposto a iniciar um degelo diplomático e manter o diálogo para "gerir responsavelmente a relação sino-americana". Anteriormente, contudo, o órgão admitira não serem de se esperar grandes avanços nas conversações, dadas as muitas áreas de fricção entre Washington e Pequim.
A reunião entre Qin e Blinken foi seguida de um jantar de trabalho. Na segunda-feira, Blinken volta a conversar com Qin, bem como com o principal diplomata chinês, Wang Yi, e possivelmente com o presidente Xi Jinping. Biden também já acenara com tal possibilidade.
"Espero voltar a me encontrar com Xi nos próximos meses e conversar sobre diferenças justificadas que temos, mas também sobre em que campos podemos nos entender", comentou o chefe de Estado democrata antes do desembarque de Blinken.
av (EFE,Reuters,DPA)
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