"Assim como todos nós estamos enfrentando encarecimentos enormes – impulsionados sobretudo pelos preços elevados de combustível e energia – o mesmo acontece com companhias aéreas, aeroportos, empresas de manutenção e prestadoras de serviços", explica o especialista em viagens aéreas Cord Schellenberg.
Acrescente-se que a demanda de passagens é muito grande na Europa, desde a normalização do tráfego aéreo. Ao mesmo tempo, as capacidades de voos oferecidas ainda não retornaram ao nível de 2019, portanto "demanda alta coincide com oferta muito reduzida".
A recuperação do setor é também mais lenta na Alemanha: segundo a Federação do Setor de Tráfego Aéreo Alemão (BDL), em 2022 a oferta nacional de voos equivalia a 70% do nível pré-pandemia – enquanto em outros países europeus essa percentagem já era de 84%. No verão de 2023 (julho a setembro), o restante da Europa estará em 95%, contra meros 85% na Alemanha.
Adeus, pechinchas de dez euros
Por outro lado, os preços continuam subindo: o portal comparativo Idealo registrava acréscimos de 20% nos voos de verão, em relação ao ano anterior. E, segundo Schellenberg, "atualmente os passageiros estão dispostos a pagar os preços mais altos".
"Cabe aguardar se isso se deve a um efeito de compensação – 'finalmente se pode viajar novamente' – ou a uma mudança generalizada de atitude – 'está certo as viagens custarem mais, já que antes estavam baratas demais'", especula o especialista.
Christoph Brützel, professor de gestão de tráfego aéreo da Escola Superior Internacional de Bad Honnef conta pelo menos com um breve recuo dos preços: "No ano que vem, eles vão antes cair", prediz.
No entanto, aqui o fator decisivo não é tanto a inflação generalizada e o preço do querosene de aviação, mas sim as capacidades que as companhias disponibilizam, as quais agora estão crescendo gradualmente, prossegue o docente alemão. A dura competição no setor levará, em muitos casos, a uma superoferta, e aí só será possível voltar a lotar os aviões oferecendo preços atraentes.
Ainda assim, há diversos indícios de que as passagens extremamente baratas de antes de 2019 não voltarão mais. O presidente da Ryanair, Michael O'Leary, admitiu à emissora BBC que acabaram-se os tempos das pechinchas de dez euros: nos próximos anos, a média dos preços de sua companhia deverá subir de 40 euros para 50 euros, principalmente em decorrer do encarecimento dos combustíveis.
Combustíveis sustentáveis também encarecem passagens
Harald Zeiss, pesquisador de sustentabilidade no turismo da Faculdade de Estudos Aplicados Harz, em Wernigerode, confirma a tendência: "Energia fóssil ficará cada vez mais cara" e "quem depende de querosene não terá nada a fazer, senão repassar os custos montantes aos clientes,"
Até porque cresce sobre o setor aéreo a pressão para arcar com os danos climáticos causados por suas atividades. "Os custos ambientais de voar devem se fazer notar muito mais fortemente nos preços de passagens", antecipa Werner Reh, porta-voz do grupo de trabalho para tráfego da associação ambiental Bund.
"Uma tonelada de CO2 provoca danos climáticos na casa de 180 euros", explica, e o método mais simples de orçar isso é com um imposto sobre o querosene de aviação. Assim, um voo econômico Alemanha-República Dominicana ficaria 180 euros mais caro. No entanto, Reh reconhece que aplicar tal imposto em nível internacional seria "extremamente difícil".
Assim, o que nos próximos anos deverá, antes, provocar uma subida dos preços será o emprego crescente do combustíveis de aviação sustentáveis (SAF, na sigla em inglês).
O pacote de medidas da União Europeia Fit for 55, por exemplo – que visa a redução das emissões carbônicas em 55%, até 2030 – estabelece quotas vinculativas de SAFs nessa área. Para as empresas aéreas, isso implica gastos por tonelada de combustível até 16% superiores aos do querosene fóssil puro.
O instituto de pesquisas econômicas SEO Amsterdam Economics calcula que o pacote Fit for 55 tornará um voo de 3 mil quilômetros dentro da Europa 45 euros mais caro até 2030, e 65 euros até 2035.
Isso não é tudo, porém: uma outra análise mostrou que a meta de, até 2050, zerar as emissões de CO2 do transporte aéreo europeu custará ao todo 820 bilhões de euros. Segundo os pesquisadores, uma das consequências será o encarecimento das passagens.
REDES SOCIAIS