Novas investigações do caso, apresentadas à sociedade com a deflagração de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (24/07), podem, contudo, ajudar a fornecer as peças que faltam para responder a essas perguntas.
Quem são os suspeitos vivos?
O ex-policial militar Élcio Queiroz, que firmou acordo de delação premiada e confessou que dirigiu o carro usado no crime. Está preso desde 12 de março de 2019.
O ex-sargento da PM Ronnie Lessa, preso no mesmo dia e posteriormente apontado por Queiroz como autor dos disparos. Lessa foi preso em casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, área nobre do Rio.
Denis Lessa, irmão dele, entrou na mira dos investigadores com a operação deflagrada nesta segunda-feira, sob suspeita de ter recebido o arsenal usado no crime.
O ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel: acusado por Queiroz e preso na segunda, é suspeito de ter vigiado a vereadora desde agosto de 2017 e participado de uma ação frustrada para matá-la. Uma vez consumado o crime, ele teria agido para ocultar provas e atrapalhar as investigações. Corrêa já tem uma condenação por tentar obstruir as investigações do caso.
Outros suspeitos que entraram no radar das autoridades na segunda são Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha, que teria feito o desmanche do veículo usado no crime; o casal João Paulo Vianna Soares, o Gato do Mato, e Alessandra da Silva Farizote, que teriam descartado arma usada no crime; e dois homens que teriam vazado informações sobre as investigações a Lessa para ajudá-lo – o PM Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o Mauricinho; e Jomar Duarte Bittencourt Júnior, Jomarzinho, filho de um delegado federal.
Quais suspeitos foram mortos no decorrer das investigações?
O ex-PM Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, foi apontado por Queiroz como tendo recrutado Lessa, mas acabou executado em novembro de 2021. Suspeito de envolvimento em atividades criminosas no Rio de Janeiro, Macalé teria, ao lado de Lessa e Corrêa, vigiado Marielle e participado de uma tentativa frustrada de assassiná-la em 2017.
O miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020 durante ação policial na Bahia que chegou a ser apontada por parentes como "queima de arquivo", comandava o Escritório do Crime, organização suspeita de envolvimento no assassinato de Marielle. Ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio, Nóbrega foi assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) quando o político ainda era deputado estadual. A mãe dele e uma ex-mulher também foram funcionárias do gabinete de Flávio.
Por que Queiroz decidiu fazer a delação?
As autoridades dizem ter reunido provas robustas sobre a participação dele e de Lessa no crime, razão pela qual Queiroz teria se disposto a colaborar. Lessa teria buscado por dados de Marielle e de membros da família da vereadora. A mulher de Lessa também teria confirmado que a dupla não estava em casa na noite do assassinato – imagens mostram Queiroz dentro do carro estacionado em frente ao último local onde Marielle esteve antes antes de ser morta, no mesmo veículo usado no crime naquela mesma noite.
Por que a PF entrou no caso?
O delegado que acompanhou o caso no primeiro ano de investigação, Giniton Lages, foi afastado logo após a prisão de Lessa e Queiroz, em 2019. O inquérito da Polícia Civil seguiu trocando de mãos, e no Ministério Público promotoras abandonaram o caso queixando-se de "interferências externas".
Apesar disso, até a eleição e posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, a família de Marielle se opôs à federalização das investigações devido à proximidade de filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro com suspeitos do crime.
Com a entrada da PF no caso, anunciada em 14 de fevereiro, o novo governo – do qual participa Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial – quer demonstrar compromisso com a elucidação do crime.
No início deste ano, a PF concluiu em uma "investigação da investigação" do caso Marielle que PMs e advogados plantaram uma testemunha para obstruir o trabalho da Justiça.
Nos últimos meses, fatos revelados por novas investigações sugeriram uma estrutura de autoproteção das polícias, Ministério Público e do Judiciário no Rio. Em setembro do ano passado, o ex-secretário estadual de Polícia Civil, Allan Turnowski, foi preso por suspeita de organização criminosa e envolvimento com o jogo do bicho. No mesmo mês, o ministro Kassio Nunes Marques, do STF, revogou a prisão, mediante medidas cautelares.
Segundo as investigações do MP-RJ, Turnowski recebia propina do jogo do bicho e estaria envolvido em um plano para assassinar o bicheiro Rogério Andrade. O contraventor, por sua vez, foi apontado em maio do ano passado como um possível mandante do assassinato de Marielle. Para os promotores, Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora, atuava como uma espécie de segurança de Andrade.
ra/bl (ots)
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