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Pleito ocorre em meio a preocupação com o bolso, superando temor das ameaças militares de Pequim. Um novo modelo econômico se faz necessário, em meio à queda na produção industrial e ao envelhecimento da população.A economia de Taiwan, que já foi considerada milagrosa, não possui mais o dinamismo de outrora. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que em 2021 era de impressionantes 6,6%, caiu para 2,6% em 2022 e 1,4% em 2023.

Assim, não é surpreendente que a prosperidade econômica esteja na cabeça de muitos na província autogovernada em meio à realização das eleições para eleger um novo presidente neste sábado (13/01).

Existe, é claro, o debate em torno dos gastos com a defesa, mas, a ameaça militar da China – que considera Taiwan como parte de seu território – preocupa apenas uma parcela dos eleitores, como afirmaram na semana passada os especialistas Chung-min Tsai e Yves Tiberghien, em artigo de opinião publicado no jornal australiano Financial Review.

"Pouco menos da metade dos eleitores, segundo pesquisas, estão preocupados com uma possível guerra nos próximos cinco anos", escreveu a dupla de especialistas da Escola de Economia e Ciência Política de Taipei.

Os taiwaneses se acostumaram com as ameaças de segurança. Em contrapartida, "ansiedades sobre a perspectiva econômica e de renda, aumento nos aluguéis, insegurança energética e desigualdade prevalecem no afastamento político [dos eleitores] do atual governo", disseram os autores do artigo.

Queda na produção industrial

Gigantes da produção tecnológica, como Taiwan e Coreia do Sul, sentem o peso da queda na demanda global. A indústria sul-coreana passa por um período instável, e Taiwan teve queda de produção pelo 19º mês seguido em dezembro, segundo a agência de notícias Reuters, citando índices de gerenciamento de compras.

O desempenho econômico taiwanês desacelerou, em grande parte, devido à morosidade nas exportações e pela demanda insuficiente na China por produtos fabricados na ilha. Ao mesmo tempo, também diminuem os investimentos chineses em Taiwan.

A retomada do crescimento do consumo privado após a pandemia de covid-19 trouxe alguma esperança, segundo Min-Hua Chiang, que também trabalha para diversos think-tanks nos Estados Unidos, como a Heritage Foundation e o East-West Center.

Juntamente com os problemas econômicos aparecem também os estruturais. Taiwan enfrenta desafios comuns às sociedades industrializadas, sendo que um dos maiores destes é o aumento do custo com os cuidados necessários a uma população que envelhece cada vez mais.

Mais gastos sociais, menos com defesa

Ao mesmo tempo em que a taxa de inflação taiwanesa é relativamente baixa em comparação com outros países industrializados, os rendimentos reais dos trabalhadores estão sendo dilapidados. O país paga o preço por ter se apoiado primeiramente em salários e remunerações baixas para manter sua competitividade nas exportações.

Durante anos, o governo vem tentando aliviar a frustação popular com o aumento dos benefícios sociais. Até 2022, o governo chegou a dedicar 27% de seus gastos totais com a seguridade social – três vezes mais do que em 1994, escreveu Min-Hua Chiang em uma análise publicada no jornal comercial East Asia Forum.

O envelhecimento populacional em Taiwan afeta de maneira desproporcional a defesa do país. Segundo estimativas da ONU, o percentual de pessoas com mais de 65 anos deve aumentar de 15% em 2019 para 35% até 2050.

Enquanto sua população envelhece e aumentam os gastos com benefícios sociais, Taiwan gasta proporcionalmente menos em defesa.

Recentemente, a província dedicou em torno de 2,6% de seu PIB aos gastos militares. Em décadas recentes, essa parcela era de 10%. Em comparação, os países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm como meta dedicar 2% de seus PIBs em defesa.

Queda nas exportações

A economia de Taiwan floresceu nos anos 1990 graças às exportações de bens industriais tecnológicos á China. No entanto, as reformas impostas pelo governo chinês e o relaxamento das tensões entre Pequim e Washington deram enorme impulso à cooperação entre Taiwan e China.

Contudo, após 30 anos, esse modelo de sucesso parece estar perdendo o fôlego. O conflito comercial entre a China e os EUA, iniciado no governo do presidente Donald Trump, se intensificou na Presidência de Joe Biden.

Além das consequências das duras medidas impostas por Pequim para combater o coronavírus, a atual crise imobiliária chinesa, o endividamento de seus municípios e províncias e a morosidade no consumo privado, são fatores que contribuem para uma desaceleração do crescimento econômico.

Enquanto as exportações de Taiwan para China e Hong Kong caíram de 44% em 2020 para 35% em 2023, as vendas para os EUA e os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) aumentaram 7%.

Ao mesmo tempo, os investimentos taiwaneses na China caíram 17% entre janeiro e outubro de 2023, para 2,5 bilhões de dólares. No mesmo período, as empresas de Taiwan investiram 9,6 bilhões de dólares nos EUA e 2,3 bilhões em Cingapura.

Campeã na fabricação de chips

Nenhuma outra empresa é tão dominante em Taiwan como a maior fabricante de chips do mundo, a gigante dos semicondutores TSMC, responsável por mais de um quarto – atualmente 27% – da capitalização total de mercado de toda a relação de empresas na Bolsa de Valores de Taiwan.

A dependência da ilha na indústria dos semicondutores é imensa. Os chips representam atualmente 42% das exportações taiwanesas, com um aumento de quase 10% registrado na última década. A TSMC quer aumentar a produção de chips nos EUA e na Europa, por exemplo, com fábricas em Phoenix, no Arizona, e em Dresden, na Alemanha.

A TSMC já investiu 40 milhões de dólares na nova fábrica em Phoenix. Ainda não se sabe quanto a empresa deverá gastar em sua fatia de 70% das instalações em Dresden. A fábrica, operada pelas parceiras Bosch, Infineon e NXP, está programada para iniciar a produção de semicondutores em 2027.

Isso, porém, não significa que a TSMC vá virar as costas para China, explica o economista Alexander Sandkamp do Instituto Kiel para Economia Global.

"No entendimento das empresas taiwanesas como a TSMC, faz sentido diversificar a produção. Não devemos esquecer que a empresa ainda possui fábricas na China. Se houver uma ruptura entre a China e o Oriente, mesmo sem uma escalação militar, a empresa poderá abastecer os dois lados", disse o pesquisador à DW.

Fortalecer o crescimento econômico

"Taiwan se aproxima de um ponto de inflexão em seu desenvolvimento econômico", destacou Min-Hua Chiang.

A pesquisadora explicou que a economia da ilha viu inicialmente 30 anos de um sólido crescimento, incensado pela exportação de bens de consumo para os EUA. Após a abertura chinesa, foram outros 30 anos de crescimento impulsionado pelas exportações de peças para linhas de montagem na China.

Agora, segundo a especialista, é o momento de Taiwan "criar um novo modelo para fortalecer o crescimento econômico pelos próximos 30 anos".