Por que os custos globais de transporte voltaram a aumentar

Restrições ao transporte marítimo por causa de conflito no Mar Vermelho e seca no canal do Panamá pressionam custos de frete e o comércio global


Dirk Kaufmann

10/07/2024 13h30

Os sucessivos ataques da milícia houthia navios cargueiros na região do Mar Vermelho têm colocado em risco a rota marítima para o comércio global e pressionado os preços de frete. Há mais de seis meses, os rebeldes intensificaram a ofensiva contra proprietários ou operadores ligados a Israel em retaliação ao conflito empenhado pelo país contra o grupo Hamas.

Em 20 de junho, por exemplo, os houthis, que dizem estar lutando pela causa palestina, afundaram um navio de carvão com um ataque de drone. A milícia controla parte do Iêmen e é apoiada pelo Irã.

Em resposta, embarcações militares dos EUA e do Reino Unido atacaram posições da milícia no Iêmen nos últimos meses. Navios de guerra de duas coalizões internacionais também estão operando na região para proteger o tráfego marítimo ao longo da costa do país. A Marinha alemã, por exemplo, faz parte da missão naval Aspides, da União Europeia.

A rota é utilizada por cargueiros que navegam a caminho do Golfo de Áden e do Canal de Suez, que liga os mercados da Ásia e da Europa sem a necessidade de contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança.



Os custos de transporte estão subindo novamente

O comércio global se mantém sob imensa pressão desde o início da guerra entre Israel e Hamas em outubro. Com o conflito no Mar Vermelho, os custos de frete e seguro de mercadorias ficaram mais altos. Por lado, os prêmios do seguro foram impactados pelo risco de perder um navio na região. Por outro, as medidas para evitar o Canal de Suez aumentam o tempo de viagem e levam a um maior consumo de combustível.

O Drewry World Container Index, que monitora o mercado de frete, relatou que, somente na terceira semana de junho, os preços de transporte de um contêiner padrão de 40 pés aumentaram 7% - um salto de 233% em comparação com o mesmo período do ano anterior.



Em busca de rotas mais seguras

Simon MacAdam, analista da empresa de consultoria financeira Capital Economics, com sede em Londres, diz que as empresas de navegação estão sendo forçadas a encontrar alternativas.

"Os armadores parecem ter se adaptado muito bem à situação, considerando as limitações de uso do Canal de Suez", disse ele à DW, acrescentando que os custos caíram brevemente nesta primavera "depois de terem disparado em janeiro". Mas agora "eles estão começando a subir novamente", sugerindo que não há razão para alívio.

"Outro fator parece ser o fato de que os importadores estão atualmente aumentando os pedidos para garantir que tenham mercadorias suficientes em estoque. Mas com os navios sendo redirecionados ao redor do Cabo da Boa Esperança, é mais provável que haja novos picos de preços", disse.



Mais navios

Jan Hoffmann, especialista em comércio da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), também culpa os tempos de viagem mais longos pela África pelo aumento dos custos.

"O desvio em torno da África do Sul exige mais navios para manter o fornecimento. A distância média de viagem de um contêiner em 2024 é 9% maior do que em 2022", disse ele à DW.

Como os navios passam mais tempo no mar, é necessário mais espaço de transporte, disse ele. Isso significa que as empresas de transporte precisam fretar ou comprar mais navios e contratar mais pessoal. "E como esses navios ainda não existem, os preços do frete aumentarão."

Hoffmann também apontou outro efeito colateral indesejável das rotas marítimas mais longas: o aumento das emissões de gases de efeito estufa. "Os navios aumentaram suas velocidades, o que levou a um aumento nas emissões, por exemplo, em 70% na rota Singapura-Roterdã."



Problemas na América Central

Além das preocupações com a segurança no Oriente Médio, o comércio global também está sendo prejudicado pelos baixos níveis de água no Canal do Panamá, disse Hoffmann. Isso significa que a hidrovia não pode ser totalmente utilizada. Como resultado, os embarcadores dos EUA tiveram que integrar o que ele chama de "ponte terrestre" em suas rotas marítimas com o Leste Asiático, o que significa que eles precisam transportar mercadorias através dos EUA por ferrovia ou rodovia - desde os portos da Costa Oeste até a Costa Leste dos EUA.

O transporte de commodities a granel, como trigo ou gás natural liquefeito (GNL), através dos EUA é economicamente inviável, acrescentou ele, obrigando os transportadores a usarem a longa rota de desvio em torno do Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul.

No entanto, Simon MacAdam vê alguma luz no fim do túnel no que diz respeito ao retorno à navegação normal do Canal do Panamá. Os níveis de água no canal, disse ele à DW, "se recuperaram um pouco" nos últimos meses, e o fenômeno climático La Niña deve "aliviar ainda mais a situação em breve". Um ligeiro aumento nos níveis de água no Canal do Panamá já aumentou o transporte de carga no local, acrescentou MacAdam.



O Mar Vermelho continuará perigoso

Simon MacAdam acredita que uma crise prolongada poderia sobrecarregar as empresas de transporte marítimo e aumentar significativamente as taxas de frete. De acordo com a Bloomberg, cerca de 70% do comércio do Mar Vermelho ainda está sendo redirecionado pela África.

"A construção de navios leva muitos anos, e 90% dos novos contêineres são construídos na China. Capacidades mais altas não podem ser alcançadas da noite para o dia", disse o especialista da Capital Economics à DW, alertando que a crise no setor pode ficar "ainda pior".

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