Em 19 de julho, a milícia islâmica houthi explodiu um drone na capital israelense, Tel Aviv, de mais de 2 mil quilômetros ao sul, resultando em um morto e oito feridos. Em resposta, caças israelenses atacaram a cidade portuária de Hodeidah, no oeste do Iêmen, que é controlada pelos houthis. Segundo o Ministério da Saúde iemenita, houve seis mortos e 83 feridos.
Ataques contra navios continuam
Apesar do risco de serem atacados pelos houthis, vários navios continuam cruzando o Mar Vermelho, que tem apenas 30 quilômetros de largura no seu ponto mais estreito.
"Até agora, o alvo tem sido navios porta-contêineres internacionais maiores", explica Emily Stausboll, analista chefe de transporte marítimo da consultoria dinamarquesa Xaneta. "Navios menores não são atacados na mesma proporção." Alguns operadores, portanto, ainda considerariam uma passagem pelo Mar Vermelho "razoavelmente segura", apesar do risco de ataque.
Até agora, os ataques pelos houthis têm se dirigido principalmente contra porta-contêineres, não tanto contra graneleiros e petroleiros. Os houthis também garantiram à China e à Rússia que não atacariam seus navios, informou em março a agência de notícias Bloomberg.
Embora o tráfego marítimo no Mar Vermelho tenha caído drasticamente, as ofensivas pelos rebeldes prosseguem. Em Al Mukha, ao sul do porto de Hodeidah, um ataque de drones perto do no navio Pumba, de bandeira liberiana, causou estragos, ainda que de menor dimensão. O capitão de outro navio também relatou ter sido atacado por três pequenos barcos, que colidiram contra seu navio e dispararam. Os incidentes foram confirmados pela Marinha Britânica.
Versões conflitantes dos danos
De acordo com os houthis, ataques aéreos israelenses em Hodeidah, que se seguiram ao com drones a Tel Aviv, danificaram depósitos de combustível no porto e numa central elétrica próxima. Um funcionário portuário não identificado de Hodeidah disse à AFP que o porto, os contêineres e os navios permaneceram "intactos".
De acordo com a empresa de segurança britânica Ambrey, havia quatro navios mercantes no porto no momento do ataque e mais oito ancorados em frente a ele. Segundo o grupo de analistas Navanti, sediado nos Estados Unidos, cinco guindastes portuários de contêineres "provavelmente não estão mais operacionais".
O jornalista iemenita Basem Ganani supõe que o porto poderá voltar a funcionar dentro de alguns dias, mas a agência de notícias independente Yemen Monitor cita fontes anônimas segundo as quais, por ora, o porto não poderá mais importar derivados de petróleo e gás devido aos danos, e poderá levar mais de seis meses até que as operações sejam restabelecidas.
Embora Hodeidah não seja exatamente uma escala importante para porta-contêineres internacionais, ele é o principal porto do Iêmen e ponto de entrada para até 80% das importações de combustível, alimentos e ajuda humanitária para o país mais pobre da Península Arábica.
O porto foi concluído em 1961 com a ajuda da União Soviética, capturado pelos houthis em 2015 durante a guerra cvil do Iêmen e atacado pela Arábia Saudita três anos depois. Riad lidera a aliança militar para restaurar o governo anterior do país, reconhecido internacionalmente. Mais tarde, as Nações Unidas concordaram com um pacote de mais de 45 milhões de euros para reparar os danos de guerra no porto.
Longas rotas marítimas: preços mais altos, grandes emissões de CO2
Os ataques ao porto foram amplamente condenados e descritos como uma violação flagrante do direito internacional. No entanto, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu a decisão, dizendo que Hodeidah "não era um refúgio inocente", mas "o ponto de entrada para armas fornecidas pelo Irã aos seus representantes terroristas houthis" e usada para atacar Israel e os Estados árabes da região.
Tanto Israel quanto os houthis prometeram intensificar seus ataques recíprocos. O grupo islâmico xiita disse que poderia estender seus ataques com drones e mísseis ao comércio marítimo da região. A recentes investidas contra Tel Aviv e à cidade de Eilat provam que os houthis são capazes de atingir alvos de longo alcance.
O desvio da rota comercial provocou o congestionamento nos portos da Ásia e da Europa, além de aumentar os custos de transporte. A rota marítima ao redor do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, leva até duas semanas a mais do que a viagem através do Canal de Suez – só o combustível adicional custa quase 1 milhão de euros por viagem, estima a empresa de consultoria marítima LSEG Shipping Research.
Os preços do transporte de mercadorias em navios porta-contêineres já haviam aumentado dois anos atrás, com os gargalos da cadeia de abastecimento devidos à crise da pandemia de covid-19, pressionando a inflação. Agora há receios de que uma escalada entre Israel e os houthis possa elevar ainda mais os preços ao consumidor.
O desvio também tem impacto no meio ambiente: de acordo com a Bloomberg, as emissões de CO2 do setor marítimo aumentaram 23 milhões de toneladas no primeiro semestre do ano. As emissões dos navios porta-contêineres aumentaram um total de 15% no mesmo período.
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