Com ousadia e sangue-frio, em 2019, membros de um clã criminoso de Berlim roubaram tesouros barrocos de mais de € 100 milhões. O inquérito ainda corre, mas parte das peças pode ser vista no Grünes Gewölbe.
O roubo das joias do museu de Dresden foi um dos mais espetaculares da história alemã. Em novembro de 2019, criminosos levaram de lá objetos do século 18 avaliados em mais de 100 milhões de euros (cerca de R$ 600 milhões), que a polícia só recuperaria, em parte, três anos mais tarde. Cinco membros de um clã criminoso de Berlim foram sentenciados, enquanto um sexto ainda responde a inquérito.
A partir desta quarta-feira (14), as preciosas peças podem voltar a serem admiradas em seu local original. Já antecipando um grande afluxo de visitantes, o Grünes Gewölbe até ampliou seus horários de funcionamento.
As preciosidades da era barroca ainda estão sendo expostas no estado como os ladrões as devolveram em dezembro de 2022, sem restauração. Na vitrine, elas cintilam como se nunca tivessem saído de lá. Só observando com atenção é que se notam os defeitos.
"No momento, partimos do princípio de que todas as peças possam ser restauradas", anunciou Marion Ackermann, diretora das coleções estatais de arte de Dresden. No entanto, isso só será possível quando o inquérito estiver definitivamente encerrado. O motivo é que nem todas as circunstâncias do crime estão esclarecidas, e as joias contam como provas no processo em andamento.
Pompa barroca em mãos criminosas
Por volta das 5h da madrugada de 25 de novembro de 2019, depois de sabotar a iluminação da rua diante do Palácio Real de Dresden, criminosos cortaram parte da grade de uma janela do Grünes Gewölbe, que forçaram com uma ferramenta hidráulica. Dois deles invadiram o local, atravessaram duas salas de exposição e chegaram à câmara das joias.
Apesar de terem disparado diversos alarmes, eles não se deixaram abalar: com machados pesados e força bruta, quebraram a vitrine, juntaram tudo o que puderam e sumiram, pouco antes da polícia chegar ao local. Ao todo, abocanharam 21 peças históricas avaliadas em quase 114 milhões de euros, contendo um total de 4.300 diamantes e brilhantes.
Elas integravam o tesouro de Augusto 2º, o Forte (1670-1733), príncipe eleitor da Saxônia e rei da Polônia, apelidado de "Rei-Sol da Saxônia", em alusão ao celebrado Luís 14 da França (1638-1715). Regendo de 1694 até a morte, entrou para a história como bom vivant libertino, que amava o luxo, pompa e mulheres. A ele a cidade de Dresden deve até hoje seu esplendor barroco.
Tal estilo de vida incluía, claro, as joias mais preciosas possíveis. Entre outras, Augusto mandou manufaturar uma adaga encrustada com diamantes, uma estrela da Ordem da Águia Branca da Polônia, e uma dragona (pala decorativa para os ombros) adornada com um dos maiores diamantes da Alemanha, o "Branco Saxão", com quase 50 quilates.
Pedras mais preciosas continuam desaparecidas
Logo o assalto foi classificado como "o golpe do século": a imprensa de todo o mundo noticiava que a Alemanha perdera um de seus tesouros culturais mais valiosos. Peritos partem do princípio de que a operação fora encomenda por um colecionador de arte rico, com a intenção de desmontar as peças e voltar a lapidar as gemas, já que no mercado livre não seria possível vender joias famosas assim.
Nesse ínterim, as investigações conduziram as autoridades alemãs até um clã familiar de Berlim. Este já estava sob observação policial, pois alguns de seus membros estavam prestes a serem condenados por um outro roubo de arte espetacular: em março de 2017, com o mesmo grau de ousadia e sangue-frio, eles haviam levado do Museu Bode de Berlim uma moeda de ouro gigante, pesando 100 quilos.
As primeiras detenções vieram menos de um ano após o assalto ao Grünes Gewölbe. Após longos trâmites, em 28 de janeiro de 2021, seis suspeitos foram levados a tribunal em Dresden. Um acordo entre os advogados e a promotoria resultou na devolução de parte do butim, em dezembro de 2022. Segundo uma restauradora do museu, alguns dos objetos históricos estavam bastante danificados, com arestas quebradas, deformações e avarias por umidade resultantes de armazenamento impróprio ou uma tentativa de limpeza.
Após a coleta de indícios, a sala de exposições em Dresden logo foi reaberta ao público. A vitrine quebrada dominava o centro da câmara das joias, como um símbolo de advertência. Dentro, viam-se os botões, fivelas, colares de pérolas e outros objetos menores que os ladrões não conseguiram carregar.
Agora, a maior parte das lacunas da vitrine está novamente preenchida. Contudo, até hoje, não se tem qualquer pista de três peças especialmente valiosas, contendo gemas de grande porte, entre as quais a dragona do "Branco Saxão". Marion Ackermann torce para que um dia elas sejam restituídas, retomando seu posto de honra no museu na capital da Saxônia.
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