Volkswagen tem "um ou dois anos" para se recuperar, dizem executivos; trabalhadores protestam
04/09/2024 17h27
A gigante automobilística alemã cogita fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em seus 87 anos de história. Na segunda-feira, a empresa informou ao Conselho dos Trabalhadores que estudava fechar pelo menos uma fábrica de veículos maiores e uma fábrica de componentes, com o objetivo de cortar bilhões em gastos.
O CEO da Volkswagen, Oliver Blume, justificou que "a indústria automobilística europeia encontra-se atualmente em uma posição desafiadora e séria", e que não pode descartar o fechamento de unidades e demissões.
Nesta terça, grande parte dos 25 mil trabalhadores presentes abriram a reunião na sede da VW, em Wolfsburg, entoando o slogan "nós somos a Volkswagen, vocês não" e dando auf Wiedersehen ("até mais ver") para o chefe de finanças da empresa, Arno Antlitz, enquanto ele subia ao palco.
Meta de priorizar veiculos elétricos
Antlitz disse que o mercado automobilístico na Europa encolheu significativamente desde a pandemia de covid-19, e que a empresa teve queda na demanda de cerca de 500 mil veículos, o que equivale ao trabalho de duas fábricas.
"O mercado simplesmente não está lá", afirmou Antlitz aos funcionários, ressaltando que é responsabilidade tanto da diretoria quanto dos trabalhadores preparar a adaptação de frota de automóveis para priorizar a produção de veículos elétricos, o que exige cortes de gastos.
As gigantes automobilísticas europeias, incluindo a Stellantis – proprietária de marcas como Fiat, Citroen e Peugeot – e a Renault, enfrentam uma série de desafios, como o alto custo laboral e de energia, além da competição de marcas asiáticas de baixo orçamento que vêm aumentando suas exportações para a Europa.
A Volkswagen também é proprietária das marcas Audi, Seat e Skoda.
"Declaração de falência"
A chefe do Conselho dos Trabalhadores, Daniela Cavallo, reagiu à fala de Antlitz afirmando que o quadro diretivo da empresa "danificou massivamente a confiança", e comparou a ameaça de fechar fábricas a uma "declaração de falência".
Cavallo acusou o CEO do grupo Volkswagen, Oliver Blume, de priorizar um acordo de cerca de 5,5 bilhões de euros (R$ 34 bilhões de reais) com a empresa americana de softwares Rivian, ao invés de proteger os empregos na Alemanha.
O sindicato dos metalúrgicos IG Metall já cogita realizar greves e afirma não ver motivos para retirar suas exigências de aumento salarial das próximas rodadas de negociação.
Preocupações com a economia alemã
Os problemas da Volkswagen são exemplos dos grandes desafios enfrentados pelas empresas alemãs, de modo geral. O crescimento econômico estagnado, a inflação e a maior competição vinda do exterior são motivos de preocupação com o bem-estar da maior economia da Europa.
O governo do chanceler alemão Olaf Scholz fez da Volkswagen uma de suas maiores prioridades. Ele conversou com diretores da empresa e com o Conselho de Trabalhadores e, segundo um porta-voz, está "ciente da importância" da companhia para a Alemanha.
O ministro do Trabalho da Alemanha, Hubertus Heil, afirmou a jornalistas que Alemanha deve continuar sendo um dos grandes países produtores de automóveis. O ministro informou que o gabinete de Scholz chegou a um acordo nesta quarta-feira para reduzir impostos e, assim, aumentar a demanda por carros elétricos.
Fim de garantias trabalhistas
No anuncio de segunda-feira, a Volkswagen informou que tentaria pôr fim a um acordo de décadas atrás com trabalhadores que garante a segurança do emprego nas seis fábricas da empresa. O fim desse pacto seria parte da estratégia para reduzir os gastos da automobilística em até 10 bilhões de euros (R$ 62,5 bilhões).
Os executivos da empresa planejam atingir uma margem de lucro de 6,5% com a marca VW até 2026, o que seria uma alta significativa em relação aos 2,3% obtidos no primeiro semestre de 2024.
rc/ra (DPA, Reuters)
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