Fundação Padre Anchieta

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Foto: Reprodução da internet
Foto: Reprodução da internet Tito Andrônico

Ouça o programa completo:


Tito Andrônico é uma peça da juventude de Shakespeare. E, como jovem e impetuoso que era, tentou dar à plateia aquilo que ela mais gostava de consumir nos teatros de seu tempo: a violência. Essa é uma peça recheada de sangue, mas tão sanguinolenta que chega a ser patética, irreal, quase uma paródia da vida. Há amputações, mutilações, assassinatos, enterros, estupros, cadáveres humanos assados dentro de uma torta... tudo o que podemos imaginar de ultrajante acontece em Tito Andrônico. E o público elisabetano vibrava, aplaudia, urrava. E Shakespeare também, imagino. Quem não vibraria com o sucesso? Mas Shakespeare foi amadurecendo, e suas produções se tornaram mais elaboradas, mais filosóficas, mais ambíguas, cada vez mais potencialmente poéticas e dadas à reflexão acerca da complexidade humana. Resta saber se o mesmo aconteceu conosco. Resta saber se hoje, nesse mundo de agora talhado pela violência, não regressamos justamente ao tempo da plateia de Shakespeare, esperando que nossos olhos e ouvidos sejam novamente saciados pelo crime, pelo sangue, pela opressão, por todo tipo de cena que literalmente reproduza a vida tal como ela é. Shakespeare nunca fez isso. Nem mesmo em Tito Andrônico, quando o dramaturgo era jovem, Shakespeare procedeu dessa forma. Porque mesmo jovem, Shakespeare parecia se divertir e se assombrar com sua audiência que se deixava levar por tantas sequências absurdas. Ele fazia teatro, e já era suficiente. Tito Andrônico só pode funcionar como um pastiche, uma anedota, um conto de fadas. E talvez seu aspecto pedagógico para nós, deste tempo contemporâneo e assassino que é o nosso tempo, esteja justamente aí: o pastiche e a irrealidade de Shakespeare deixam aos poucos de serem fantasiosos, de serem teatro, e colam à realidade cruel dos nossos dias. Somos todos um pouco os atores deste enredo tenebroso.

REPÓRTER: RECEITA PARA FAZER UM BELO DUM SUFLÊ DE CHUCHU ELISABETANO! Em uma tigela, amasse os chuchus cozidos, passe por uma peneira para retirar o líquido e reserve isto daí, tá okey?... No liquidificador, bata o leite com a manteiga e a farinha de trigo. Adicione o chuchu reservado, as gemas, as cabeças dos seus inimigos devidamente escalpeladas, o queijo parmesão ralado, o sal e a pimenta-do-reino, bata bem. À parte, bata as claras em neve e aproveite para bradar aos ventos urros de vivas ao imperador de Roma: Viva o Imperador! Em outra tigela, junte a mistura do liquidificador com as claras em neve. Mexa delicadamente. Transfira para uma tigela untada com manteiga e enfarinhada. Coloque o queijo parmesão ralado e leve ao forno preaquecido (180° C), por cerca de 25 minutos. Depois de pronto, saia correndo porque é provável que o próximo prato a ser assado contenha ingredientes da vossa própria constituição humana.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.