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Estamos nos fiordes de Oslo. Ao fundo, montanhas. Há veleiros ao longe. Dois amigos de Munch caminham atrás dele. O rosto do protagonista parece uma caveira – talvez a representação do tumulto que habita seu estado interior. Só se veem um olhar e uma boca bem aberta, esticada para baixo, retorcida, sugerindo um volumoso grito – um grito tão alto que é capaz de perfurar os nossos tímpanos – um grito jamais ouvido, um grito ancestral, tão doloroso que remonta nossa solidão mais primária. Os olhos estão igualmente assustados e perdidos. Como todo o restante do corpo, não são olhos completos, são esboços de olhos, mais parecidos com orifícios... há neles há mesma força primitiva que vemos na boca aberta. Olhos precários e igualmente sonoros. Tudo parece ser levado por um furacão extraordinário. Um furacão de chamas que incendeiam o céu. A paisagem parece se contorcer de dor.
Edvard Munch nasceu no ano de 1863 na cidade de Loten, na Noruega. Filho do doutor Christian Munch e de sua esposa Laura. Edvard tinha ao todo 3 irmãs: Sophie, Laura e Inga, e mais um irmão de nome Andreas. Mas a vida familiar foi muito difícil. Em 1868, quando Edvard tinha apenas 5 anos de idade, a mãe morreu de tuberculose. Seu pai caiu em profunda depressão. Então, para tomar conta das crianças, a irmã de Christian, Karen, assumiu os afazeres da falecida esposa. A tragédia foi agravada quando em 1877, a irmã de Munch, Sophie, também sucumbiu da mesma doença: tuberculose. Ela tinha somente 15 anos, e Munch, 14.
Paixão e angústia, são duas palavras que resumem o trabalho do pintor norueguês Edvard Munch. Suas figuras parecem suspensas em gestos eloquentes difíceis de expressar em palavras, mas nós os entendemos perfeitamente bem. O mais interessante aqui talvez seja a perda da individualidade manifestada pelo apagamento das expressões do rosto. Munch adora pintar figuras humanas cujas expressões aparecem apagadas, feito máscaras teatrais de alguma ancestralidade perdida... Máscaras sombrias que, se por um lado anulam o indivíduo em sua singularidade, por outro deixam revelar sonhos, aflições, sofrimento... e pesadelos. Sentimentos comuns a todos nós.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.
O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.
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