Giovanni Antonini nasceu em Milão em 1965, portanto 55 anos atrás. Lá estudou flauta doce e transversa, além de regência. Transformou-se rapidamente num emérito especialista na prática da música antiga. Como os grandes nomes da música historicamente informada, cultiva o espírito aventureiro e criativo. A razão é simples: nesta tarefa arqueológica de reproduzir as sonoridades da música de séculos passados sempre entram grandes doses de improviso e criatividade. Antonini fundou em 1989 o Giardino Armonico, um dos mais prestigiados grupos de música autêntica da atualidade. Gravou para a Sony a integral das sinfonias de Beethoven com a igualmente excelente Orquestra de Câmara da Basileia.
Sua filosofia está nesta frase: “Abram seus ouvidos, temos uma grande música para vocês. Sons de um incrível mundo musical do passado revelam-se -- sons que comovem sempre”.
Em 2014, ele deu a largada em seu mais ambicioso projeto, que intitulou Haydn 2032, quando serão comemorados os 300 anos de nascimento do compositor. A ideia não é apenas gravar as 104 sinfonias de Haydn em instrumentos de época. É também emoldurá-las com a música de outros compositores que interagiram com ele.
O nono álbum da série que acaba de ser lançado, sempre pelo selo francês Alpha. Mas estamos diante de um projeto tão fabuloso e inovador que escolhi o primeiro deles, de 2015, para apresentá-lo a vocês colocando-o como CD desta semana. Durante muito tempo vamos acompanhar esta odisseia musical pelas 104 sinfonias de Haydn – um monumento que constitui o solo em que germinou e se consolidou o gênero sinfônico que até hoje é o núcleo central da vida das orquestras no planeta.
O primeiro álbum estabelece relações surpreendentes entre Haydn, que viveu entre 1732 e 1809, e Christoph Willibald Gluck, seu contemporâneo nascido em 1714 e morto em 1787. A música que Gluck compôs para o balé Don Juan e estreou em Viena em 1761 foi uma revelação para Haydn, que assistiu à performance. Gluck já praticava o germe do que seria a coqueluche nas artes nas décadas de 1760 e 1770: o movimento Sturm und Drang, ou tempestade e ímpeto. Na música, isso significou privilegiar a emoção em relação à razão.
Daí a ótima sacada de Antonini de colocar, no centro do CD, a música de Gluck, emoldurada pelas sinfonias no. 39 de Haydn, de 1765, na abertura, e a famosa 49, de 1768, apelidada sintomaticamente de Passione logo após Don Juan.
Derradeiro toque inusitado: Antonini incluiu a Sinfonia no. 1 de Haydn, num gesto pessoal, porque ele, ainda menino em Milão, aos 10 anos, tocou esta sinfonia. Execuções brilhantes, sanguíneas, movimentos mais rápidos, sonoridades inauditas. Irresistível.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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