Fundação Padre Anchieta

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Foto de Pascal Albandopulos (Divulgação)
Foto de Pascal Albandopulos (Divulgação) Alice Sara Ott

Em fevereiro de 2019, a pianista japonesa radicada na Alemanha Alice Sara Ott, então com 30 anos, anunciou, em seu instagram, que está com esclerose múltipla.”Fui diagnosticada em 15 de janeiro passado (...) depois do pânico, medo e devastação, me perguntei como isso iria impactar minha vida, meu trabalho”

Resumindo: Sara descobriu que “embora não exista cura, os avanços da medicina indicam que uma grande parte das pessoas afetadas pela esclerose múltipla continuam a viver de modo pleno e gratificante”.

Estamos em agosto de 2021, dois anos e meio se passaram. Alice Sara Ott continua firme e forte. Acaba de lançar um álbum pela Deutsche Grammophon intitulado “Echoes of Life”, ecos da vida. Além de ser emocionante ouvi-la nos 24 prelúdios opus 28 de Chopin neste décimo álbum para a DG e CD desta semana, é ainda mais reconfortante constatar que ela permanece inquieta, desafiadora, disposta a quebrar rótulos ou paradigmas, uma característica que sempre a diferenciou.

“É uma reflexão pessoal”, diz ela, “sobre os pensamentos e momentos que influenciam e mudam nossas vidas. Também retrata a jornada e a transformação que fiz para me tornar a pessoa e artista que me vejo hoje. Ao interpretar música de compositores que, em seu próprio tempo, desafiaram o sistema e redefiniram a música, considero meu papel levar esse espírito adiante, não insistindo em reproduzir tradições e limitações passadas. ”

Maravilha. Esta postura aparece na inclusão de sete peças contemporâneas, intercaladas entre os prelúdios. E assinadas por nomes díspares entre si, como Nino Rota, Toru Takemitsu, Arvo Pärt e György Ligeti, entre os contemporâneos mais chancelados pela consagração pública – mas também inclui uma encomenda a Francesco Tristano, nascido em Luxemburgo 39 anos atrás, pianista e compositor; e recrutou até Chilly Gonzales, canadense de 49 anos que faz rap mas também música clássica, Dele ela toca a introspectiva “No roadmap for adults”.

Uma “viagem” musical e existencial fascinante, que dá o que pensar. Até porque a própria Alice assina a derradeira faixa, reflexões sobre fragmentos da “Lacrimosa” do “Réquiem” de Mozart.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.