Fundação Padre Anchieta

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Reprodução da internet
Reprodução da internet Charles Koechlin

Ouça o álbum completo:


O nome de Charles Koechlin costuma ser citado em rodapés de histórias da música brasileira como professor do brasileiro Mozart Camargo Guarnieri entre outubro de 1938 e junho de 1939, em Paris. Como prêmio de bolsa de estudos na Europa, Guarnieri escolheu estudar com Koechlin.

Dezesseis anos depois, já muito respeitado no Brasil e no exterior, o brasileiro fez um depoimento comovente em carta a uma aluna: “Quando fui à Europa, como prêmio de viagem, depois de passar por um concurso público, escolhi Paris como porto seguro para as minhas atividades. Em Paris, procurei o grande músico (digo assim, por considerar este termo o maior, quando é usado com propriedade) Charles Koechlin. Quando fui procurá-lo, em vez de fazer como qualquer outro compositor o faria, disse-lhe que queria estudar harmonia com ele. Perguntou-me: o senhor já estudou? Respondi-lhe: Não! Desejo aprender desde o começo. E assim fiz, minha amiga. Começamos desde o comecinho, estudando intervalos, os acordes de 3 sons (as tríades), de 4 sons (tétrades), enfim tudo, tudo. Fiz isso porque sentia algumas dúvidas que no Brasil ninguém havia me ensinado. Depois de algum tempo ele me conheceu melhor daí tomamos outro rumo no estudo, mas eu já havia aproveitado tudo quanto desejava da grande sabedoria dele”. Guarnieri o respeitava tanto que manteve até a morte, em sua mesa de trabalho, uma foto do compositor francês.

O que acabei de contar a vocês baseia-se em excelente artigo publicado em 2007 por Flávia Toni na Revista do IEB – Instituto de Estudos Brasileiros, onde está o acervo de Guarnieri. Koehclin merece mais do que nota de rodapé. Um álbum recém-lançado, o CD desta semana na Cultura FM, mostra como um compositor clássico demonstrou sua paixão infinita pelo cinema por meio de uma sinfonia. Charles nasceu em 27 de novembro de 1867 em Paris, em família originária da fronteira com a Alemanha, na região da Alsácia-Lorena. Era, portanto, meio francês, meio alemão.

Foi aluno de Massenet e Fauré em composição nos anos 1890. . Em 1911 fundou, ao lado de Ravel, Florent Schmitt e Fauré, a Sociedade Musical Independente – entidade que chegou a propor concertos com obras sem divulgar os nomes dos compositores, para provocar audições não-contaminadas da música nova.

Foi mestre importante na formação de novos talentos musicais. Além do nosso Camargo Guarnieri, também estudaram com ele integrantes do Grupo dos Seis: Poulenc, Sauguet, Germaine Tailleuferre, Darius Milhaud, além de Nadia Boulanger.

Até o começo dos anos 30, quando o cinema ainda mudo começava a se afirmar, arte novíssima, apenas Charlie Chaplin e seu genial vagabundo comoviam o compositor. A indiferença virou paixão com o surgimento do som no cinema. Em 29 de junho de 1933, ele assistiu ao filme “O Anjo Azul”, com Marlene Dietrich e Emil Jannings. O cinema transformou-o num adorador do cinema, fascinado pelas estrelas da novíssima arte.

No mesmo ano em que descobriu o cinema falado, 1933, compôs a obra mais encorpada do álbum da Orquestra de Basel, regido por Ariana Matiakh: a Sinfonia das Sete Estrelas, opus 132. Cada um de seus sete movimentos homenageia as superstars da época, como Lilian Harvey, Greta Garbo, Clara Bow, terminando em grande estilo com Chaplin.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.