Fundação Padre Anchieta

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Reprodução da internet Glenn Gould

Ouça o álbum completo: 


Vivo fosse, o pianista canadense Glenn Gould teria completado 90 anos neste último domingo, dia 25. E no próximo dia 4 de outubro completaremos quarenta anos sem este músico extraordinário. Ele morreu neste dia, em 1982, aos 50 anos.

Dezoito anos antes, em 1964, anunciou logo após um recital em Los Angeles, no dia 10 de abril, que não voltaria mais a tocar em público. Ninguém acreditou. Mas foi o que aconteceu. Em seu estúdio, em casa, dedicou-se à gravação. E, numa inversão de expectativas, sua ausência transformou-se numa das mais destacadas “presenças” na vida musical do planeta. Escreveu muito, produziu programas e séries de rádio, documentários – e gravou muita música. Tudo de qualidade superior.

Durante a pandemia, seu nome voltou a circular com força porque ele foi um apóstolo do isolamento, como observava décadas atrás com precisão o fino intelectual militante em favor da causa palestina, crítico literário e musical Edward Said (1935-2003). Ele assinalou a incrível “presença cultural” do músico, suas “incansáveis incursões” pelo rádio, televisão, crítica e cinema, que “realçam, intensificam e iluminam seu próprio estilo de tocar, dando a seu estilo uma estética autoconsciente e uma presença cultural cujo objetivo, mesmo se nem sempre claro, era capacitar a performance a se engajar ou se filiar com o próprio mundo, sem comprometer a qualidade essencialmente reinterpretativa e reprodutiva do processo”.

Ele surgiu já como celebridade instantânea no mundo da música em 1955, ao gravar as “Variações Goldberg” de Bach num moderno piano Steinway para a Columbia, em Nova York. Até então, as obras para teclado de Bach só eram tocadas no cravo. Uma heresia aparente que chamou a atenção do mundo para este músico de personalidade artística muito forte, pessoal, que dedicou o melhor de seu talento para estabelecer um novo paradigma na execução da música de Johann Sebastian Bach.
Ele abjurou praticamente toda a música romântica. E isso queria dizer recusar-se a tocar 90% do repertório da vida musical do planeta. De Mozart, só admitia as composições do período pré-Viena, ou seja, até 1781, e também a do século 20.

Fez algumas exceções. As sonatas de Beethoven, por exemplo. A música do norueguês Edvard Grieg. E também Brahms. Escandalizou o mundo com uma concepção muito pessoal em relação aos andamentos – basicamente mais vagarosos, sobretudo o primeiro – do concerto no. 1 de Brahms com a Filarmônica de Nova York em 1962 e Leonard Bernstein. O maestro anunciou à plateia – o concerto estava sendo transmitido por rádio – que não concordava com os andamento de Gould, mas o respeitava tanto que aceitou sua postura.

Por isso, escolhi como CD desta semana na Cultura FM seu álbum dedicado a peças para piano solo de Brahms. Foi uma de suas derradeiras gravações, em 1982, ano de sua morte. Ele disse em entrevistas que não conhecia as quatro Baladas, opus 10 e que as estudou durante dois meses à razão de uma hora por dia antes de entrar no estúdio. O álbum também trazia as duas rapsódias opus 79.


A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.