Ouça o álbum completo:
A soprano canadense Barbara Hannigan, 51 anos, foi escolhida semanas atrás como “artista do ano” pela revista inglesa “Gramophone”, a mais antiga e destacada publicação dedicada à música clássica.
Um justíssimo reconhecimento a esta estrela fulgurante no cenário da música contemporânea – onde conquistou renome em óperas como “O Grande Macabro”, do húngaro Gyorgy Ligeti e “Lulu”, de Alban Berg. A ironia é que ela conquista esta premiação justo no ano em que gravou seu mergulho mais profundo na música popular. Em “Dance with me”, ela canta, entre outras, “Moonlight Serenade”, o clássico popular de Glenn Miller dos anos 1930; e a saltitante “Fluffy Ruffles”, de George Hamilton Green.
Poderia ter ganho, mas não aconteceu, quando em 2018 ela mudou bruscamente o curso natural de uma carreira sólida construída no mundo da música contemporânea. Simples. Ela descobriu que também podia ser uma ótima regente. E talvez, acrescento, tenha se dado conta de que havia vida inteligente fora do mundinho da música clássica e/ou contemporânea. Claro, faço apenas um jogo de palavras. Ela sempre adorou a música popular. Mas a manteve para as horas de lazer, não em seu ofício.
“Crazy Girl Crazy”, em que canta e rege, deu-lhe a vitória no Grammy 2018 na categoria “álbum solo vocal clássico”. Já ali ela misturava em finíssima alquimia nomes como George Gershwin com Alban Berg. De lá para cá, seu repertório, que já era corajoso, tornou-se ainda mais atrevido – e inesperado.
Basta ouvir sua bela interpretação de “I could have danced all night” no CD desta semana na Cultura FM. A canção de Frederick Loewe com letra de Alan Jay Lerner é um dos hits do famoso musical “My Fair Lady”, de 1956, baseado na peça de Bernard Shaw. A florista Eliza Doolittle a canta e dança após ter dançado de improviso com seu tutor Henry Higgins. Barbara nos presenteia com um álbum luminoso e inteiramente feito para dançar, que celebra a valsa, o tango, o foxtrote e até a lambada brasileiríssima. Sempre acompanhada pela Orquestra Ludwig. O nome da orquestra, aliás, já é um misto de tributo e provocação vocês sabem a quem.
A ideia nasceu quando, depois de um concerto “normal” em Birmingham, na Inglaterra, o diretor do grupo Peppie Wiersma foi até um clube para relaxar e topou com um salão craudeado de gente dançando.
Barbara rege a orquestra, mas canta em apenas quatro faixas. Uma delas é um clássico, “I could have danced all night”. Entre as demais, previsível mesmo é só “Youkali”, de Kurt Weill.
A cada semana o crítico musical João Marcos Coelho apresenta aos ouvintes da Cultura FM as novidades e lançamentos nacionais e internacionais do universo da música erudita, jazz e música brasileira. CD da Semana vai ao ar de terça a sexta dentro da programação do Estação Cultura e Tarde Cultura.
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