Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

Bernard Herrmann
Bernard Herrmann

Ouça o álbum completo:


Bernard Herrmann ficou famoso pelas trilhas que compôs para alguns dos maiores filmes da história do cinema, como “Cidadão Kane”, “Psicose” e “Taxi Driver”. Seu trabalho genial como compositor de trilhas sonoras foi decisivo em parceria com notáveis cineastas como Orson Welles, François Truffaut, Martin Scorsese e sobretudo Alfred Hitchcock. Herrmann nasceu em 1911 em Nova York, estudou música clássica regularmente. Pertenceu ao grupo de jovens compositores gravitando em torno de Aaron Copland e era fanático por Charles Ives, o primeiro grande compositor radical norte-americano do século 20. Quando morreu, no natal de 1975, era uma espécie de pai dos compositores de cinema do mundo inteiro.

Mas ele não se considerava um compositor de cinema, mas simplesmente “compositor”. Herrmann sempre reclamou da separação que se costuma fazer entre compositores eruditos e compositores de trilhas sonoras. Numa entrevista de 1968, só citou eruditos entre os seus compositores preferidos: os ingleses William Walton e Malcolm Arnold, os russos Sergei Prokofiev e Dmitri Shostakovich, os franceses Darius Milhaud e Georges Auric, o austríaco Erich Korngold e, claro, Aaron Copland. Não por acaso, quase todos fizeram música para cinema de elevada qualidade. “Os EUA são o único país do mundo que tem os chamados ‘compositores de cinema’”, reclamou. “Os demais países possuem compositores que às vezes escrevem para o cinema. Você tem de ser um bom compositor antes de ser um ‘compositor de cinema’”.

Mas isso não quer dizer que ele considerava a composição para cinema coisa de segunda. Longe disso. Herrmann pôs os pingos nos iis em outra entrevista em Londres: “Os verdadeiros compositores gostam de qualquer chance de escrever música. Todo compositor que desdenha música de cinema, rádio ou TV, ou qualquer outro meio, está condenado ao esquecimento... ninguém condena um compositor porque ele não é um sinfonista. Puccini só conseguia escrever óperas e Brahms jamais compôs uma. Concordo com Vaughan Williams. Ele disse ‘se você não sabe compor uma peça interessante de 30 segundos, então há alguma coisa errada com você, não com o filme’. Alguns dos maravilhosos prelúdios de Chopin não duram nem 30 segundos”.

A excepcional qualidade de seu trabalho no cinema dificultou muito seu desejo de se impor como compositor clássico. Mas ele jamais desistiu disso. Compôs muita música, com destaque para a de câmara, um poema sinfônico, uma sinfonia e até uma ópera. Demorou, porém, para compor a chamada “grande música”. Em 1940, John Barbirolli gostou muito de sua cantata “Moby Dick” para coro masculino, solistas e orquestra, com ampliação da percussão para reproduzir trovões e sons de tempestades marítimas. Quis ver a partitura. Gostou tanto que fez questão de estreá-la com a Filarmônica de Nova York naquele ano.

O CD desta semana, recém-lançado pelo selo Chandos, mostra a qualidade da composição dita séria de Herrmann. Traz uma suíte de sua ópera “Wundering Height”, que compôs em 1951. Baseada no célebre romance “Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë. A ideia lhe foi sugerida por Orson Welles. Herrmann levou oito anos compondo a ópera, que tem quatro atos e um prólogo. O libreto é de sua mulher Lucille Fletcher. Ele chegou a gravá-la em 1966, mas não conseguiu montá-la. Embora a ópera tenha oito papéis solo, Cathy e Heathcliff dominam a ação e são os únicos cantores na suíte realizada em 2011 por Hans Sørensen, para soprano, barítono e orquestra. É esta suíte que recebe neste álbum sua primeira gravação. Sorensen também assina a transcrição para seção de cordas do quarteto de cordas original “Echoes”, composto em 1965, que completa este belo álbum. Herrmann chamou-o de “uma série de nostálgicas recordações”. Estreou em Londres no ano seguinte. O tom geral melancólico foi atribuído ao fato de ele estar se divorciando de sua segunda mulher, Lucy Anderson, e também andar meio escanteado no reino das trilhas sonoras. Encadeiam-se uma amarga e triste valsa lenta, uma lírica barcarola e uma habanera final com jeitão sincopado meio latino.