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O formato mais popular do quinteto de cordas durante o século 18 foi o de dois violinos, viola e dois violoncelos. O italiano Luigi Boccherini, por exemplo, compôs mais de uma centena deles. Mozart, com apenas seis obras, inovou no formato: em vez de dois violoncelos, ele acrescentou mais uma viola, instrumento de cordas de sua predileção. Dois são de juventude. Dois são de 1787 e o último par é do finalzinho de sua vida, em 1791. Excetuando-se os dois primeiros, é consenso entre os musicólogos que os quatro restantes são verdadeiras obras-primas. São menos tocados nas salas de concerto e por isso o público os conhece menos.
O CD desta semana na Cultura FM traz o celebrado Quarteto Ébène e o excepcional Antoine Tamestit à viola nos dois quintetos de 1787, catalogados como K. 515 e K. 516.
Uma das razões que pode ter levado o compositor, em seus últimos anos, a explorar o quinteto de cordas com duas violas se devo ao fato de a textura se adensar significativamente neste formato. As duas violas de certo modo liberam um pouco o violoncelo para vôos um pouco maiores -- algo inusual na época.
O K. 515 foi composto em abril de 1787; e o K. 516 no mês seguinte, maio. Ele os concebeu como obras contrastantes entre si. O primeiro exala afirmação, vontade de viver; o segundo desespero, depressão. Não por acaso foi em maio daquele ano que seu pai Leopold morreu. O K. 515 é a mais longa composição de Mozart em quatro movimentos. São 1049 compassos – ele ultrapassa, segundo Alec Hyatt, em 400 compassos o mais longo dos demais quintetos de cordas. O movimento recordista, com mais de 12 minutos, é o Allegro inicial.
O quinteto K. 516, em sol menor, não poderia ser mais contrastante. Os temas do Allegro, por exemplo, são de estrutura compacta - e com frases melancólicas e quebradas. O Adagio do K. 516, tocado com surdina, não convida à contemplação ou enlevo, mas provoca sensações de pressentimento, inquietação.
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