Fundação Padre Anchieta

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Reprodução da internet Duke Ellington

Ouça o álbum completo: 

Esta semana vamos reverenciar a genialidade de um dos maiores músicos do século 20, em sentido absoluto: Duke Ellington. Ele nos deixou 50 anos atrás, em 24 de maio de 1974. Sua música, porém, ainda corre nas veias não apenas dos músicos de jazz. Está no inconsciente coletivo de todo músico. Para todos que estão de um ou de outro modo umbilicalmente ligados à música – e você também, ouvinte – Ellington continua e sempre será essencial.

Foi um pioneiro em muitas frentes. Numa delas, porém, sua ação foi particularmente transformadora. Ele obrigou nossos ouvidos a deixar de separar a música em nichos estanques: aqui música clássica, dita erudita, lá as músicas populares, etc. Quero ver se resumo rapidamente esta luta que começou por coincidência um século atrás, logo após a estreia da “Rhapsody in Blue”, de Gershwin, em 1924.

Irving Mills, dublê de empresário e trombonista na orquestra de Duke Ellington, tinha faro comercial. O fabuloso sucesso de Gershwin levou-o a anunciar publicamente em janeiro de 1931 que Ellington iria lançar uma nova obra de longa duração – no estilo de “Rhapsody in Blue” -- que iria rivalizar com a obra de Gershwin.

Só que esqueceu de avisar Ellington. Assim nasceu sua primeira suíte, “Creole Love Call Rhapsody”, composta em poucos dias. Ele gravou-a nos dois lados de um 78 rotações e lançou em 20 de janeiro. Cinco meses depois, retrabalhou e lançou uma versão maior, com quase 10 minutos. Foi o início de uma longa série de obras com extensão semelhante à das obras clássicas, culminando nos concertos sacros em seus anos finais.

O CD desta semana na Cultura FM foi composto e gravado em 1960 e lançado pela Columbia em 1961 com este título: “Swinging Suites by Edward E. & Edward G.”, com reinvenções jazzísticas de partes da célebre e popularíssima ‘Peer Gynt Suite”. Ele brinca com seu primeiro nome, igual ao do compositor norueguês Edvard Grieg (1843-1907).

As reações foram ferozes. A Fundação Grieg, sediada na Noruega, viu na suíte de Ellington e Billy Strayhorn “uma ofensa à reputação musical de Grieg”. Proibiu a venda do LP, transmissões pelo rádio e TV e também a execução desta versão em concertos públicos em toda a Escandinávia – o veto durou quase uma década. A crítica de jazz norte-americana e internacional também não entendeu nada. Um deles anarquizou os dois Edwards: disse que “são caricaturas realmente amargas, de algumas músicas não muito importantes”. Até Max Harrison, crítico inglês da Gramophone, juntou também a “Suíte Quebra-Nozes” também reinventada pela dupla Ellington/Strayhorn e classificou-as como “ataques grotescos a grandes e pequenos mestres europeus”.

O álbum original pinça cinco movimentos da suíte Peer Gynt de Grieg e inclui outra empreitada originalíssima da dupla, “Suite Thursday”, inspirada no livro “Doce quinta-feira”, de John Steinbeck, publicado em 1954. Um livro cheio de humor, de profundo conhecimento da alma humana e de ternura, curiosamente menos cáustico do que o normal em Steinbeck. Este meio-otimismo deve ter estimulado Strayhorn e Ellington a compor a suíte em quatro partes.