Ouça o álbum completo:
Em boa hora o excelente violoncelista inglês Steven Isserlis, de 64 anos, decidiu dedicar um álbum inteiro a obras de Luigi Boccherini, compositor milhões de vezes lembrado apenas pelo famoso ‘minueto’ e pelo quinteto “fandango” com castanholas. Além disso, cercou-se de um dos melhores grupos de música historicamente informada, a Orquestra da Era do Iluminismo, em bom português. Intitulou-o de “Música dos Anjos”, e de fato ela soa intensa e apaixonante.
Por esta razão, ele é o CD desta semana na Cultura FM. Afinal, estamos a um mês do Natal. "Engenhoso, elegante e agradável - um deleite para os ouvintes mais refinados e juízes críticos de composição musical". Assim escreveu sobre Boccherini o inglês Charles Burney, que viajou por todas as grandes cidades musicais europeias no século 18 e publicou livros deliciosos sobre estas andanças – incluindo seu espanto com a música de Luigi Boccherini. Três séculos depois, Isserlis assinou, dois anos atrás, o prefácio de um raro livro sobre o compositor, intitulado “Luigi Boccherini - Música Amorosa”, de Babette Kaiserkern. Em seu texto, convida o leitor a entrar novamente no mundo de "doce e alegre clareza" e "beleza insondável" que transmite o estilo rococó de Boccherini. "Esta", diz Isserlis, "é a música dos anjos".
Sabe-se que os concertos para violoncelo de Boccherini, doze ao todo, foram compostos nos anos em que, ainda jovem, ele correu a Europa como virtuose do violoncelo. Nascido em 1743 na Itália, em Lucca, Boccherini passou dois terços de sua vida na Espanha, uma influência vibrante que permeia muitas de suas obras. Compositor de sinfonias, música de câmara e obras vocais, também se destacou na criação de muitas sonatas e concertos para violoncelo. Pioneiro em sua época da execução moderna do violoncelo, Boccherini introduziu técnicas que aumentaram muito o alcance e a profundidade de expressão do instrumento.
Foram suas qualidades duplas, como compositor e músico, que levaram este italiano nascido em Lucca em 1743 a viver a maior parte de sua vida fora do seu país, mais precisamente na península ibérica e mais precisamente ainda em Madri, onde morreu em 1805. Toda vez que me cai nas mãos um álbum dedicado a sua farta produção instrumental me pergunto qual a razão de esta música tão encharcada de beleza e originalidade ser modernamente tão pouco estudada – e menos ainda ouvida. Com exceção, é claro, de seu célebre minueto e do movimento com castanholas de seu quinteto para cordas, que levou o apelido “fandango”.
Isserlis sola, ao lado da Orquestra da Era do Iluminismo, dois concertos: o no. 6, em dó menor, G. 2, e o mais conhecido em lá maior, G475, apelidado “O sapo” por causa dos saltitantes intervalos do finale; duas sonatas para violoncelo e cravo, a cargo de Maggie Cole; e o quinteto em mi maior, opus 11, no. 5.
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