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Divulgação Ethan Iverson

Ouça o álbum completo: 


O CD desta semana prolonga virtuosamente o já centenário namoro do jazz com a música dita clássica. Namoro, aliás, pra lá de correspondido. Ravel e Stravinsky se lambuzaram de jazz nos “crazy twenties” assim como Gershwin e Duke Ellington mergulharam fundo nas modernidades europeias.

Uma linda história que tem agora mais um rebento a ser comemorado. O pianista Ethan Iverson, 51 anos, é um destes híbridos maravilhosos. Na década de 1990, por exemplo, era diretor musical do Mark Morris Dance Group, quando tocou as cinco peças no estilo popular para cello e piano de Robert Schumann com Yo-Yo Ma num palco ao lado de bailarinos em que a estrela era Baryshnikov. Também acompanhou o tenor Mark Padmore no ciclo de lieder “Viagem de Inverno”, de Schubert.

Do lado do jazz, Iverson formou e comandou o The Bad Plus entre 2002 e 2017. Imaginem um trio de jazz que aceita o desafio de realizar uma versão a três da “Sagração da Primavera”, de Stravinsky. Aconteceu em 2013, ano do centenário de estreia da obra-prima. Eles trabalharam um ano inteiro no “Sacre” e em 2014 apresentaram o resultado em mais de 30 apresentações públicas. O álbum é daqueles milagres que me converteram em devoto do trio, e sobretudo, claro, do pianista.

Sua mais recente façanha é o CD “Playfair Sonatas”. Tudo escrito, todas as notas postas no pentagrama por Iverson nos últimos cinco anos de gestação. São sonatas em que o piano contracena com outros instrumentos. Cada uma delas oferece um movimento em honra a um grande nome do jazz. Assim, o segundo movimento da sonata para violino é um blues dedicado a Ornette Coleman; a incrível sonata para marimba também tem um blues, dedicado a Eric Dolphy; a sonata para clarinete dedica seu segundo movimento, “Music Hall”, à pianista Carla Bley; a sonata para trombone inclui um ‘Hino” a Roswell Rudd; a de saxofone oferece uma “Melody” a Paul Desmond; e a de trompete oferece um “Theme” a Joe Wilder. Ao piano, e assinando as composições, Ethan Iverson.