Conheça o veganismo popular
Mobilização procura acessibilizar o veganismo e desconstruir a crença de que para aderir à dieta vegana é preciso ser rico
O veganismo popular, também conhecido como veganismo anticapitalista ou interseccional, é uma mobilização de tom político que parte da causa vegana e procura acessibilizar a dieta e desconstruir a crença de que para ser vegano é preciso fazer parte de uma elite. O movimento é baseado no antiespecismo (luta pela igualdade das espécies que são sencientes, isto é, dos indivíduos que são capazes de ter experiências negativas e positivas) e visa a democratização da libertação animal.
Quando o veganismo ganhou força, o capitalismo de fato se apropriou do movimento. Percebendo que a aderência nas elites era alta, o mercado acabou aumentando os preços de produtos sem origem animal, e assim, o movimento foi elitizado. No entanto, os ativistas pelo veganismo popular buscam demonstrar como é possível ter uma dieta vegana balanceada e acessível.
A influenciadora Luciene Santos, nas redes conhecida como @sapavegana, é uma mulher periférica que fala abertamente sobre a causa e traz inúmeras receitas em seu perfil do Instagram. Como Santos explica em entrevista ao portal Quilombo Cibernético, o distanciamento entre a luta negra e o veganismo está vinculado às raízes: "quando tiraram nossos ancestrais de seus respectivos lares e trouxeram para cá, escravizando-os, não tiraram 'apenas' a liberdade, também tiraram os alimentos, aqui eles passaram a viver de restos, muitos de nós ainda vivem."
Luciene Santos ainda completa: "Não estou dizendo que todas as pessoas negras precisam ser veganas, estou dizendo que o veganismo é possível. Ser vegano não é sobre comprar produtos caros, pode ser se você tiver condições, mas também pode ser sobre aprender a ir na feira quando ela estiver acabando e comprar vegetais por preços baixos, (...) , aprender a questionar o que o sistema te fala que é comida."
Outros influenciadores que merecem destaque são Eduardo e Leonardo Santos. Os dois são gêmeos e possuem uma conta conjunta no Instagram (@veganoperiferico). Em seu site, contam a trajetória que provocou o engajamento dentro do veganismo popular.
Veja imagens: Webstory: Conheça o veganismo popular
Moradores da periferia - no Conjunto Habitacional Parque Itajaí, em Campinas - os irmãos trabalharam em uma rede de fast food, onde puderam desenvolver um senso crítico a respeito da indústria alimentícia. Depois disso, tiveram contato com documentários que discutiam a respeito da exploração e do sofrimento animal. Foi assim que decidiram adotar o veganismo popular: "Devido a nossa criação e a vivência, sentimos que o movimento pela Libertação Animal no Brasil tinha um teor elitizado, foi então que decidimos criar uma página no instagram para abordar, através da ótica periférica, assuntos que envolvem cultura, direito animal, educação, alimentação, política e ciência de forma simples, prática e acessível."
Começando seus vídeos culinários com o bordão "mais um dia no barraco", Thallita Flores ganhou público no Instagram e no Tik Tok (@thallitaxavier) fazendo receitas acessíveis e sem origem animal. Auto-intitulada "anti-especista", ela explica em seu blog de onde vem a denominação: "Fiquei me questionando: como eu poderia boicotar as empresas que testam em animais, se eu, mesmo que numa escala menor, também explorava os animais? Foi aí que comecei a me interessar pela luta antiespecista, já que, não via sentido em me autodenominar no topo da cadeia alimentar com a premissa de ser uma espécie superior a de outros animais não humanos. Parei de usar e consumir, dentro do possível e praticável, todos os produtos de origem animal."
Assim como Luciene Santos, Flores também fala do afastamento entre a luta negra e o veganismo, e explica que muito disso vem de um lugar referente à apropriação e à elitização do movimento vegano pela branquitude. Por isso, aderir ao veganismo popular e desconstruir a crença de que para ser vegano é preciso ser rico, é acima de tudo um ato político, que carrega em si a grandeza dessa acessibilidade. Thallita reflete: "(...) conforme o tempo foi passando, eu comecei a perceber as diversas opressões que me cercavam e me atingiam por eu ser uma mulher negra. Meus questionamentos foram além, porque percebi o quanto a luta da causa animal parece ser extremamente branca, quando na verdade é só mais um espaço em que a branquitude consegue nos apagar".
Existem diversos restaurantes veganos por São Paulo e o Pop Vegan Food é um deles. Localizado na Consolação (Rua Fernando de Albuquerque, 142/144), o estabelecimento apresenta pratos diários inteiramente veganos que variam de R$12 a R$20, disponíveis para retirada.
REDES SOCIAIS