Narcogarimpo: entenda como facções praticam crimes ambientais em áreas de garimpo no Pará
A situação possui relação direta com o avanço de facções pelo Norte do País, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.
05/08/2024 12h32
Fabyo Cruz - AGÊNCIA CENARIUM
BELÉM (PA) - O narcotráfico tem impulsionado os crimes socioambientais na Amazônia Legal, com a ocupação irregular de terras, extração de madeira e garimpo ilegal. Segundo dados da Rede de Observatórios da Segurança (ROS), o Pará registrou 19 casos de crimes ambientais no primeiro semestre de 2024. A situação possui relação direta com o avanço de facções pelo Norte do País, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.
Desde 2023, a ROS monitora conflitos e crimes ambientais com o objetivo de compreender e divulgar o elo entre segurança pública e meio ambiente. No primeiro semestre do ano passado, o Pará registrou 27 casos, e foi o Estado que mais contabilizou conflitos e crimes socioambientais naquele ano, de todos os Estados observados pela organização (Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo), registrando 51 casos em doze meses.
Mesmo com redução de -29% em 2024, quando comparado ao mesmo período no passado, os números ainda são altos, pois os danos na maioria das vezes são irreversíveis, já que o crime socioambiental vem ganhando uma nova especialidade, o “Narcogarimpo”, afirma Lucas Moraes, pesquisador da rede. Moraes explica que o domínio das rotas para escoar drogas permite aos grupos criminosos investir, também, na exploração de recursos naturais e na cobrança de taxas.
Atuação das facções
“Essas facções do eixo realizam relações de investimento e parceria com facções locais e regionais, utilizam caça de peixes, exploração ilegal de madeira, minério e grilagem de terras, como estratégias para fortalecer o tráfico de drogas na Amazônia. A sobreposição de atividades ilícitas afeta o cotidiano de comunidades tradicionais, como ribeirinhos, indígenas e quilombolas. E jovens de comunidades tradicionais são atraídos por integrantes de facções para colaborar com o varejo de drogas no território”, afirma o pesquisador.
A presença de grupos criminais no garimpo altera o cotidiano da população desses territórios por conta da sensação de insegurança, diz Moraes. “Por conta da presença do Narcogarimpo, moradores de comunidades ribeirinhas chegam a ter seus veículos de transportes furtados e povos indígenas a perderem suas terras”, observa Lucas Moraes. Segundo a ROS, entre os anos de 2017 a 2022, o Pará registrou 474 casos de crimes contra povos indígenas e quilombolas.
“A violência ambiental inviabiliza a história dessas populações e os mantém em condições de vulnerabilidade. Os crimes ambientais também se incorporam ao tráfico por meio do escoamento de drogas em peixes, como o pirarucu, e embaladas com madeiras extraídas ilegalmente. O Pará apresenta um cenário complexo de violência em cidades como Altamira, Marabá e Parauapebas, que servem como rotas internacionais do tráfico de drogas, como a cocaína, para países como Colômbia, Peru, Bolívia e Venezuela”, disse o representante da Rede.
Lucas Moraes conclui ao afirmar que as redes geográficas do narcotráfico impõem uma dinâmica de controle e regulação das principais rotas de transporte de cocaína, promovendo a interação entre produtos e consumidores: “Há uma complexa rede que integra os fluxos de capitais e mercadorias provenientes do narcotráfico, certamente cada vez mais outros produtos ilícitos acompanham as rotas da cocaína, a exemplo dos minérios e madeiras contrabandeadas na Amazônia, por conta da baixa fiscalização e o território que facilitam o escoamento da entrada de facções nesses lugares”.
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