Agência Cenarium

Criação de gado em Porto Velho influencia desmatamento na Amazônia

Os índices que colocam o território da capital rondoniense em terceiro lugar no ranking são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


24/09/2024 10h04

Camila Pinheiro - DA AGÊNCIA CENARIUM

PORTO VELHO (RO) - A capital de Rondônia, Porto Velho, vive entre registrar a terceira maior criação de gado do Brasil e impulsionar o aumento do desmatamento na Região Norte do Estado, que faz divisa com o Sul do Amazonas. Os índices que colocam o território da capital rondoniense em terceiro lugar no ranking são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Especialistas indicam que a perda de vegetação nativa, proveniente da expansão das áreas de pastagem, intensifica o aquecimento global.

Porto Velho, apontam as estatísticas, conta com 1,7 milhão de cabeças de gado nos pastos da região. Fica atrás apenas das cidades de São Félix do Xingu (PA), com 2,4 milhões, e Corumbá (MS), com 2,1 milhões, conforme dados divulgados pelo órgão na quinta-feira, 19. O IBGE também aponta que Rondônia registrou um aumento de 47,3% no total de bovinos na última década (2013-2023), alcançando 18,1 milhões de animais.

O Estado tem 19 municípios entre os cem maiores rebanhos bovinos do País, destacando-se Nova Mamoré, com 1,04 milhão de cabeças, Buritis, com 654 mil, e Jaru, com 627 mil. O Estado possui o sexto maior rebanho do Brasil e registrou um aumento de 2,7% entre 2022 e 2023.

À CENARIUM, o biólogo e pesquisador Dr. Lucas Ferrante afirmou que é “preocupante” o crescimento da pecuária no sentido Sul do Amazonas. O especialista mencionou que os pastos geram aberturas de ramais ilegais e impulsionam o desmatamento no eixo da BR-319.

"Nós temos observado um aumento da pecuária de Porto Velho em direção ao Sul do Amazonas. Isso é extremamente preocupante, pois estamos falando de uma expansão sobre terras devolutas, gerando a abertura de ramais ilegais e aumentando o desmatamento, principalmente nesse eixo da rodovia BR-319", destacou.

Pesquisador Lucas Ferrante (Reprodução)

Ferrante apontou que, ao Porto Velho carregar o título de terceiro maior rebanho do Brasil, isso está relacionado à pavimentação da BR-319, que liga Rondônia ao Estado do Amazonas. Ele disse que o asfaltamento da rodovia, conforme defendem na Justiça o Ministério dos Transportes e o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), pode causar a migração desses rebanhos para o Amazonas.

"Com essa repavimentação, veríamos a migração desses rebanhos. Já tem acontecido para o Sul do Estado do Amazonas, chegando próximos à Amazônia Central, causando desmatamento e incêndios criminosos. Tanto que os altos índices de fumaça que encobriram Manaus foram causados justamente pela migração desse ciclo da pecuária", comenta à reportagem.

Enquanto a pecuária cresce, outros setores enfrentam declínio. A produção de leite em Rondônia, por exemplo, sofreu uma queda dramática, passando de 1 bilhão de litros em 2018 para 644 milhões de litros em 2023, uma redução de 44,5%, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) de 2023. O número de vacas ordenhadas também diminuiu em 58% no mesmo período.

Produção de leite (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Produção de tambaqui

Rondônia também leva o título de maior produtor de tambaqui do Brasil, manufaturando 47 mil toneladas em 2023, o equivalente a 41,5% da produção nacional, conforme o PPM. Especialistas indicam que a produção do pescado em larga escala também pode contribuir para o aumento da poluição e, assim como o gado, pode comprometer a qualidade dos recursos naturais. De acordo com a empresa Sansuy, um dos principais impactos da aquicultura sobre o meio ambiente é a geração de efluentes, resíduos líquidos gerados por atividades humanas, industriais ou agrícolas, que são descartados na natureza.

Peixe da espécie tambaqui. (Vadim Gnidash/Freepik)

Especialistas consultados pela fabricante de produtos em PVC explicam que o fenômeno ocorre porque a água utilizada nos tanques ou viveiros frequentemente contém resíduos orgânicos, biológicos ou químicos que, ao serem despejados em corpos d'água, podem provocar contaminação e modificar as características naturais desses ecossistemas. Ao todo, 36 municípios de Rondônia estão entre os cem maiores produtores de tambaqui do país, com destaque para Ariquemes, que produziu 11,4 mil toneladas em 2023, o que corresponde a 10,1% da produção nacional.

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