JEFFERSON RAMOS - DA AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) - A atuação de professores da educação de base, que integram os ensinos Infantil, Fundamental e Médio, são determinantes para a formação cidadã e crítica dos estudantes no avanço da democracia brasileira. A conclusão é de professores consultados pela CENARIUM. No dia 15 deste mês, o Brasil comemorou o Dia do Professor.
"Não tem como falar no processo de formação do cidadão sem pensar na parte democrática, porque a democratização do ensino é dar acesso ao ensino de qualidade que contemple a todos, que respeite a diversidade, que respeite as especificidades regionais, mas que também pense no aluno como um sujeito que pensa e que é parte da sociedade", exemplificou a professora da rede municipal de ensino de Manaus Elisiane Andrade.
Apesar da sua importância, essa modalidade de ensino sofre com investimentos abaixo do necessário e com a desvalorização dos profissionais da área. Segundo o estudo Education at a Glance, os salários dos professores do Ensino Fundamental II no Brasil são, em média, de US$ 23.018 por ano (cerca de R$ 128 mil). O valor é praticamente metade (47% abaixo) dos US$ 43.058 (em torno de R$ 237 mil) anuais pagos pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O governo brasileiro investe tanto quanto a média dos países da OCDE em Ensino Superior. Por outro lado, destina três vezes menos recursos do que o grupo dos países ricos à educação básica, conforme aponta o levantamento Education at a Glance 2023.
Na avaliação da professora, que também é mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), os docentes que atuam em sala de aula estão sobrecarregados e desvalorizados.
"Os professores da Educação Básica estão sobrecarregados, com muitas responsabilidades. O trabalho, aquela parte que poderia ser da família, está sendo transferida para o professor. Então, a parte que compete ao profissional da educação acaba ficando, de certa forma, comprometida", avaliou a educadora.
A desvalorização comentada pela especialista é o principal fator que afasta postulantes a professores das salas de aula. Há previsão de que o Brasil tenha um déficit de 235 mil professores na educação básica até 2040, segundo pesquisa do Instituto Semesp.
A pedagoga aponta, ainda, que é na educação de base que os estudantes adquirem conhecimentos e valores que vão servir para vida acadêmica e pessoal.
"É na educação básica que vai ser dada toda a base formativa, de modo geral, para que mais lá na frente esses alunos tenham todo um aparato, uma bagagem para adentrarem na universidade. Também é um processo de definição, dependendo das habilidades que vão sendo instigadas, desenvolvidas na sala de aula desde os anos iniciais, que vai também se definindo as profissões que eles vão seguir mais à frente na vida adulta", analisou Elisiane Andrade.
Relação transformadora
Para a professora Maria Leda Natário da Silva, que possui 20 anos de atuação na Educação Básica, o papel do professor é fundamental em uma série de aspectos do desenvolvimento dos estudantes. "Na educação básica, somos muito mais do que transmissores de conhecimento. Atuamos como facilitadores, mediadores e guias no processo de aprendizagem, criando um ambiente seguro e estimulante onde os alunos possam desenvolver não apenas habilidades cognitivas, mas também emocionais e sociais", destaca.
Ela ressalta, ainda, que o professor tem o compromisso social de ajudar os estudantes a construir uma base sólida de valores, respeito, responsabilidade e pensamento crítico. Silva ressalta que o professor é, muitas veze,s o primeiro adulto, além dos pais, a ter um impacto direto na formação do caráter e da visão de mundo dos alunos.
"Muitos enxergam o professor como uma figura de apoio, que os motiva a superar desafios, acredita em seu potencial e os incentiva a explorar o mundo com curiosidade. Um professor comprometido pode transformar a jornada educacional em uma experiência significativa e prazerosa, ajudando os alunos a desenvolver a confiança necessária para enfrentar os obstáculos da vida", afirma a professora.
A pedagoga com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional Sued Cunha de Araújo destaca à reportagem que o professor busca socializar todos os conhecimentos e habilidades de forma afetiva durante o exercício laboral.
"O professor é o medidor fundamental para o aprimoramento das habilidades cognitivas, ele proporciona a aquisição conhecimento dos estudantes que se encontram em processo, considerando os aspectos sociais, culturais e respeitando as diferenças e limitações que cada um estudante apresenta", afirma.
Pluralidade
A mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (PPG-CASA/Ufam), pedagoga Rita Vieira afirma que a formação estrutural da sociedade brasileira é composta por uma pluralidade, distintas religiões, culturas e etnias.
"O ambiente escolar, bem como a sociedade, é heterogêneo. É na escola, especialmente na Educação Infantil e Ensino Fundamental, que os estranhamentos acontecem e, às vezes, reprodução de violências, os estudantes têm maior contato com pessoas de fora de seu convívio social, momento de construção de habilidades, interações sociais e descobertas que irão contribuir com a formação de sua identidade", disse.
Vieira ressalta, ainda que o professor desse período escolar consegue formar para cidadania levando em consideração os ensinamentos da nova escola e autores como John Dewey, que defendem uma educação para a vida na democracia. Ela ressalta, também, que Dewey, assim como Paulo Freire, têm grande contribução nos debates educacionais.
"É importante pensarmos em educação com prática emancipatória, na educação consciência, não somente das emoções, mas do contexto socioeconômico, cultural, político e ambiental para fortalecimento de uma sociedade mais igualitária e justa", afirma a mestranda.
Desvalorização
Para o professor de História Cleomar Lima, que possui 40 anos de magistério, os docentes têm entre as principais dificuldades em sala de aula a desvalorização, com salários abaixo da média, e a falta de suporte para a qualificação, além da jornada de trabalho exaustiva.
"No Brasil, o professor não é valorizado, de uma maneira geral, o professor já não é valorizado, e o professor de educação básica, principalmente, ganha pouco e trabalha muito. [o professor] Tem muitos alunos para trabalhar em sala, corrigir muita prova, tem que dar muita atenção para muitos alunos", exemplifica o professor.
Lima destaca, ainda, que a situação no Brasil contrasta com os países desenvolvidos, como os do continente europeu, que proporciona uma qualificação mais aprimorada para os educadores e proporciona salários mais valorizados. Um exemplo é a Suíça, que possui salário médio anual de $ 87.038, aproximadamente R$ 435 mil/ano, ou R$ 36 mil por mês.
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