Por muito tempo considerados fora do padrão de beleza vigente, afrodescendentes com os cabelos crespos e encaracolados têm assumido cada vez mais um visual natural para os fios. O black power, por exemplo, além de um estilo de penteado, se tornou, para as pessoas pretas, um símbolo de resistência contra o racismo no mundo todo.

Leia Também: Festival SP Rock Mapping fará projeções no Minhocão em São Paulo

Apesar de crescer naturalmente, o “black” também requer certos cuidados. Por isso, o site da Cultura conversou com alguns especialistas no assunto e descobriu as principais dicas para manter e deixar o cabelo saudável.

Cuidados com o tipo de shampoo

Cláudio Henrique Nobes, mais conhecido como Texugo, trabalha com cabelos afro há mais de 35 anos. Ele explica que quem tem ou deseja ter um black deve prestar atenção no tipo do shampoo utilizado. “Normalmente os shampoos contém o lauril sulfato de sódio, que é um detergente convencional. O problema é que o cabelo afro é mais seco por natureza, então, quando é lavado com esse tipo de substância, muito da pouca oleosidade que ele produz é retirada, deixando os fios mais ressecados”, explica.

Para resolver essa questão, podem ser usados produtos que contenham o detergente coco amido, presente nos chamados no poo.

Secagem

Ainda no processo de lavagem, Texugo aconselha realizar a secagem assim que sair do banho e não deixar o cabelo secar naturalmente. “Geralmente os cabelos afro não possuem só um tipo de fio, por conta da nossa própria raiz indígena, europeia e africana. Na hora de secar o cabelo natural, a textura mais afro pode secar mais rápido que as outras. Usando o secador na temperatura morna ou fria, esse cabelo vai ficar mais leve e o penteado vai durar mais dias”, completa.

Outra adversidade que pode acontecer para quem tem cabelo não seco e o deixa secar naturalmente é que, quando passado algum creme, partículas de poeira e outras sujeiras podem grudar mais facilmente nos fios. Isso torna o cabelo mais opaco e com menos brilho.

Veja imagens: Webstory: Cuidados com o Black Power

Tratamento com óleos

Hidratar os fios capilares é fundamental para todos. Uma dica importante, dada por Almiro Nunes, dono e fundador do salão “Clínica dos Cachos”, é o uso de alguns óleos para dar brilho e ajudar na hidratação.

O óleo de semente de uva e o óleo de abacate podem ser utilizados em forma de máscara para o cabelo, aplicada depois da lavagem com um condicionador. “Pode-se aplicar a máscara por uns cinco minutos, não precisa muito mais do que isso, só nesse tempo a substância já faz efeito”, comenta.

Quanto aos condicionadores, Almiro alerta para a presença de silicone na maioria das marcas. É necessário ficar alerta com o composto, uma vez que ele também não faz bem para a saúde dos fios.

O black da atualidade

Ao longo das décadas, inúmeras variações do black power fizeram sucesso. Desde o estilo mais redondo e simétrico das décadas de 60 e 70, até os mais despojados e irregulares da atualidade. Um dos estilos que está em alta hoje em dia é o nudred. Uma esponja com furos é passada de forma circular no cabelo a fim de “endredar” as pontas dos fios.

“O ideal do nudred é que se hidrate e nutra o cabelo antes porque, na maioria das vezes em que se faz, usa-se o secador, e o secador retira a umidade. Depois de seco, é só puxar o cabelo com o garfo, passar a esponja e finalizar com a ajuda de pomadas modeladoras. Existem esponjas para formatos mais grossos e mais finos, são esponjas diferentes para finalizações diferentes”, explica o cabeleireiro e dono do salão “Oasys Hair”, Gilson dos Santos.

Volume ou definição?

Existem diversos tipos de cabelo afro. Alguns apresentam mais cachos, outros menos. Para aqueles que gostam de grandes volumes, uma boa tática é puxar o cabelo com o garfo, ato que desmancha os cachos e deixa o penteado maior.

Já para aqueles que gostam de cachos mais definidos, um alternativa são alguns ativadores. Se o desejo da pessoa for manter os cachos, e, ainda assim, um pouco mais de volume, basta colocar o garfo na raiz, dar uma leve puxada e retirar.

Tecido do travesseiro

Não são todos que notam este detalhe, mas uma coisa que ajuda a manter a forma do penteado é substituir o algodão convencional, presente nas fronhas dos travesseiros, pelo cetim. Os tecidos acetinados geram menos atrito com os cachos. Desse modo, ele “bate e não gruda, ele bate e desliza”, menciona Texugo. “Toquinhas” de cetim também podem ser úteis na conservação deste tipo de cabelo.

Frequência do corte

Manter as pontas bem aparadas é uma boa prática a ser adotada. Cabelos crespos costumam quebrar naturalmente, principalmente quando passam muito tempo sem ser cortados. Mesmo sendo bem tratados, o tipo de fio é muito delicado. Quanto mais tempo sem cortar, maior a chance de quebrar.

O ideal é visitar o cabeleireiro de três em três meses para aparar as pontas quebradas e garantir um crescimento mais uniforme.