O padre Júlio Lancellotti dedica a vida a ajudar as pessoas que vivem nas ruas. Há 28 anos ele é vigário episcopal para o povo de rua em São Paulo e já se dedicou a presidiários e crianças com HIV, sempre ao lado dos mais vulneráveis e dos direitos humanos. Essa experiência é compartilhada no livro de sua autoria "Tinha Uma Pedra no Meio do Caminho".

"A pedra que está no caminho é a pedra da exclusão, do descarte, da diferença, são as pedras que sepultam a vida do povo da rua, a pedra que é coloca em cima desse povo que quer viver. Nesse livro eu coloco tudo que eu aprendi, tudo que eu vivi com os moradores de rua, na convivência com os jovens privados de liberdade, com as crianças com HIV e na minha convivência com personagens muito fortes, como Dom Paulo Evaristo, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Luciano Mendes", disse o padre em entrevista ao Jornal da Tarde. 

Sobre os desafios da pandemia, ele apontou: "É preciso tomar medidas pessoais e estruturais. Na questão estrutural, nós temos que trabalhar pela diminuição da desigualdade, da superação da desigualdade, passando pela taxação das grandes fortunas, passando por uma proteção social, por uma renda básica, para que o nosso povo tenha proteção social. E pessoalmente, nós temos que lutar contra a discriminação e contra o preconceito. O que o papa Francisco insiste é na humanização da vida."

"Jesus curava os doentes e partilhava o pão. (...) A ação de Jesus não foi de fazer uma doutrina. Ele cuidava dos pobres, dos doentes e dos abandonados. Jesus não ficava fechado na sinagoga, ele andava, era itinerante", completa. 

Segundo o Padre Júlio, "Deus nos ama, ele não quer ficar acima, ele quer ficar junto. Dizer que Deus está acima de nós é uma postura autoritária. Deus não é autoritário, Deus é solidário."

Com o livro "Tinha Uma Pedra no Meio do Caminho", o Padre espera passar esperança e amor aos pobres. Ele também espera que as pessoas olhem com carinho para os que estão abandonados. 

Quando perguntado se sairemos melhores desta pandemia ele responde: "Podemos sair melhores, mas não é uma coisa automática. Uma das formas é partilhar. Agora está muito frio, leve um par de meias para um irmão de rua, leve uma bebida quente e uma coberta. Pressione o poder público pra que tenham respostas efetivas e eficientes para os irmãos de rua. Lute pela vida, não seja um expectador."

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