Fundação Padre Anchieta

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Não é de hoje que os realities shows levantam o interesse do público brasileiro e mundial, cada edição mobiliza a internet que logo escolhe os seus favoritos e aqueles menos queridos. Além disso, cada programa pauta questões que podem ser discutidas na sociedade real que não está atrás das câmeras.

A discussão que surgiu com o início da edição do Big Brother Brasil 2022 é a cultura do ódio e a promoção das desavenças ao ambiente tranquilo e de paz. No começo do programa, muitos telespectadores criticaram a postura do participante Tiago Abravanel por preferir um ambiente de paz no jogo.

Uma das amigas do artista, a apresentadora e atriz Ingrid Guimarães, defendeu a personalidade de Tiago nas redes sociais.


Ao site da TV Cultura, a psicóloga e psicanalista Elisa Marina Bourroul explicou quais são os motivos que levam a este comportamento. A especialista afirma que é importante levar em conta qual é a situação que a sociedade está vivendo, seja social ou política. “Não podemos descolar a situação em que as pessoas estão vivendo, de extrema frustração. Estão oprimidas, se sentindo em situação de violência com a Covid e com a estrutura social injusta”, ressalta.

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“É um solo propício para a gente tirar esse sentimento de mim ‘fraco, oprimido’ e jogar no outro. E que tenha um bode expiatório que sofra tudo aquilo. É um mecanismo de proteção. Eu ponho no outro tudo aquilo que não aceito em mim. É como se fosse uma realização de se sentir sem esses aspectos ruins e fracos”, diz.

A psicóloga relembra que os episódios da sociedade onde a explosão de relações destrutivas são evidentes, não são recentes. À época do Coliseu, as pessoas já observavam outros cidadãos sendo atacados por animais. Elisa afirma que não se pode confundir o “prazer” de se observar brigas, lutas e sadismo com ”gostar de viver o ódio”. É uma questão de observação.

“Eu observo e posso replicar e realizar através do outro essa minha pulsão destrutiva, de ódio. Eu mesmo não estou exercitando isso, mas estou realizando. É um impulso destrutivo que está em mim, mas eu não funciona assim [na sociedade] porque é necessário uma contenção de viver em harmonia”, afirma.

O comportamento, segundo Elisa, é algo comum do ser humano, chamado pulsão de morte na psicanálise. É um insisto contido pela pulsão de vida, que é a parte amorosa do ser humano. “Se tem algo de destrutivo dentro de mim, fica ponderado porque tem o outro lado.

Estamos em todos os momentos em situações de fragilidade, e propicia ainda mais situações onde pode imperar mais um discurso de ódio do que um discurso amoroso e colocar a minha insatisfação de fora”.

O processo civilizatório existe para a contenção da impulsividade, ou não seria possível viver em civilização. “Sociedades mais restritas e mais opressoras, mas essa violência latente sai de forma brutal. Em sociedades mais livres, mais resolvidas, onde se há mais liberdade de igual, é menor”, explica.

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