Uma das cenas musicais onde as mulheres mais ganharam espaço nos últimos anos foi a eletrônica. Apesar da igualdade ainda estar muito longe, já é possível ver artistas comandando lineups de grandes festivais e montando suas próprias labels. Dois grandes exemplos são Charlotte de Witte, belga da vertente techno, e a coreana Peggy Gou, nome forte do House.
Por aqui, quem lidera o time de DJs mulheres é Eli Iwasa, indicada quatro vezes à melhor DJ brasileira pelo Women’s Music Event Awards, maior premiação feminina do país. Além de discotecar, ela é dona de quatro espaços culturais em Campinas (CAOS, que se consolidou como um dos mais conceituados do país, Club 88, Galerìa 1212 e Pista).
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, a DJ conta como enfrenta os bastidores da música eletrônica e as dificuldades que encontra no caminho.
“[A cena] era muito diferente do que ela é hoje, ela realmente era predominantemente formada por profissionais homens. Tanto nos bastidores, quanto nos palcos. Até hoje, sinto que tenho que me provar, sou questionada até hoje, mesmo nesse momento maravilhoso que eu estou vivendo”, diz Iwasa.
Na visão da artista, um dos motivos para elas ganharem espaço na cena não foi apenas o talento. O fato de ter mais diversidade nos bastidores dos clubs e dos festivais, abriu mais espaço para as mulheres apresentarem seus trabalhos.
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“Nos lineups mais diversos, mais inclusivos, eles sempre são melhor construídos quando tem mulheres nessa construção, quando tem curadoras mulheres ou quando tem pessoas LGBT nessa nessa construção. Então, é super importante que essas pessoas sejam colocadas nesses lugares de tomada de decisão também”, explica.
Apesar desse trabalho, ela detalha algumas situações que já passou nos bastidores: “Como empreendedora, sofro muito, sabe? Me vejo silenciada até hoje em muitas situações. As pessoas preferem falar para os meus sócios homens sobre dinheiro, sabe? É uma coisa muito velada”.
Uma das pessoas que foram diretamente impactadas por essa mudança nos bastidores da música eletrônica foi a gaúcha Carola, primeira mulher brasileira negra a se apresentar no Tomorrowland, um dos maiores festivais do mundo.
“Ninguém é incentivado a sonhar lá do bairro onde eu vim. Eu cresci a vida inteira ouvindo que tinha que trabalhar, estudar e a minha realidade era isso. Arrumar um emprego para me sustentar para o resto da vida. Eu não podia sonhar, que eu merecia alguma coisa melhor, ou era capaz de conquistar coisas melhores”, afirma a produtora.
Carola teve um 2022 dos sonhos. Além de se apresentar no Tomorrowland, esteve no Rock in Rio, Só Track Boa Festival e discotecou em grandes baladas europeias, como o Ushuaia, em Ibiza (Espanha).
“Saber que, hoje, eu posso ser essa pessoa que vai servir de exemplo para as meninas que estão vindo, meninas que estão vendo e que vieram do nada. Olhar para mim e entender que, se eu cheguei também é possível chegar, eu acho que isso é uma parada massa, apesar de ser uma responsabilidade muito grande”, completa Carola.
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As duas são dois nomes que estão confirmados no Lollapalooza Brasil. Iwasa se apresentará no sábado (25), enquanto Carola sobe no palco no domingo (26).
Iwasa finaliza dando um conselho para todas as mulheres que querem entrar na cena ou já estão tocando e querem crescer como artista.
“Se manter fiel aos nossos valores e o que a gente acredita. Isso é o que mais importa, né? Sempre lembrar do nosso próprio valor. Sempre vai ter um monte de gente falando um monte de coisa, realmente não são importantes. E ter um monte de amigos ao seu lado, acho que não se constrói nada sozinho”, aconselha a artista.
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