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Silvio Júnior
Silvio Júnior

Há exatamente um ano, o Brasil perdia uma das principais figuras do rock nacional. Rita Lee morreu no dia 8 de maio de 2023, mas deixou legado que permanece vivo na memória e na cultura brasileira.

No dia 10 de maio de 2023, milhares de fãs puderam se despedir da cantora em velório realizado no Planetário Aristóteles Orsini, no Parque Ibirapuera, zona sul da cidade de São Paulo.

O local, em que a compositora já disse ter uma forte ligação, deve receber uma homenagem especial. Inicialmente, a ideia era acrescentar o nome de Rita Lee a todo o parque. Entretanto, após resistência na tentativa de alteração, a vereadora Luna Zarattini (PT), responsável pelo projeto de lei, decidiu pela renomeação em uma área interna do espaço.

Desse modo, a Praça da Paz, localizada em posição central do parque, poderá passar a se chamar Praça Rita Lee. Aprovado em primeira votação na Câmara de São Paulo em abril, o PL segue agora para segunda votação.

Foto: Silvio Júnior

Em 2023, a cerimônia de despedida foi aberta ao público das 10h às 17h. Na ocasião, o portal da TV Cultura visitou o local e registrou que muitos dos fãs eram jovens que, mesmo sem ter tido a oportunidade de vivenciar um show da artista, reconheceram o legado e a importância desta figura que é considerada a rainha do rock brasileiro.

O dia estava nublado na região do Parque Ibirapuera. Os portões nada anunciavam que algo distinto ocorria neste que é considerado um dos parques urbanos mais visitados da América Latina. Ao se aproximar do planetário, um som distinto ecoava. Eram vozes de jovens que cantavam a música “Agora Só Falta Você”, lançada em 1975.

A melodia poderia ser somente a manifestação de um espírito emancipatório da juventude brasileira. Isso, se não fosse o fato de que o grupo estava em uma longa fila para ver o corpo da mulher que um dia compôs a canção. Os jovens estavam ali para ver Rita Lee, a “Padroeira da Liberdade”.

Foto: Reprodução/Instagram @ritalee_oficial

A "referência Rita Lee"

Na época, a última vez que Rapha Progette, de 22 anos, havia visitado São Paulo foi para ir na exposição "Rock Exhibition Rita Lee", que ocorreu em 2021 no Museu da Imagem e do Som (MIS). Na ocasião, ela comprou uma camiseta que estampava o rosto da roqueira.

A aluna da Unicamp saiu de Campinas, onde estava cursando Letras, e foi pela primeira vez sozinha à capital paulista, trajada com a blusa como forma de homenagem.

“Eu me aproximei do trabalho de Rita Lee depois que assisti a peça ‘Rita Lee Mora ao Lado’, com Mel Lisboa. Em 2016, o musical foi para Piracicaba-SP. Na época, eu tinha 15 anos. Eu fui com as minhas amigas e me encantei completamente por tudo que a cantora representava e significava. Comecei a conhecer mais e me apaixonei, Rita Lee virou uma grande musa, uma grande inspiração para mim”, contou Rapha.

Sentada num canto em que era possível visualizar a estrutura do planetário, a estudante, que enxerga Rita como uma referência de "espírito livre", fez uma ilustração em seu caderno para registrar os sentimentos que extrapolavam a linguagem verbal.

“Eu acho que ia ser muito difícil expressar em palavras o que eu estou sentindo. Aí eu fiz um desenho dela em cima do planetário”, comentou a jovem após falar sobre seu interesse pelo livro “Dropz” (2017), escrito e ilustrado por Rita Lee.

Ilustração feita por Rapha Progette - Foto: Silvio Júnior

Rapha Progette conclui contando que a música “Agora Só Falta Você”, do álbum "Fruto Proibido", foi a que mais marcou a sua trajetória: “Eu a levo comigo para inúmeras experiências sempre esperando o dia que eu vou telefonar e falar que aquele sonho cresceu e que eu cresci. Eu levo a Rita dessa forma, como uma santa protetora”.

O momento do adeus

Ao ser questionada sobre como seu nome é escrito, Sophia Lopes disse de imediato: “escreve com PH, igual Pistis Sophia”, referindo-se a música lançada por Rita Lee em 2012.

A fã, com então 27 anos, afirmou que conheceu a cantora quando ainda era criança, por meio das novelas que continham as trilhas sonoras de Rita. Assim como ela, muitos jovens tiveram seu primeiro contato com o ícone do rock por meio da televisão brasileira. Ao todo, cerca de 79 gravações foram feitas em produções de emissoras como a Globo e o SBT.

Foto: Silvio Júnior

O caixão com o corpo da cantora foi posicionado no interior do planetário, abaixo de uma projeção que exibia o céu do dia em que Rita Lee nasceu, em 31 de dezembro de 1947. Algumas flores, imagens e objetos de fãs foram deixados no local. O uso de velas, como é comum em situações de despedida, não estava permitido, já que este havia sido um pedido da cantora.

Na sequência, o corpo seguiu para cremação, em uma cerimônia reservada à família, como também era de desejo de Rita.

Lopes, que na noite anterior havia compartilhado com seu pai um vídeo de quando cantaram juntos “Alô, alô marciano” (1991), revelou o que sentiu após ter passado pelo local que dava acesso ao caixão:

“A despedida para mim é muito importante. Saber que é o primeiro velório que acontece no planetário, ainda mais de uma pessoa tão intergaláctica, ao mesmo tempo que foi uma dor no coração foi uma gratidão por ter vivido tudo o que ela proporcionou”, afirmou a jovem de 27 anos.

A fã do rock nacional finalizou destacando o poder de união e o legado que Rita deixou: “você chega aqui e todo mundo vira amigo, todo mundo está compartilhando a mesma dor e a mesma perda irreparável”.

“Rita eterna”: de geração para geração

Foto: Silvio Júnior

Um grupo de estudantes do Ensino Médio saiu direto da escola que estudam, localizada próxima ao parque, para também prestar homenagens.

Entre eles estava Zeca, de 16 anos, que contou ao portal da TV Cultura que no começo só ouvia as músicas de Rita Lee por conta de seus pais, que escutavam a artista com frequência. Aos poucos, ele afirmou que foi se interessando pela personalidade que é símbolo de libertação e criatividade:

“É uma lição sobre aproveitar a vida e a coragem de ser você mesmo independente do que os outros vão falar. Mesmo ela tendo esse jeito mais polêmico, é difícil ter alguém que olhasse para ela e não gostasse dela. Ela em si é uma completa lição de vida”, destacou o estudante.

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Isabela, com 15 anos, também contou de onde veio a sua conexão com a cantora:

“Eu a conheci pela primeira vez com a minha avó. Ela gostava muito da Rita e, inclusive, me contou as histórias do casamento dela e disse que a dança mais feliz foi com uma música da Rita Lee. Aí eu comecei a escutar. Eu não gostava muito quando eu era pequena, mas fui crescendo e aprendi a gostar e apreciar essa memória com a minha vó”, afirmou a garota do segundo ano do Ensino Médio.

A avó de Isabela morreu no ano retrasado e estar presente no velório da artista foi uma forma que ela encontrou de se conectar com a própria história.

“Eu acho difícil eu escutar uma música dela e não lembrar da minha avó e da minha família”, concluiu.

Mesmo após um ano da morte, Rita Lee segue em meio as mais variadas gerações fazendo "um monte de gente feliz".

Foto: Silvio Júnior

Rita Lee Jones de Carvalho faleceu aos 75 anos no dia 8 de maio de 2023, após ter enfrentado um câncer de pulmão, diagnosticado em 2021. A morte foi anunciada pela família por meio das redes sociais.

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