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Divulgação/SuperBike BR
Divulgação/SuperBike BR

No Brasil e no mundo, o esporte a motor passa longe de ser uma prática comum entre as mulheres. Mas há quem, desde cedo, acelere fundo para mudar esse cenário e aumentar de vez o número de meninas nos grids automobilísticos do país. É o caso de Letícia Kietis Vivolo, hoje com 16 anos de idade, que desde 2019 compete na Honda Junior Cup, categoria 'mirim' de motovelocidade do SuperBike Brasil.

"A primeira vez que fiz a seletiva eu tinha 14 anos, no ano que eu completaria 15. Inclusive, meu pai perguntou se eu preferia uma festa daquelas de princesa, vestido, bufê, ou começar a andar de moto. Aí eu preferi passar o ano inteiro pilotando do que ter só uma festa de debutante", contou a jovem pilota, em entrevista exclusiva à TV Cultura

Filha do casal Rita e Marcelo, que completa bodas de prata no próximo mês de junho, Letícia seguiu o exemplo do irmão mais velho Érik, hoje com 18 anos, que fez a seletiva e passou a fazer parte da Junior Cup ainda em 2018. "Ela ia como incentivadora, ajudava a calçar luva, colocar capacete, levava água. Quando chegou o processo seletivo, a gente perguntou: você quer fazer o teste, quer participar? Ela ficava quieta em relação a isso, mas a gente via o quanto ela interagia e estava se envolvendo", contou a mãe, Rita Vivolo.

"Meus pais perceberam meu interesse pelo esporte, mas desde sempre tiveram a preocupação de não ser algo forçado ou só porque meu irmão fazia também. Eles sugeriram que eu entrasse, mas desejavam que partisse de mim a iniciativa de participar", destacou a pilota. "Eu nunca tinha andado, mas já gostava muito do ambiente, de estar ali em família. Aí eu fiz a seletiva e, no segundo que subi na moto, fiquei simplesmente encantada. E desde então estou andando e adorando", completou.

Embora o esporte a motor seja praticado em maioria por homens, Rita e Letícia não escondem a satisfação com relação à receptividade no SuperBike Brasil. A prova viva foi um episódio em Goiânia, em que não faltaram mão estendidas após uma queda durante o percurso.

"Entre equipes, organização, pilotos, a aceitação é total. Não tem um 'ah, é menina'. Sobe lá, põe os equipamentos e vai. Acho que é muito mais da gente pensar que isso não é pra nós, do que propriamente o esporte não aceitar", destacou a mãe. "E vira mascote, né! Todo mundo ajuda, se a moto quebra todo mundo vai consertar. Às vezes, se um piloto cai, até reconhecer a moto e saber quem é, demora. Mas se é ela, com capacete rosa, cabelo colorido, todo mundo sabe", completou.

"Quando eu comecei a aparecer de macacão, todo mundo já puxava papo, perguntando como tinha sido o treino, como tava a pista", lembrou a filha. "Tem até uma história engraçada, da vez que eu sofri uma queda em Goiânia. Quando voltei pros boxes, tinha um monte de piloto esperando pra ver se eu estava bem. Todo mundo me procurou, e não necessariamente eram conhecidos. Foi bem legal", contou.

Sobre acidentes, algo que marcou as últimas temporadas do SuperBike Brasil, com inclusive mais de uma fatalidade, a jovem pilota até admite um certo receio, mas garante que, quando está em cima da moto, a concentração é total na pista. Do lado de fora, a mãe reconhece que a tarefa não é das mais fáceis, mas conta com a experiência de bastidores para superar qualquer tipo de preocupação. 

"Não é fácil ser mãe e ver os filhos passando a 180 km/h em cima de uma moto numa reta de Interlagos, o coração não é pra qualquer um!", afirmou Rita, aos risos. "O que ajudou foi conhecermos tudo juntos, como é cair, como é levantar, a competitividade, superar as dificuldades, já que é um esporte caro e tem pouca divulgação. Outras mães perguntam: eles têm carta? Como que pilota com menos de 18 anos? Tem criança que anda aos 8 anos! O fato de estarmos lá, vendo, acompanhando, nos deu o conforto de autorizarmos os dois a praticarem. Mas é difícil, você tem que ter consciência de que é um esporte de risco. As crianças são as primeiras afetadas", completou.

E se existe preocupação dentro da pista, fora dela a história é outra. Orgulho não falta à mãe dos dois irmãos, que se enche de prazer ao falar das notas 10 em matemática. Letícia faz o ensino médio em um curso técnico de eletrônica, e tem arquitetura e engenharia como possíveis caminhos profissionais. O sonho de seguir na motovelocidade, porém, também continua vivo.

"Inicialmente é um hobby, mas como sonho de qualquer atleta eu também gostaria de me profissionalizar, ter patrocinador e tudo", considerou a pilota, que está em sua última temporada na Junior Cup. Se quiser continuar a competir no SuperBike Brasil, Letícia sabe que não será fácil. Os custos de logística, mecânica e equipamentos são altos e, sem a ajuda de patrocinadores, complica ainda mais.

A discrepância entre homens e mulheres no automobilismo é outro fator a ser considerado, como aponta Rita. "As dificuldades são as mesmas. Posicionamento, aceleração, competição. Na pista, todo mundo é igual. Não é nem o caso de ter uma categoria específica. Só acho que em termos de incentivo, de patrocínio, até poderia ter uma premiação à parte. Pra um piloto conseguir o apoio de uma marca é difícil. Voltar esses patrocínios para as meninas talvez ajude até o próprio esporte no Brasil", disse.

E no lento processo para aumentar a porcentagem de mulheres no automobilismo do país, a grande responsabilidade de disseminar o esporte a outras jovens meninas naturalmente recai sobre as poucas que já o praticam. No SuperBike, Letícia se assegura de fazer a parte dela.

"Infelizmente por serem poucas, uma menina acaba conhecendo a outra, não precisa nem apresentar. Quando eu comecei, tinha só uma menina correndo", disse. "A tendência é aumentar o número. Tanto por mídia, Instagram, reportagem, mais meninas veem e mais meninas se interessam. Eu procuro sempre responder as duvidas de outras meninas, acho que uma incentiva a outra. Seja com amigas, crianças e até mesmo com outras pilotas do SBK", completou.