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Reprodução/Instagram NJ 10
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Uma declaração de Neymar, durante entrevista ao documentário “Neymar Jr. and The Line Of Kings”, gravada em abril, da DAZN, afirmando que a Copa do Mundo de 2022 deve ser a última de sua carreira, repercutiu na imprensa e reacendeu o debate sobre a importância da saúde mental dos atletas no esporte de alto rendimento. Nesta quinta-feira (14), o Brasil enfrenta o Uruguai, em Manaus, pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Qatar, e Neymar começou jogando entre os titulares, assim como aconteceu diante da Colômbia, na última rodada.

Hoje, o atacante, de 29 anos, é o segundo maior artilheiro da Seleção Brasileira, com 69 gols marcados, atrás apenas de Pelé, e o principal nome da equipe comandada pelo técnico Tite. Apesar de todo o status de craque e jogador “intocável”, Neymar justificou a possibilidade de não disputar a Copa de 2026 por não saber se terá “mais condições de cabeça, de aguentar mais futebol”.

O desempenho de Neymar, assim como o da Seleção Brasileira, vem sendo questionado nos últimos jogos. Pelo PSG, o rendimento do atacante também não é dos melhores neste início de temporada. Ele marcou apenas um gol, de pênalti, na partida contra o Lyon, pela Ligue 1. Diante disso, surge a pergunta, “será que as cobranças excessivas podem estar afetando o rendimento do camisa 10?” Para Thiago Silva, zagueiro da seleção brasileira, sim.

“Embora a gente sofra pressão de todos os lados, parece uma pressão pessoal sobre ele. Eu mesmo já fui chamado de chorão, psicologicamente fraco, coisas que sei que não sou”, afirmou o zagueiro, que relembrou o episódio que passou na Copa de 2014, quando se recusou a bater um pênalti contra o Chile, nas oitavas de final, em entrevista coletiva nesta terça-feira (12).

Durante os Jogos Olímpicos, o caso de Simone Biles, que decidiu se afastar de quatro finais em Tóquio, também levantou a discussão sobre as cobranças excessivas que os atletas sofrem no dia a dia. Após toda repercussão da decisão da ginasta norte-americana, a FIFA, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), lançou uma campanha para estimular os jogadores de futebol, principalmente os que estão nas categorias de base, a procurar ajuda em caso de problemas emocionais.

De acordo com a entidade, metade dos problemas de saúde mental, considerando a população em geral, aparece perto dos 14 anos. O estudo só reforça a importância das entidades esportivas investirem em equipes preparadas para lidar com o emocional dos atletas, sobretudo os mais novos.

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Na opinião de Júnior Chávare, gerente de futebol do Bahia, atualmente o futebol brasileiro tem olhado mais para os departamentos psicossociais. “Para as instituições que trabalham sério esta questão, são setores, que envolvem a psicologia, tanto pessoal como esportiva, que são importantíssimos nas categorias de base. Por onde passei eu sempre trabalhei fortemente isso e não tenho dúvida que é fundamental”, contou.

No futebol, esse problema não aparece apenas nas categorias de base. Segundo um Estudo da Federação Internacional de Atletas (Fifpro), cerca de 23% dos jogadores em atividade têm transtornos do sono, 9% relataram que sofrem de depressão e outros 7% apresentam sintomas de ansiedade.

Para Marcelo Segurado, executivo de futebol, com formação em sociologia e geografia pela Universidade Católica de Goiás, a importância dos psicólogos, em função das cobranças serem cada vez maiores, é tão grande quanto a do preparador físico, nutricionista, entre outros membros dos clubes. “A saúde mental é tão importante de ser promovida, monitorada e tratada quanto a saúde física. Sabemos que jogadores e treinadores precisam estar fortalecidos mentalmente e com o bem-estar preservado para conseguirem desempenhar bem suas funções”.

No Brasil, o Fortaleza é um dos clubes que tem um departamento voltado para dar suporte emocional e psicológico aos atletas no dia a dia. No clube, há duas psicólogas responsáveis por esse trabalho, a Liana Benício, para a base, e a Nara Alciane, para o profissional.

“O Fortaleza busca ressignificar a ideia ultrapassada de que a psicologia está ali apenas para trabalhar com o problema. Devemos ser vistos como um agregador no grupo como um todo, que direciona seu trabalho no rendimento, foco, atenção, trabalhando as habilidades e demais fatores que tragam bom retorno à prática. A psicologia no contexto esportivo propõe entender como fatores psicológicos influenciam diretamente o rendimento do atleta”, comenta Nara.

A psicóloga do Leão do Pici ainda acrescenta que trabalhar com pessoas requer muita sensibilidade e que ainda existem algumas resistências, fruto de uma cultura que por muito tempo se fez presente, de que estar em acompanhamento com a psicologia é algo negativo. “Há uma sensibilização de que podemos auxiliar no desenvolvimento de habilidades e assim estamos ganhando novos espaços. A psicologia tem direcionado sua prática em atendimentos individuais, se fazendo presente em treinos, jogos e atividades que os envolvidos estejam inseridos”, finaliza.

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, acredita que os Jogos Olímpicos deixaram um legado sobre a importância dos atletas cuidarem, acima de tudo, da saúde mental. “É fundamental ter esse alinhamento entre corpo e mente preparado e ter profissionais especializados, porque a psicologia esportiva é um ramo bem específico, de alto rendimento, de competição, de lidar com seus medos e com seus traumas. Os Jogos de Tóquio acenderam um debate importante, que deve fazer com que as instruções esportivas em geral, tenham um olhar mais apurado para esse assunto”, concluiu.

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