Washington Júnior é um paratleta brasileiro que aprendeu desde cedo a levar as adversidades da vida com leveza e um sorriso largo no rosto. Uma má formação congênita no braço direito não o impediu em momento algum de sonhar em se tornar um jogador de futebol de sucesso. Muito veloz e habilidoso, buscou durante toda a infância uma oportunidade dentro das quatro linhas.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Washington conta sobre sua infância e a busca por uma chance no esporte.
“Eu sempre fui um menino apaixonado por esporte. Pratiquei capoeira, boxe, mas meu sonho mesmo era ser jogador de futebol. Eu procurava peneiras para eu fazer, mas era muito difícil de encontrar, principalmente por conta da minha deficiência. Aos poucos, eu fui perdendo o brilho nos olhos pela bola”.
Apesar do desânimo com o futebol, não foi fácil largar o esporte. Em mais um dia de “pelada” na vida do carioca, o atletismo voltou a aparecer para Washington.
“Uma colega da minha mãe trabalhava em um projeto social chamado ‘Correndo para o futuro’, que proporcionava treinos de várias modalidades. Mais uma vez, eu fui atrás do futebol. E, de novo, me decepcionei”, explica.
O paratleta, então, ouviu o conselho dos pais e foi fazer um treino de atletismo por ser um esporte parecido com o futebol em relação à velocidade e resistência. Logo se destacou, mas explica que embora tenha gostado do atletismo, ainda não era apaixonado e, por isso, não ia a muitos treinos.
“Eu comecei a treinar, a fazer amizades e fiquei mais motivado com o esporte. Mas, eu ainda via como uma brincadeira. Sentia dores, era longe da minha casa e eu acabava desanimando”.
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Segundo ele, um dos pontos principais para manter o interesse no esporte foi o desejo de fazer uma viagem para disputar competições.
“Eu via meus amigos saindo do treino e pegando as malas para viajar para São Paulo, para Curitiba, e me dava vontade de fazer a mesma coisa. Eu percebia que tinha potencial, então fui perguntar para o treinador o que eu precisava fazer para viajar para campeonatos. Na época, meu professor disse que eu estava no caminho certo e só precisava vir mais aos treinos para que uma oportunidade dessa surgisse”.
No fim do mesmo ano, o carioca viajou com sua equipe para São Paulo, para a disputa dos Jogos Escolares. Mesmo ainda adolescente, os resultados foram surpreendentes e o corredor assume que esse foi um momento de virada de chave na sua carreira.
“A partir deste campeonato, eu não parei mais de competir. Com os bons resultados, eu me empolguei e assumi a modalidade para a minha vida. Além disso, eu estava em um momento de transição de categoria de base para o esporte adulto e eu entendi que meu foco e determinação deveriam ser voltados exclusivamente para o atletismo”.
Rapidamente, o corredor alcançou resultados surpreendentes na modalidade. O Brasil é referência na classe T47, categoria de Washington, e com apenas 17 anos ele saiu de sexto lugar do ranking brasileiro para quinto melhor do mundo.
Em seguida, disputou o Campeonato Mundial Júnior, na Rússia, e foi campeão dos 100 metros rasos. Entretanto, por conta de uma sequência de lesões, ele não conseguiu seguir performando bem nas pistas.
Sem conseguir se recuperar, o carioca ficou de fora das Paralimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, e diz que, na ocasião, pensou em largar o esporte.
“Eu cogitei parar de correr. Eu iria correr na minha cidade. Meus amigos e familiares poderiam me ver correndo pessoalmente, então isso me abalou demais. Tudo conspirava para ser a competição da minha vida, mas não foi como eu esperava”, pontua.
Quando tudo parecia estar decidido na cabeça de Washington, o paratleta recebeu um convite inesperado.
“Eu nem olhava meus e-mails. Pensei: ‘vou fazer uma limpa aqui e apagar’. Quando eu acessei a caixa de entrada, tinha um convite da Seleção Brasileira para eu começar a treinar em São Paulo. Isso foi Deus na minha vida. Se eu não recebesse uma motivação desse nível, eu teria largado o esporte”, diz emocionado.
Com o suporte dado pela Seleção Brasileira, nada mais seria capaz de atrapalhar os planos do corredor. Desde 2019, ele tem se mantido dentro do Top 3 da classe e, com isso, é considerado um dos maiores atletas da história do paratletismo.
Em 2021, a oportunidade de ouro de sua carreira. O brasileiro se qualificou para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. No outro lado do mundo, o carioca foi medalha de bronze. O tamanho da conquista fica ainda maior quando se descobre todas as dificuldades que apareceram nessa trajetória.
Poucos dias antes de embarcar para o Japão, Washington testou positivo para a Covid-19. Faltando apenas dois dias para o último embarque, o brasileiro finalmente “negativou” e conseguiu ir para os Jogos.
O atraso na chegada atrapalhou completamente o planejamento do paratleta. Sem o tempo certo de adaptação, o corredor ainda teve problemas no cadastro de atleta, o que o atrasou ainda mais. Apesar de todas as dificuldades, conseguiu se classificar para a final da classe.
Entretanto, poucos minutos antes da largada, ele percebeu que tinha perdido as sapatilhas de corrida. Não dava tempo de buscar outras. Washington correu a final olímpica com uma sapatilha emprestada, três números maiores do que a dele.
Claro que isso não tiraria a medalha do carioca. Desde cedo, desistir não foi uma opção para ele. 10.68 segundos depois da largada, Washington venceu mais uma batalha e garantiu a medalha olímpica de bronze.
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