O dia 1º de maio de 2024 marcou os exatos 30 anos da morte de Ayrton Senna, um dos maiores nomes do automobilismo brasileiro. Sua partida precoce chocou fãs ao redor do mundo.
Tricampeão da Fórmula 1, aos 34 anos, Senna colidiu com a Williams FW16 a mais de 300 km/h e bateu na barreira de concreto da curva Tamburello, durante o circuito de San Marino, em Ímola, marcando para sempre a história do automobilismo.
Ao longo deste ano, diversas homenagens ocorreram por todo o país. Uma das mais emocionantes foi a do piloto Lewis Hamilton, que dirigiu a lendária McLaren MP4/5B no Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, homenageando o brasileiro com o carro usado em seu bicampeonato na temporada de 1990.
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Além desse tributo, outros eventos também se destacaram, como uma exposição imersiva que revive sua carreira e vida pessoal e, talvez a mais aguardada pelos fãs, a minissérie da Netflix retratando os bastidores de sua trajetória.
Mesmo após tanto tempo de sua morte, Senna continua sendo um ídolo que inspira novas gerações, muitas das quais sequer o assistiram correr, conhecendo-o apenas por seus feitos. Para entender mais sobre seu legado, o site da TV Cultura conversou com Geferson Kern, jornalista e narrador da Fórmula Indy na emissora.
A relação de Senna com o Brasil e sua importância para os torcedores
“O torcedor brasileiro gosta muito de torcer, mas eu acho que ele tem uma necessidade maior de ver que o cara por quem ele está torcendo vai ganhar, ainda mais quando supera um perrengue. Isso ajuda a explicar o fenômeno Senna”, afirmou Kern.
Ayrton representou o Brasil em um período de dificuldades econômicas e políticas, quando o país saía da ditadura e passava pela transição para a redemocratização. E o futebol, principal esporte do país, vivia uma fase complicada.
“Inclusive, o Senna fez aquele gesto memorável no dia seguinte à eliminação do Brasil diante da França na Copa de 86, onde ele venceu uma corrida e, pela primeira vez, pegou a bandeira do Brasil. Tudo isso contribuiu para torná-lo um símbolo nacional, inspirando as pessoas”, completou.
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Representatividade das vitórias no GP do Brasil de 1991 e 1993
Em 1991, Ayrton já era campeão mundial e considerado o melhor piloto do mundo, mas ainda não havia conquistado uma vitória no Brasil. Já em 1993, protagonizou uma corrida emocionante, marcada pela vitória sob chuva intensa.
“Foram duas vitórias sensacionais. Em 91, ele perdeu as marchas e terminou só com a primeira e a sexta. Uma corrida que estava na mão dele e acabou se tornando um drama. Já em 93, venceu em um carro muito inferior ao da Williams, que era sensacional. Eu acho que a grande realização foi essa, o cara consegue ganhar e ganhar numa situação dramática e adversa”, disse Kern.
O Brasil teve outros campeões na Fórmula 1, como Emerson Fittipaldi (1972 e 1974) e Nelson Piquet (1981, 1983 e 1987), que abriram caminho, mas não alcançaram o mesmo impacto nacional que Ayrton.
“O Senna surgiu numa época em que o caminho havia sido preparado por Emerson e Piquet, e foi a época mais favorável de todos eles em questão de TV ao vivo, de cobertura de jornal. Isso foi muito importante”, disse.
“Outra parte importante é a do perfil. O Senna tinha essa coisa meio mística e religiosa, tinha todo um perfil para ser um herói nacional, trabalhado pela mídia, sobretudo pela televisão e as pessoas gostam disso”, explicou o jornalista.
Sobre a tragédia
O Grande Prêmio de San Marino de 1994, realizado no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, na Itália, ficou marcado na história da Fórmula 1. Aquele fim de semana foi trágico, com uma série de acidentes graves, mas principalmente pela perda trágica do brasileiro.
“Imagine, diante de milhões de pessoas no mundo todo, o maior ídolo da época, o único campeão na pista, sofre um acidente fatal enquanto liderava uma corrida transmitida ao vivo. Isso obrigou a Fórmula 1 a repensar a segurança e garantir que algo assim nunca mais acontecesse”, comentou Kern.
O acidente trouxe mudanças significativas para a segurança do automobilismo. Desde ajustes nas pistas, para reduzir a velocidade do impacto, até o redesenho do cockpit, melhorias na estrutura dos veículos e nos equipamentos dos pilotos.
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Após 30 anos após sua morte, continua sendo um herói no nacional
“O Senna vivo já tinha todo o perfil de herói, e o contexto da época era favorável para isso. Ele tem uma história fantástica, sem dúvida, mas ao mesmo tempo também existe uma indústria em torno de sua figura, que o transformou em um mito e capitaliza com isso. Acho que isso é fundamental para ele continuar tendo fãs, inclusive entre pessoas que nasceram após sua morte”, analisou Kern.
O jornalista destacou que tudo o que já lemos e ouvimos sobre seus feitos como piloto é verdade. Contudo, desde sua morte, existe um trabalho de construção de imagem em torno dele e abordando uma linguagem que a maioria das pessoas gosta. "Não tem nada de errado com isso, mas existe uma indústria em torno do Senna, que vende os mais diversos produtos como camisetas, miniaturas, réplicas de capacetes, bustos e até minisséries".
“É por isso que o Senna é tão grande até hoje. Existe todo um trabalho de imagem, utilizando uma linguagem que a maioria das pessoas aprecia. Talvez, se algo semelhante fosse feito com outros personagens, alguns também teriam uma presença tão grandiosa quanto ele.”
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