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Desde o início do ano, as ações da resseguradora IRB Brasil acumulam queda de mais de 80% na bolsa de valores – ela perdeu mais de R$ 30 bilhões em valor de mercado no ano. Foi a maior perda percentual entre as ações listadas no Ibovespa, e pior até do que de empresas atingidas diretamente pela pandemia, como a Embraer. Logo, não é muito difícil perceber que o problema do IRB vai além dos efeitos relacionados ao coronavírus.

A empresa vive uma verdadeira tempestade perfeita. Chacoalhada por fraudes contábeis, informações enganosas dadas ao mercado e por problemas de gestão, o IRB virou, do dia para a noite, uma empresa cujo futuro é uma incógnita. A dúvida é se ela será capaz de se reerguer, ou se deve continuar patinando nos próprios problemas, a exemplo do que acontece com a Oi.

Pode me dar um pouco mais de contexto? Em fevereiro, ainda antes da pandemia chegar ao Brasil, um relatório da gestora Squadra abriu uma verdadeira caixa de pandora para o IRB. A resseguradora era vista, até então, como uma empresa extremamente bem-administrada, com números acima de suas concorrentes. No entanto, a Squadra levantou a lebre de que os dados operacionais divulgados pelos executivos da empresa eram bons demais para ser verdade.

Em um primeiro momento, o IRB negou as acusações e chegou até a registrar uma reclamação na CVM (Comissão de Valores Monetários) em razão do relatório. Em um segundo episódio, logo após o parecer da Squadra, executivos da empresa disseram, em uma teleconferência de divulgação de resultados, que a Berkshire Hathaway estava comprando uma participação na resseguradora. Dias depois, a gestora controlada pelo megainvestidor Warren Buffett desmentiu a informação.

A partir daí, a trajetória do IRB foi ladeira abaixo. Uma auditoria externa identificou uma série de irregularidades, desde a prestação de informações contábeis falsas até o pagamento de bônus de forma irregular a executivos.

“A empresa fez uma série de auditorias para as questões contábeis, investigou as informações inverídicas prestadas ao mercado e afastou executivos e conselheiros. Ou seja, ela parece ter tomado medidas para lidar com os ‘esqueletos no armário’, mas a governança e a transparência da gestão do IRB ainda são pontos complicados”, diz Daniel Herrera, analista da corretora Toro Investimentos.

A empresa conseguiu, mesmo, corrigir o passado? Alguns problemas contábeis parecem ter sido encaminhados. As auditorias mostraram que os números de sinistros dos seguros estavam sendo subdimensionados e, por isso, o IRB fez uma enorme compensação no balanço do segundo trimestre de 2020.

“O resultado do trimestre veio abaixo das expectativas, principalmente devido à elevada sinistralidade. Ainda, seu valor de mercado em relação ao patrimônio parece bastante esticado, principalmente quando se considera o cenário para a lucratividade da companhia e a revisão de números que ela terá que fazer”, escreveu Luis Salles, analista da corretora Guide, em um relatório.

Em outras palavras: as ações do IRB continuam caras, mesmo após uma queda tão colossal, considerando que não é possível saber se toda a correção feita foi suficiente para apagar o histórico ruim de gestão.

O problema de confiança vai além do passado. O setor de seguros é altamente complexo, e cada seguradora tem um cálculo diferente para estimar quantas apólices se transformarão em coberturas pagas aos clientes — ou seja, quantos dos seguros distribuídos serão acionados. Se a empresa tem um histórico de manipulação contábil, confiar nas estimativas de cobertura e sinistralidade é uma questão-chave.

Qual o limite para a desvalorização das ações? É difícil dizer. Por não saber onde, exatamente, está o fundo do poço, os analistas continuam recomendando cautela aos investidores. “Infelizmente, ainda há uma crise de confiança, pois não dá para ter certeza que tudo foi passado a limpo. Será que a partir de agora números vão refletir o desempenho operacional, ou será que a empresa continua não sendo transparente? Não dá para saber ainda”, pondera Herrera, da Toro.

Embora o resultado do segundo trimestre tenha tentado corrigir erros anteriores, faltou transparência sobre a situação do balanço patrimonial e sobre a capacidade de geração de caixa da empresa. Por isso, é difícil ter certeza de que o resultado do terceiro trimestre será melhor.

“Quando a taxa de sinistralidade for parecida com a que é vista em outras empresas do setor e quando as provisões por sinistros antigos acabarem, vamos poder voltar a calcular um preço justo pelo IRB”, diz o analista da Toro.

O IRB pode acabar como a Oi? Quem vê a trajetória do IRB pode até se lembrar do trágico caso da Oi. Envolvida em investigações criminais, inclusive da Lava-Jato, mergulhada em uma dívida enorme e com diversos problemas de patrimônio (como uma rede de orelhões que custava muito, e dava zero retorno), a empresa de telefonia nunca conseguiu se reerguer. A história deve ter algum desfecho agora, com as negociações da Claro, Tim e Vivo para a compra de parte da Oi.

“Nesse momento, a trajetória do IRB é, sim, um pouco parecida com a da Oi, principalmente no quesito de transparência operacional e de governança. Mas acho que a recuperação da resseguradora tende a ser melhor”, opina o analista da Toro.

Ele lembra que, apesar de toda incerteza que permeia o IRB, a empresa não está endividada, e está mais bem posicionada no segmento em que atua, o que indica que, caso consiga fazer a lição de casa, ela poderá voltar a ser lucrativa. “É claro que há esse momento de ruído, mas uma vez que tivermos certeza que dê para confiar nos números que o IRB reporta, a situação vai ser diferente”, diz Herrera.