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Engin Akyurt/Pixabay
Engin Akyurt/Pixabay

Com casos de infecção identificados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em pelo menos oito países, a variante do coronavírus descoberta em Manaus tem preocupado especialistas. 

Embora os estudos no Brasil ainda estejam em andamento, a suspeita é de que a mutação seja semelhante às que foram encontradas no Reino Unido e na África do Sul: uma versão do vírus que se mostra mais contagiosa e com potencial de escapar à resposta imune de quem já teve Covid-19 ou recebeu a vacina.

"A variante de Manaus é considerada uma variante de preocupação porque ela tem mutações em regiões [do vírus] que a gente sabe que podem influenciar tanto a transmissão quanto a neutralização por anticorpos", explica Flávia Marquitti, pesquisadora associada ao Observatório Covid-19.

Para Flávia, a transmissibilidade alta é um dos fatores mais preocupantes. "Quando é mais transmissível, o negócio é muito rápido. [...] Se escapa do sistema imune ainda por cima, como temos razões para suspeitar que possa estar acontecendo, as pessoas que já foram contaminadas, quem você achava que poderia frear um pouco [a pandemia], ficam de novo suscetíveis", alerta.


"A situação de Manaus pode não ser atípica", diz pesquisadora

Com a rápida disseminação da nova variante, colapso do sistema de saúde e a falta de oxigênio para pacientes nos hospitais, a capital amazonense tornou-se uma das regiões mais afetadas pela crise da Covid-19. Para a cientista, é importante lembrar que o caso de Manaus pode se repetir em outros locais do Brasil.

"Manaus estava muito aberta, muito relaxada. Na crença de que estavam já na imunidade de rebanho (ou imunidade coletiva), muitas pessoas mudaram seu comportamento na pandemia. [...] Não sei se esse é o caso de São Paulo, mas ainda assim, São Paulo tem muita gente. É um lugar onde você tem 'muita madeira para queimar', explica.

Semanas antes da sobrecarga dos sistemas hospitalar e funerário, Manaus registrou protestos contra o fechamento de comércio e restrições de circulação. De acordo com Flávia, essas medidas são necessárias em situações como da capital amazonense: "[Manaus] precisaria ter um certo lockdown lá sim, porque lá o vírus está se espalhando muito rápido. É um combustível: quanto mais gente na rua, mais aquilo se espalha." Ela também avalia que cidades que têm muito contato com Manaus devem adotar restrições com urgência.

Apesar de impopulares em muitos setores da sociedade, medidas restritivas têm o papel fundamental de reduzir a velocidade de contágio, defende a pesquisadora. "O problema é que quando a gente não faz o lockdown, ou faz essa coisa que a gente chama de lockdown, que só restringe um pouco as medidas, essa variante vai chegar com tudo. [...] Essas medidas muito restritivas, as pessoas falam que não funcionam no Brasil, mas elas também não funcionam porque não se tenta convencer a população de que aquilo pode trazer um benefício dali 15 dias, dali três semanas, seja lá o tempo que você fizer isso", pontua.


Cuidados individuais

Quem desrespeita as normas de proteção contra a Covid-19 não arrisca apenas a própria saúde e a das pessoas em seu entorno: pode contribuir também para o surgimento de novas variantes do coronavírus.

"As variantes surgem o tempo todo, mas elas surgem muito mais quanto mais pessoas estiverem infectadas", explica a cientista. "Falta essa conscientização das pessoas. Quando elas ficam em casa, quando elas se cuidam, usam máscara, ficam em lugares mais ventilados, você tem uma menor produção de variantes".

Embora a nova variante aparentemente seja mais transmissível, as vias de transmissão e as formas de se prevenir não mudaram, explica Vitor Mori, pós-doutorando na Faculdade de Medicina da Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19. Para ele, é essencial reforçar os cuidados e conscientizar a população sobre medidas de redução de danos, isto é, diminuir ao máximo o contágio em situações em que o isolamento total não for possível.

Segundo o cientista, há um foco excessivo e desproporcional na desinfecção de superfícies e no uso de álcool em gel, considerando que a maior parte do contágio não ocorre por essas vias: "A infecção acontece principalmente pela inalação de pequenas gotículas e aerossóis que ficam em suspensão no ar. Então, não é a maçaneta, não é a batata palha do mercado, não são os objetos que te colocam em risco. São as pessoas no seu entorno, as pessoas que estão infectadas, que têm o vírus no corpo e podem passar esse vírus adiante".

Para o pesquisador, a ênfase em limpeza de superfícies pode causar uma falsa sensação de segurança e deixar a população desatenta a perigos muito maiores, como ambientes fechados, proximidade entre as pessoas e a rejeição ou uso incorreto das máscaras. "A gente está muito preso a protocolos do começo da pandemia, que estão muito defasados", afirma.

"Se você pode ficar em casa, fique o máximo que conseguir; se não puder, vá para um espaço ao ar livre, priorize ambientes bem abertos: parques, praças, feiras livres; se você não consegue evitar espaços fechados, procure os que sejam bem ventilados, amplos, e que tenham pouca gente; em último caso, caso precise ir para um espaço fechado, aglomerado, redobre a atenção com o uso da máscara e o distanciamento", orienta o cientista.

"Nada é risco zero. Não tem como garantir que você não vai se infectar, o que a gente pode dizer é: tal local é mais ou menos perigoso, tudo é em termos relativos", diz Mori. Para quem quer se exercitar, por exemplo, praticar atividade física em lugares abertos apresenta um risco extremamente baixo de infecção em comparação a uma academia tradicional, fechada. "As transmissões ocorrem majoritariamente quando a gente tem contato face a face, a uma distância pequena e por um período prolongado. O risco de um ciclista ou alguém caminhando na rua passar por você e te infectar é muito baixo. [...] O risco maior ao ar livre é você encontrar um amigo e vocês conversarem próximos um do outro, a uma distância menor de 1m, 1,5m, por um período prolongado", explica. 

Ele destaca a importância do uso de máscaras de boa qualidade: "A gente deveria estar pelo menos discutindo usar máscaras melhores, não só máscaras de pano. [...] Na Europa, em locais fechados e mal-ventilados, comércios e transporte público, está sendo exigido o uso de uma máscara profissional, do estilo N95. Então, a gente poderia investir na produção desse material, na distribuição, torná-lo acessível para todas as pessoas, fazer uma comunicação da importância de se utilizar esse equipamento em locais de risco, como utilizar corretamente, como fazer a reutilização etc". 

Mori também critica as restrições de locais abertos em medidas de controle da pandemia: "Vejo muito pouco sentido em fechar parques, por exemplo. Poderíamos incentivar as pessoas a frequentá-los e, mais do que isso, abrir mais espaços de lazer ao ar livre no final de semana, até para diminuir a concentração de pessoas nos parques. [...] Quando a gente fecha um parque, as pessoas vão ficar em casa ou vão procurar alternativas de lazer? Será que elas não vão se encontrar na casa de um amigo, por exemplo? É uma medida que acaba sendo contraproducente".

A avaliação de Flávia Marquitti é similar: "Não sou cientista social, mas entendo esse ponto de 'tem que fechar tudo, inclusive os parques, senão as pessoas começam a fazer festa nos parques', eu entendo esse lado. Mas, de fato, eu acho que você deixar o shopping aberto, mas o parque fechado não faz sentido nenhum".


Controle do contágio

Segundo Flávia, outro ponto importante para controlar a pandemia é garantir a vigilância genômica - isto é, o acompanhamento do contágio e das mutações sofridas pelo vírus: "A vigilância genômica requer que você faça sequenciamento, mas é uma coisa cara, e no Brasil a gente não faz muito por isso também". 

"Quando não se faz sequenciamento, é essencial se identificar os casos suspeitos de reinfecção. Se o indivíduo fala que já teve [Covid-19], tem um exame que prova que ele já teve, e tem de novo, é essencial você ter essa informação para você poder suspeitar que talvez tenha uma nova variante que está escapando da resposta imune. É uma informação muito valiosa que a gente precisa acompanhar", explica.

Para ela, governos precisam estar atentos aos alertas da ciência e tomar medidas proporcionais à situação da nova onda de infecções. "É preciso sim estar preocupado com essa nova variante e os governos têm que tomar atitudes à altura. Talvez as medidas que estavam em vigor no ano passado não sejam suficientes para este ano. É preciso considerar que essa variante tem um potencial de transmitir muito mais rápido", conclui.