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O número de empresas oferecendo planos de assistência médica para animais de estimação não para de crescer

Assim como cresceu o número de pessoas que adotaram cães e gatos durante a pandemia, subiu também a adesão desse público a um produto que até bem pouco tempo atrás não tinha relevância: os seguros-saúde para animais.

De nicho de mercado a objeto de desejo de donos de animais, só no ano passado, os seguros veterinários tiveram alta de 16%, segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados).

As seguradoras que oferecem esse tipo de plano acumularam um prêmio (o valor pago pelo segurado para a companhia) de R$ 14, 8 milhões – um crescimento expressivo sobre os R$ 12,7 milhões de 2019. Em 2021, os números continuam crescendo no mesmo ritmo: a quantia chegou a R$ 3 milhões, de janeiro a março, 16% maior que o registrado nos mesmos meses de 2020.

Além das tradicionais seguradoras, como a Porto Seguro, outras resolveram se arriscar nesse novo campo: Youse, Santander, HDI. Até o braço de seguros do Carrefour lançou um plano de assistência pet.

Existem dois tipos básicos de seguro pet. O mais tradicional é aquele que você compra exclusivamente para benefício de seu animal. Pela lei, é igual ao seguro de um carro. Só que o bem segurado é seu cachorro ou gato.

O outro é a cobertura adicional que vem junto, por exemplo, com um seguro pessoal, de carro ou residencial. A pessoa contrata o seguro para a casae “ganha” assistência para seu doguinho.

Os dois funcionam de modo parecido: têm uma rede credenciada de clínicas e serviços e um limite de uso, estipulado em reais, na apólice.

“Normalmente, o dono liga para um telefone da empresa para saber onde seu animal pode ser atendido”, explica Diana Bueno, sócia-fundadora e presidente da Pet Assist, uma empresa que oferece dois serviços: uma espécie de seguro de vida para cães e gatos (a empresa adota o pet no caso de morte ou invalidez permanente do tutor – e o bicho vai morar num sítio especial, em Itu).

O segundo serviço é uma opção adicional para quem contrata seguro de vida: para os tutores que quiserem, a Pet Assist também oferece assistência saúde.

“Na pandemia, infelizmente, muitos donos morreram. E os animais ficaram desamparadas pois nem sempre tem um parente disposto a adotar o cão ou o gato”, conta Diana.

Mas quanto custa essa assistência?

Na Pet Assist, o plano mais barato (sem a assistência saúde), sai por R$ 19,90. Com o seguro veterinário, passa para R$ 63,80. Os preços variam conforme a idade do bicho e do dono.

O Porto.Pet, o plano de saúde criado pela Petlove e Porto Seguro, tem atualmente 41 mil pets ativos na carteira de beneficiados. As mensalidades variam de R$ 99 a R$ 370. Os planos são divididos em três categorias:

  • Ambulatorial: com consultas, principais vacinas, atendimento emergencial, exames laboratoriais e exames simples de imagem. Este plano também se estende aos pets idosos, com mais de 10 anos.
  • Essencial: também tem consultas com especialistas, cirurgias (inclusive castração), internação, exames cardiológicos e de alta complexidade e check-up anual.
  • Completo: Inclui tudo e tratamentos complementares, como fisioterapia e acupuntura.

O Carrefour, por sua vez, cobra a partir de R$ 37,08 mensais (o valor varia também conforme a idade e o tipo de animal). O plano básico abrange:

  • Consulta emergencial (até R$ 200 por evento)
  • Atendimento ambulatorial (até R$ 500 por evento)
  • Exames de imagem e laboratorial (até R$ 600 por evento)
  • Auxílio-funeral (até R$1.000 por evento)

Mas vale a pena?

A veterinária Flávia Kulikovsky tem uma clínica em Higienópolis, em São Paulo, que atende alguns convênios. “A veterinária avançou muito nos últimos anos. Existem agora vários exames que se pode fazer no animal para descobrir o que ele tem e ter um plano de saúde que cubra esses testes pode ser uma boa”, afirma.

Mas para o veterinário Felipe Carvalho, que já trabalhou em hospitais para animais que atendiam por meio de seguro-saúde, depende muito do contrato.

“Quando a cobertura é maior e abrange especialistas, os donos ficam muito mais tranquilos. O estresse era maior quando o atendimento era feito de madrugada. Muitas dessas empresas não têm plantão ou têm poucos funcionários para aprovar a solicitação de atendimento no meio da noite. Então, um atendimento que precisava ser na hora, muitas vezes precisava ser atrasado por conta disso”, lembra ele.

Num dos hospitais que trabalhou, 60% dos atendimentos eram feitos por meio de convênio. “Como o hospital era novo, embora o pagamento pelos procedimentos fosse pouco, ajudou a empresa a se estabelecer e formar clientela. Aos poucos, o hospital vai deixando de atender”, conta ele.

Mas para a veterinária Daniela Mol Valle, também de São Paulo, esses planos não são boa opção nem para o profissional nem para o dono. “O proprietário do animal não consegue selecionar onde quer ser atendido. Precisa ir à rede credenciada pela empresa. E nem sempre tem o veterinário que a pessoa gosta. As empresas prometem muito e não cumprem nada”, diz ela.

Para Daniela, vale mais a pena o dono fazer uma “poupança pet” guardando todo mês um valor até menor que a mensalidade que as seguradoras cobram para quando for preciso usar.

E para as empresas, vale?

Um dos seguros mais rentáveis do mercado é o de automóveis. Mas com a pandemia e muitos carros ficando na garagem, o faturamento do setor caiu cerca de 2% no ano passado, segundo entidades da área. Isso força as companhias a procurar novas fontes de renda.

“Esse setor pet vem crescendo muito e os seguros vêm tendo uma grande aceitação do público. Mas o formato ofertado deve mudar bastante”, diz o professor José Varanda, da Escola Nacional de Seguros (ENS).

Isso porque, segundo ele, há uma sinistralidade bem alta. Trocando em miúdos: dos R$ 3 milhões arrecadados em prêmios pelas empresas de janeiro a março deste ano, foram pagos – em benefícios – R$ 2,8 milhões. “É uma taxa de sinistralidade de 96%, o que é muito alta. No ano passado, ela foi em média de 49%”, afirma Varanda. Esse percentual de 96%, se mantido, pode inviabilizar o negócio para as seguradoras.

Por que as pessoas usaram tanto os seguros que fizeram para seus animais de estimação esse ano? Perguntadas, seguradoras como Itaú e Porto Seguro não quiseram falar sobre o assunto. Varanda acha que pode ter a ver com o fato de as pessoas estarem experimentando um serviço novo.

“Acredito que se essa sinistralidade continuar alta, as seguradoras vão preferir trabalhar com cobertura pet como uma assistência adicional, e não como um produto único”, diz o professor.

Leia a apólice

A melhor dica, então, antes de fechar contrato, é ler toda a apólice e tirar suas dúvidas com o corretor – e um veterinário – antes de assinar qualquer coisa. Faça simulações de atendimento, por exemplo. Quanto você gastaria para manter seu cão sem precisar de uma cirurgia? E quanto custaria uma operação, se ela fosse necessária? Ter esses preços em mente ajuda muito na hora de tomar a decisão.

E se você contratar um seguro e tiver problemas?

Nesse caso, quem regulamenta esse setor não é a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), como acontece com os planos para humanos. É o Código de Defesa do Consumidor (Procon), a Susep e também o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), que atuam com regras e órgãos reguladores de seguros pet.

E para quem não tem a quem recorrer?

Existem hospitais veterinários universitários e públicos que podem ajudar, como os da Anhembi Morumbi, Universidade de São Paulo, Unisa, UNG, FMU. UNIP e Unicsul, na Grande São Paulo. Como a procura é grande, é importante chegar cedo.